Metem-me sempre impressão as formações da doutora cósmica aprovadas e certificadas pelo centro do doutor trinitário. Devo ter faltado às aulas de ética aplicada do doutor juiz vitelino.
Dia: 27 de Fevereiro, 2020
Sim, Descobrimos O Caminho Marítimo Para A Índia, Em Busca De “Cristãos E Especiaria”, Mas Acabámos Falidos E Nem O Camões Deixou Descendência Para Ganhar Com Os Direitos De Autor Da Epopeia Maior
Tenho sempre um problema fundamental com o uso e abuso demagógico da História para efeitos de agit-prop. Neste caso é por causa da questão do “digital” na Educação. Como se meia dúzia de “salas do século XXI” equivalessem a chegar a Calecute, João Couvaneiro vai por ali abaixo e esquece-se que se o Gama conseguiu glória, honrarias e extensão generosa para o título majestático de D. Manuel, não é menos verdade que a meio do século XVI estávamos falidos e que países que pouco ou nada descobriram souberam ser empreendedores de outro modo (Holanda, só para dar o exemplo de um pequenito em extensão) e conseguiram manter-se ricos desde então. Embora eventualmente com poetas de menor qualidade.
João Couvaneiro in JL/Educação, 26 de Fevereiro de 2020
Não é que eu ache que a grande Poesia valha menos do que uma balança comercial razoavelmente favorável desde o século XVII, mas talvez fosse bom irmos além da superfície dos chavões históricos.
E depois, claro, lembro-me sempre do Magalhães e do duplo inconseguimento, seja o do próprio Fernão, frechado ao serviço de Castela na ilha de Máctan, seja o do aparato digital dos tempos dos engenheiro e seu muito mitigado aproveitamento pedagógico.
(ninguém está contra o uso de tecnologias que há quem use antes dos concursos para professor do ano, apenas contra um certo deslumbramento meio apatetado que por aí anda…)
Meu Caro Filinto, Andas A Ver O Filme Quase Às Avessas
Como o título da prosa remete, de forma que me parece evidente (mesmo se há um outro principal visado no texto), para um texto meu publicado há menos de duas semanas, gostaria de fazer alguns reparos sobre o que fica escrito, pois me parece que quem anda a abrir a porta à intromissão de não-professores nas escolas é quem está a aceitar sem grande resistência a “descentralização de competências” que coloca a direcção dos agrupamentos e escolas na dependência directa das autarquias, para além da já existente em relação ao ME.
Claro que falo por mim, que há muitos anos (vai para uma dúzia e o Filinto sabe bem o que eu disse num congresso da andaep) estou contra este modelo de gestão e defendo o regresso à possibilidade – repare-se que é a mera possibilidade – de existir uma direcção colegial e eleita como equipa por toda a comunidade escolar. O Filinto sabe que eu conheço o modelo, pois estive a presidir a um Conselho Geral durante meia dúzia de anos, até achar que a reforma a partir de dentro se vai tornando praticamente impossível.
Vamos lá então ler partes da argumentação do colega director Filinto Lima, que aprecio pessoalmente, mas a quem já disse sem filtros ou intermediários que ele e tantos outros deveriam ter a coragem de voltar a dar aulas. Escreve ele:
Queremos ter nas escolas uma administração e gestão por nomeação política? Queremos ter gestores como diretores nas nossas escolas sem experiência de docência? Eis algumas das questões essenciais e às quais urge dar respostas ponderadas e justas.
Não, não queremos, mas quem é que está, na prática, a deixar cristalizar uma situação em que @s director@s cada vez estão mais distantes do exercício efectivo da docência? Para quando um estudo sobre o tempo médio de permanência no cargo d@s director@s em exercício? 10 anos? 20 anos? Ou ainda mais? Qual a mediana e a moda da distribuição? Sim, entraram uns quantos depois de 2008, mas esses podem ficar, como os anteriores, pelo menos até 2025. É muito tempo. E o facto de se desenvolverem formações específicas para as “lideranças” cada vez as afastam mais dos professores comuns. A “gestão escolar” é cada vez mais uma função distinta de ser professor. Sim há quem tenha já sido professor. Mas quando?
Sim, o Filinto tem uma certa razão na ferroada que espeta no líder da Fenprof ao afirmar “recuso veementemente o pressuposto de que falte “gestão democrática nas escolas” e estranho tal declaração quando o responsável máximo da entidade que a expressa tem sido sucessivamente eleito por delegados representantes de sócios”.
Mas seria interessante que as organizações representativas d@s director@s (Andaep, Ande, Conselho de Escolas) dessem um exemplo de que estão claramente contra o modelo único de gestão e que tiram consequências do que fica escrito:
(…) queremos ter nas escolas uma administração e gestão por nomeação política? Queremos ter gestores como diretores nas nossas escolas sem experiência de docência? Com a extensão do processo de descentralização a todo o país, desejamos correr o risco da aplicação imposta dos “jobs for the boys”?
