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How AI can help us all lead happier lives
Outro termo que é atropelado e tropeliado a cada esquina sem dó nem piedade é “inovação”. Porque parece que há quem não perceba o que “inovação” quer propriamente dizer. O termo tem etimologia no latim innovatio (não se espantem, isto até a wikipédia diz) e significa criar algo novo (ideia, processo, aparato) que se distingue do que antes existia, mesmo se pode resultar da combinação de elementos antes já conhecidos. Mas é algo que difere do que já foi feito.
Assim sendo, quase tudo o que vejo ou ouço tratar nos dias que correm como “inovação” não o é, não passando de “repetição” (repetitio), mais ou menos cosmetizada ou envernizada apressadamente. Mais do que voltar a fazer o que foi feito, servem-me como vnoas fórmulas há muito testadas e praticadas. Não é por terem sido abandonadas tais práticas ou abandonados os objectos que a sua reutilização ou recuperação se torna “inovação”. Não é porque recombinamos graficamente os procedimentos de planificação, implementação e avaliação de um dado “projecto” ou “actividade” que eles se tornam “inovadores”.
Tudo bem, podemos passar de uma grelha quadriculada para um fluxograma um determinado processo, mas isso não traz qualquer “inovação pedagógica”. Não é porque se apresenta a coisa numa app ou programa mais recente que ela se torna nova. Um lifting ou uma injecção de botox deixa a senhora (ou senhor) com a mesma idade, apenas muda a sua “aparência”. E nem sempre para melhor.
Por caridade, não me cansem com banha da cobra como se fosse toda uma new school. O marketing está bem pensado em termos de repetição (hoje levei com outra apresentação que nem tirou lá em cima a tarja do pafismo educacional, mesmo que estreitinha e discreta), mas só engole quem é muito verdinho nisto ou já foi atacado pelo senhor Aloísio (e agora? vá de correr ao google…). Ou já está por tudo, desde que se calem antes de falecermos de tédio.
Não sou o mais rigoroso defensor da utilização de terminologias fechadas ou hiper-especializadas, mas cansa-me ouvir a utilização de certos termos de modo generalista e conforme as brisas e oportunidades. Hoje, um deles foi “tecnologia(s)” com o “nova(s)” apenso ou não.
Ora bem… em relação à Educação (como a tanta outra coisa há milénios) existem “tecnologias” pelo menos desde (ou mesmo antes) que o primeiro primata atirou com um pau ou pedra a outro para o afastar de algum fruto apetitoso. O biface foi a tecnologia de ponta (literalmente) no Paleolítico Médio. As “novas tecnologias” existiram sempre e sempre foram ultrapassadas por outras “novas” algum tempo mais tarde. O pergaminho demorou a tornar-se arcaico na Europa como suporte da escrita, mas a dada altura o papel era o que de mais moderno se poderia achar (menos no caso dos chineses que o fabricavam há século).
A roda dentada foi uma inovação tecnológica e a sua aplicação aos aparatos destinados à medição do tempo trouxe os relógios até ao final do século XX, quando os mecanismos digitais se vulgarizaram.
Na Educação, pelo menos desde as últimas décadas do século XX, as “novas tecnologias” sucederam-se a um ritmo cada vez maior e a sua popularidade e “domínio” foram-se tornando progressivamente mais efémeros. O retroprojector e o projector de slides eram a grande moda nos anos 70, quando fui aluno e ainda nos primeiros anos como professor. A partir daí foi sempre a acelerar.
Por isso, talvez porque já vi muita coisa passar-me diante dos olhos, guardo o entusiasmo qb para cada “nova tecnologia”, mesmo no mundo maravilhoso do “digital” e observo com a devida contenção as excitações alheias com o mais novo zingarelho ou app. Em especial quando sei que a degenerescência dos equipamentos está programada e “descontinuidade” dos componentes uma certeza. Até à próxima geração “tecnológica”.
(calma, a imagem não é qualquer piada subliminar à parlamentar de quem o Livre desconfia)
A intervenção, esta manhã, de Daniel Susskind no Fórum Educação e Mudança centrou-se em especial nas consequências dos desenvolvimentos tecnológicos na erosão da segurança e do valor dos empregos de “colarinho branco”. Tanto como isso, preocupa-me o fenómeno colateral da substituição dos trabalhadores especializados por uma classe que ele designou como de “para-profissionais” que, não detendo uma formação específica em data área, consegue realizar parte das “tarefas” com a ajuda de ferramentas de Inteligência Artificial.
Em relação à Educação, acerca da qual me pareceu que ele se sentia menos confortável quando lhe foram colocadas questões, notei em especial na insistência recorrente em que as melhores soluções são as que conseguem uma maior eficácia e melhores resultados. E esse argumento foi repetido em várias respostas. O que, num contexto de debate em torno de “mudança” e “educação” é uma mensagem completamente contrária à que temos ouvido em muitos “especialistas” e nos responsáveis políticos, mais interessados em sublinharem as questões do “processo” e não tanto dos “produtos”. Nem sequer estou a afirmar que concordo ou discordo do homem, apenas que se notou claramente que o seu foco é nos “resultados” e não me parece que sejam daqueles medidos na base da autoavaliação ou da avaliação interna toda contentinha consigo mesma.