Tenho sempre um problema fundamental com o uso e abuso demagógico da História para efeitos de agit-prop. Neste caso é por causa da questão do “digital” na Educação. Como se meia dúzia de “salas do século XXI” equivalessem a chegar a Calecute, João Couvaneiro vai por ali abaixo e esquece-se que se o Gama conseguiu glória, honrarias e extensão generosa para o título majestático de D. Manuel, não é menos verdade que a meio do século XVI estávamos falidos e que países que pouco ou nada descobriram souberam ser empreendedores de outro modo (Holanda, só para dar o exemplo de um pequenito em extensão) e conseguiram manter-se ricos desde então. Embora eventualmente com poetas de menor qualidade.
João Couvaneiro in JL/Educação, 26 de Fevereiro de 2020
Não é que eu ache que a grande Poesia valha menos do que uma balança comercial razoavelmente favorável desde o século XVII, mas talvez fosse bom irmos além da superfície dos chavões históricos.
E depois, claro, lembro-me sempre do Magalhães e do duplo inconseguimento, seja o do próprio Fernão, frechado ao serviço de Castela na ilha de Máctan, seja o do aparato digital dos tempos dos engenheiro e seu muito mitigado aproveitamento pedagógico.
(ninguém está contra o uso de tecnologias que há quem use antes dos concursos para professor do ano, apenas contra um certo deslumbramento meio apatetado que por aí anda…)
Penso que este texto é sobre o VAR avariado e as novas tecnologias na doutrinação. Junto estas notas:
Fake not fake
O VAR não salvou as equipas portuguesas da sua completa aniquilação.
A geração mais bem preparada da História não salvou o futebol português da extinção. O VAR apenas testemunhou.
O país que se gaba de exportar treinaodores não consegue ter sentados no bancos treinaodores encartados. O VAR confirmou.
Pensávamos que a ausência de um ministro na Educação se devia à sua constante presença no desporto. Afinal também não era essa a vocação, dado que os testes do pisa-papéis apenas confirmam que sofremos cada vez mais (golos) em comparação com turco-manos, cranianos e ex-coceses. O golaVARage não perdoou.
O professor Nogueira foi à porta do vaixá xingar: “Ó aVARisto tens cá disto?”, terá gritado enquanto carregava caixotes de postais indignados (a indignação era visível na cara dos caixotes). Teria sido mais eficaz deixar um post it cor-de-rosa no pára-brisas? Sim, mas o efeito para a multidão que só confirma a existência de Nogueira nestas imagens de VAR seria menos eficaz. É para isso que serve o VAR: confirma que há duas equipas em campo quando de outro modo não se perceberia.
Colombo descobriu a América. Se tivesse um VAR, ou mesmo um GPS, teria enfim chegado à Índia. Ter-se-ia talvez poupado o triste estado em que as duas se encontram actualmente, povoadas por tribos fascistas disfarçadas de coisa democrática.
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a personagem do velho do Restelo é suficientemente ambígua para ser caracterizada só na perspetiva que vingou daquele que resiste à mudança, sendo um conservador. Se esmiuçar a personagem, também está caracterizado aquele que cinicamente conhecendo a matriz cultural do povo, sabia que qualquer beneficio seria para alguns e o prejuízo para os do costume…
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