Inspiracional (Ou Não)

Leiam, leiam muito. Hoje foi a vez de ouvir a Olga Pombo com um testemunho nas fronteiras dos de Marçal Grilo e Maria do Carmo Vieira em outros sábados. Até pode ser em pdf, embora eu vá morrer a preferir o papel e o objecto físico.

Neste caso, em vez de optarem por pauloscoelhos ou derivados, tentem achar este pequeno livrinho (em português está esgotado) de alguém que, em 1995, com 43 anos e uma vida no mundo do glamour parisiense (editor chefe da Elle), sofreu um AVC de tipo muito raro que lhe destruiu quase por completo o tronco cerebral, deixando-o apenas com a possibilidade de piscar o olho esquerdo, quando saiu de 20 dias de coma. Vítima do locked-in syndrome (ou pseudocoma) conseguiu comunicar o suficiente para dar testemunho de parte dos seus dois últimos anos de vida sem pieguice quase nenhuma.

É leitura para uma tarde de sol ou chuva e para nos fazer repensar aquilo que pode ser (ou não) um qualquer amanhã. Pelo que devemos defender quanto podemos o que nos deixa sãos e afastar com firmeza as influências tóxicas.

E sabe bem quem me conhece que eu discordo do “a vida é curta não te chateies”, preferindo o “a vida é curta, não me chateiem!”

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A Ler

Leitura muito interessante (e cuja referência agradeço à AC) para quem fala muito em “mudanças de paradigma”.

Mudança na permanência em educação: Os agrupamentos de escolas e a reemergência do sentido identitário

(…)

O agrupamento emerge, assim, como um chavão conceptual, uma realidade sombra que serve fins essencialmente racionalizadores, mas que é secundarizado ou mesmo descartado enquanto contexto real de escolarização. No fundo, quando tudo parece mudar no interior da instituição escolar – gestão, liderança, avaliação, relações de poder, trabalho em rede, articulação organizacional –, o peso da “forma escolar” impõe-se como pilar estruturador das representações e das práticas.

(…)

A heterogeneidade dos contextos que compõe o agrupamento desafia a sua governação quotidiana, exigindo uma estrutura de gestão em rede, processos de organização do trabalho mais descentralizados e de proximidade às escolas agrupadas. Porém, perante uma instituição cada vez mais plural, instituiu-se um modelo de gestão singular, personificado na figura do Diretor. A malha de atuação alarga, mas o exercício da gestão estreita. E no centro desta dissonância ressurge mais um sloganno léxico educativo – a liderança enquanto radar capaz de tudo transformar, incluindo a cultura e a identidade do agrupamento. Mas até que ponto será possível, no contexto de um (mega)agrupamento, desenvolver uma efetiva liderança para além do mero exercício de gestão (Bush, 2019)? Não estaremos, uma vez mais, a recorrer a uma “anda conceptual” para retratar uma realidade que já não existe? Ou se existe, em que termos se expressa e a partir de que mecanismos?

Funil

Sociologia Superficial Do “Mau Ambiente Vivido Nas Escolas”

Há teses que, de forma recorrente, voltam à baila por falta de melhores pensamentos. A guerra velhos/novos, em especial quando quase não há novos é ridícula. Até porque mesmo alguns de meia idade estão mais velhos do que os velhos e os velhos são por vezes bem mais jovens do que os mais novos. Há uns anos levei o José Ruy (já na altura com mais de 80 anos) a fazer uma palestra sobre BD à miudagem de 10 anos e acreditem que há quem, com 30, 40 ou 50 tenha muito menos capacidade comunicativa e pedagógica.

Uma tese, com algum fundamento, mas que dificilmente se pode considerar que é apenas agora que acontece, é que a ADD está a contaminar as relações no interior das escolas, agora que o descongelamento começou a revelar as injustiças do “modelo”. Sim, tem o tal fundamento, mas se só agora deram por isso, onde andam desde 2008?