Não queremos, nós, a maioria dos professores nas escolas. E, pela parte que me toca, estou farto de avisar que o actual modelo de gestão se adequa que nem uma luva à subordinação hierárquica unipessoal. E que a municipalização trará isso em larga escala. Mas tenho pregado para a parede.
Se o Mário Nogueira (que não é nomeado, mas que é que está a ser visado em parte da prosa) anda a tentar fazer prova de vida com petições que podem acabar mal, é questão pela qual só ele e quem o mandou eleger se poderá responsabilizar, quando ainda há pouco tempo mandava desconfiar de iniciativas deste tipo, por abrirem a porta a mudanças imprevisíveis e indesejadas.
Mas, é por isso mesmo que a Andaep, a Ande e o Conselho de Escolas deveriam apresentar propostas suas, detalhadas, claras e abertas ao regresso do modelo colegial e à eleição pelos pares.E teriam o meu – ínfimo – apoio e aplauso.
Em vez de se lamentarem se algo se passar de mau. E se a imparidade aumentar.
Violência, Indisciplina, Etc
O meu depoimento completo (embora esteja quase todo transcrito) para a peça do Educare sobre o tema.
.O número de agressões contra professores dentro da escola está ou não a aumentar?Não é possível dar uma resposta rigorosa por diversas razões relacionadas com os métodos e critérios de recolha e tratamento deste tipo de dados. Se em termos mediáticos tem havido um maior noticiário sobre o tema, em termos de proximidade a minha experiência é a de que este fenómeno se tem mantido, só que antes com menor divulgação. Os números “oficiais” parecem indicar uma redução das ocorrências, mas os critérios de recolha dos dados nem sempre são os mesmos e, muito em especial, os critérios para a sua comunicação por parte de escolas e professores estão longe de ser uniformes. porque aquilo que é considerado importante numa escola ou agrupamento nem sempre é tratado da mesma forma em outro. Conheço casos pela comunicação social que têm traços de menor gravidade do que outros que conheci de forma directa ou por testemunho pessoal de quem esteve envolvido. Há casos não reportados por embaraço de quem esteve envolvido, por estratégia da gestão da escola de não criar alarmismos ou mesmo de receio de represálias...O que se está a passar? A falta de valorização da classe docente contribui, de alguma forma, para a perda de respeito por parte de quem agride os professores?O que se passa quando existem agressões físicas ou verbais a professores é a erosão do civismo mínimo de parte da população. Claro que não ajudou termos governantes ou comentadores na comunicação social a amesquinhar durante anos os professores acusando-os das maiores tropelias, grande parte delas absolutamente imaginárias, desde o desprezo pelo sucesso dos alunos até ao egoísmo de quererem receber “retroactivos”. A última década foi fértil nesse discurso anti-professores, assim como a presente omissão dos governantes desta área tem contrastado com a dos seus pares na Saúde ou Justiça. Claro que existem docentes com práticas que podem merecer crítica, mas o recurso à intimidação e à violência é o sinal de uma sociedade em que os valores da cidadania estão em perda...Quais as medidas que devem ser tomadas? O que fazer? De que forma deve o Ministério da Educação atuar?A questão não se resolve de forma simples ou rápida. E não deve ceder a imediatismos demagógicos ou limitar-se a intervenções esporádicas. O mais importante seria que o Ministério promovesse, de forma activa, um programa de sensibilização parental para o respeito pelos professores.E que as associações representativas dos encarregados de educação com maior intervenção na comunicação social não surgissem, em regra, mais preocupadas em apontar as falhas do que em elogiar os méritos. Como encarregado de educação que também sou não me sinto “representado” na generalidade das intervenções feitas pelos que se apresentam como representantes oficiais das organizações parentais, pois parecem só conseguir apoiar os professores a contragosto.O problema da falta de civismo está longe de se circunscrever a este ou aquele grupo social, pois existem práticas de bullying contra os professores (por alunos e pais) com origem em estratos que se sentem com uma condição superior e que tratam os docentes como uma espécie de assalariados seus.Isto significa que, antes de tudo, deveria existir o cuidado de não estar de forma permanente a apontar o dedo aos professores pelas eventuais falhas da Educação, negando-lhes quase sempre a responsabilidade pelos méritos. Afinal, a melhoria dos resultados dos alunos portugueses nos últimos 25 anos, assim como uma série de transformações no funcionamento das escolas, aconteceu ao mesmo tempo que se sucederam inúmeros responsáveis políticos mas em que os professores permaneceram quase os mesmos. E isso nem sempre é devidamente reconhecido por aqueles preferem guardar os louros apenas para si.

5ª Feira
Socorro! Só hoje consegui comprar o Jornal de Letras (sim, tenho de comprar os jornais onde escrevo, descansem que não enriquecerei nunca) e vejo-me rodeado pela fina flor do establishment educativo costista. Mesmo quando escrevem coisas relativamente válidas (como a descrição feita pelo senhor professor doutor Verdasca do que lhe é dito pelos alunos), fico com a sensação de se ser um camelo na Antártida.