Temos ainda a questão da “inovação” da “flexibilidade” e da capacidade de uns se adaptarem ao que se diz serem as “pedagogias do século XXI” e os mais resistentes à coisa de alinharem com as prédicas do SE Costa e seus clones que por aí andam. Nas últimas semanas ouvi pelo menos duas prelecções (uma feminina, outra masculina) que parecem decalcadas do mesmo molde e que, no fundo, contribuem para azedar os espíritos, ao exigirem sempre mais dando em troca apenas umas palmadinhas nas costas. Sim, esse tipo de discurso, quando replicado nas escolas e sustentado em práticas de certa forma “clientelares” tem criado divisões perfeitamente desnecessárias, pois em muitas situações apenas temos quem opta por não fazer marketing do que é rotina há décadas.

Pessoalmente, acho que tudo desajuda, mais os reposicionamentos e ultrapassagens diversas, mas que o que acaba por envolver todos estes factores que, por si só, seriam insuficientes para o tal “mau ambiente” é um modelo de gestão que deixa a maior parte dos professores a sentir-se excluídos dos processos de decisão, mesmo quando é feita uma espécie de encenação de “participação”.

Quando comecei a dar aulas tive a sorte de não calhar em escolas “históricas”, daquelas em que certos “cadeirões” nas salas de professores tinham titulares reservados e em que havia “professor@s” e os “outros”, leia-se, efectivos de velha cepa e contratados em trânsito. Em que quem mandava eram pequenas cliques, podendo eventualmente existir alguma rotatividade, até porque existiram eleições a partir do 25 de Abril de 1974 e eu já cheguei bem depois disso à docência.

O que me custa é perceber que agora começam a avolumar-se os velhos “cadeirões” e que começam a enquistar-se feudos e coutos pelas escolas, em que alguns decidem por muitos e os mecanismos de “trabalho colaborativo” não passam de colocar uma correia de transmissão a fazer mover uma engrenagem de sentido único, em que se cristalizam clientelas.

Mas fala-se muito em “cidadania”, em “flexibilidade”, em “autonomia”. Mas pratica-se muito pouco uma verdadeira responsabilização e muito menos a confiança. E quanto aos “cadeirões” há uns que parecem tronos. E, isso sim, envenena qualquer ambiente em que uns passaram a ser ímpares porque deixámos de ser pares.

O resto são amendoins.

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Sábado

Tenho a sorte de, por causa de uma qualquer regra transitório que – por uma vez – não me lixa a vida, não precisar de fazer obrigatoriamente formação este ano. Mas isso não significa que não goste de aprender coisas novas pelo que aproveitei estes meses para fazer algumas formações pelas quais sinto interesse e não necessidade administrativa. É realmente uma sorte porque se pode escolher aquilo de que se gosta. E, de caminho, aprender alguma coisa. No caso das formações presenciais, há sempre em mim uma componente de “observação antropológica” porque não há nada tão parecido a alunos quanto os professores em termos de atitude, quando sentados do lado de lá das carteiras. Há os que tudo apontam e estão ali de alma e coração, há os que nunca se lembram de desligar o telemóvel, há os que não perdem o vício de fazer observações sardónicas/pretensamente espirituosas (o meu caso, confesso, quando as oportunidades surgem ali a saltar mesmo em frente) e há os bons e velhos casos de “engraxanço” ao pingarelho, de quem está mais preocupado em ir dizer ao “shôtôr” o que os outros meninos fizeram (ou não) do que em aprender qualquer coisa de novo para, por exemplo, apurar as suas qualidades pessoais e profissionais.

Como escrevi, tenho a sorte de, por estes tempos, poder escolher aquilo a que assistir, mesmo que tenha de fazer dezenas de km pela manhã. Ou a não assistir se outras prioridades (como a família) se “alevantam”. Já fiz uma online sobre gestão de dados de investigação (que, claro, não tem certificação que conte para a progressão na carreira porque os professores básicos não investigam), estou a fazer outra sobre ciberbullying e mais esta em que aproveito para fazer oficiosamente observação participante, ao mesmo tempo que ouço, com regularidade, que me fazem revisitar coisas boas ou, pelo menos, interessantes. É aquela onde há graxistas que me fazem revisitar os bons velhos tempos de aluno.

E é por aqui que começa a tal “desunidade” em que há mais gente a preocupar-se com @ vizinh@ que a ninguém incomoda (ou ultrapassa ou tira o lugar no estacionamento) do que consigo.

HermanAttenb