Excitações Digitais

Há quem já ande por aí com uma excitação imensa acerca da forma como tudo poderá ser feito pelo modelo 2.0 da tele-escola como se em todo o país ou em todos os lares estivesse instalada banda larguíssima ou como se a infoexclusão não fosse a par da fragilidade económica de boa parte da população. Quem come um bife tende a pensar que todos também o comem, mas não, há grandes assimetrias que só quem não conhece o país fora do seu quintal (hélas, auto-ironia) pode ignorar. Ou, a outro nível, como se os putos já fizessem ideia do que é um mail. Vai ser preciso explicar-lhes primeiro isso de forma analógica. Há quem confunda o uso algo acrítico de redes sociais e competências digitais. Os putos já nasceram com o chip, na óptica do utilizador, mas não é bem o mesmo.

Claro que podemos ir combatendo isso e ir avançando, mas… vai haver quem não possa pagar a factura da altice, da vodafone, da nos, etc, etc… e há quem precise de uma imersão na realidade de um país que anda a diferentes velocidades. Há quem não entenda que ainda há muita gente que não anda com zingarelhos 27G por aí e não tem net em casa.

 

telefone

Phosga Que Há Cada Doid@ ! – 7

Mais recebido às 19.09 de hoje por mais de 30 colegas de um agrupamento com muita flexibilidade. O destaque é meu, pois a 12 horas de distância, não sei se não terá sido por causa de algum telefonema assim a modos que atrasado dos serviços do ME. Enfim… desde que não sejam voluntários à força…

Caros colegas,

No âmbito das medidas extraordinárias e de carácter urgente de resposta à situação epidemiológica do novo coronavírus, a escola-sede do Agrupamento de Escolas de [….], encontra-se requisitada para acolher filhos de Trabalhadores de Serviços Especiais, entenda-se filhos de médicos, enfermeiros ou outros profissionais de saúde, bombeiros e polícias.

A partir de amanhã, na escola-sede, deve haver um número mínimo de docentes que assegure o apoio às crianças, que dele vier a necessitar. Neste sentido, solicito que, no mais breve curto espaço de tempo, informe se pretende ser um dos voluntários.

Neste momento, cada um de nós é fundamental nesta luta.

Aguardo uma resposta.

Obrigada.

A Diretora,

[…]

Coelhorelogio

O Que Está A Faltar…

… é a equipa da Educação se deixar de telefonemas emanados dos serviços com instruções que não deixam rasto e passar a colocar no papel orientações claras e corajosas acerca do que deve ser feito nas próximas semanas. O ministro fala muito em manter “a cabeça fria” e evitar os “excessos”, mas isso não significa a apatia e inacção que se parece verificar na 5 de Outubro.

Não sendo para já, há decisões a tomar acerca da realização ou não das provas de aferição e de eventuais alterações do calendários de provas finais do Básico e exames do Secundário.

Para já, é importante colocar algumas balizas ao que deve entender por “trabalho à distância” e do que pode ser entendido como “ensino à distância” para que não seja, em nome da “autonomia”, cada cor, seu sabor. E não incentivar práticas que possam ter irregularidades nos recursos usados ou nas metodologias de “partilha” de informações e estabelecimento de contactos. Assim como explicar com clareza aos órgãos de gestão das escolas como podem ser tomadas decisões e com que limites, porque me parece que a deriva napoleónica é uma ameaça séria em alguns locais.

Questões relacionadas com métodos de trabalho à distância e avaliação dos alunos (ninguém fala da questão específica dos semestres, que não têm a avaliação da Páscoa) são competência dos Conselhos Pedagógicos e a articulação com a comunidade, no caso de uma interrupção longa, deve ser discutida e ratificada pelos Conselhos Gerais, por muito que os achem inúteis.

Seria ainda importante perceber se, por exemplo, os secretários de Estado estão de quarentena ou se estão a aplicar o princípio do tele-trabalho. E se há capacidade para ir além dos lugares-comuns dos dias de governação em velocidade de cruzeiro.

alerta

Conferências De Imprensa – 1

A da ministra da Saúde e da directora-geral da Saúde é a menos atabalhoada e mais clara e esclarecedora, com evidente redução daquelas tiradas mais patuscas ou algo incoerentes de outros dias.

Se o pico expectável da doença é em Abril, temos de começar a pensar melhor as coisas na área da Educação, em termos de calendário e não só. E não estar à espera até às últimas pois, por muito que se pretenda o contrário, vão existir desigualdades de acesso dos alunos a eventuais medidas de ensino à distância, do Básico ao Secundário (e Superior).

TV

Sobre Aquela Ideia De Abrir Escolas Em Todos Os Agrupamentos Para Os Filhos De Determinados Profissionais

No Notícias de Aveiro:

As nossas crianças não !

Por Carlos Cortes *

Carta enviada agora à Ministra da Saúde

“Exma. Ministra da Saúde,
Dr.ª Marta Temido,

Os profissionais de saúde, entre outros, estão na linha da frente do combate a esta calamidade de dimensão global. A situação de Portugal está cada vez mais delicada.

Os profissionais de saúde nunca estremeceram perante o perigo, em nenhum momento se amedrontaram e, apesar de saberem que podem ser os primeiros a ter contacto com o novo coronavirus COVID-19, assumiram plenamente o seu papel de tratar os seus doentes e de participar, desde a primeira hora, no esforço nacional.

Nunca baixaram os braços, mesmo percebendo que as autoridades deste país estavam, sobretudo na fase inicial, a ser negligentes na reação a esta pandemia. Desde a primeira hora, mesmo quando desvalorizou a ativação de medidas sérias e drásticas que teria sido ajuizado ter declarado mais cedo, foram sem hesitar para a frente de combate consciente que o país precisava agora deles, mais do que nunca.

Nunca demonstrou muita simpatia pelos profissionais de saúde. Nunca sentiram o seu apoio, nomeadamente nos momentos mais difíceis, quando mais precisaram.

Perante a coordenação desta crise que tem liderado, permitiu que os profissionais de saúde ficassem sem equipamentos de proteção, sem luvas, sem soluções alcoólicos e sem testes de diagnóstico. Nem vou enumerar o caos assistencial que estamos a passar, porque quero ter esperança que se venha a melhorar quando os procedimentos e circuitos forem aperfeiçoados.

Agora participou em medidas que felicito na sua globalidade. Uma delas, no entanto, causa-me uma profunda revolta de tão injusta e insensata que é.

“Decreto-Lei n.º 10-A/2020, artigo 10º

1 — É identificado em cada agrupamento de escolas um estabelecimento de ensino que promove o acolhimento dos filhos ou outros dependentes a cargo dos profissionais de saúde, das forças e serviços de segurança e de socorro, incluindo os bombeiros voluntários, e das forças armadas, os trabalhadores dos serviços públicos essenciais, de gestão e manutenção de infra-estruturas essenciais, bem como outros serviços essenciais, cuja mobilização para o serviço ou prontidão obste a que prestem assistência aos mesmos, na sequência da suspensão prevista no artigo anterior.”

2 — Os trabalhadores das atividades enunciadas no artigo anterior são mobilizados pela entidade empregadora ou pela autoridade pública.”

Esta medida não poderia estar mais errada. No plano humano, no plano da igualdade, no plano da solidariedade e no plano da estratégia da contenção do vírus e do funcionamento dos serviços de saúde.

Os profissionais de saúde, as pessoas mais expostas deste país, deverão deixar os seus filhos no mesmo estabelecimento de ensino para poderem estar todos ao serviço.

Já pensou na calamidade que pode criar se um destes pais, por contacto com um doente no hospital ou no centro de saúde, transmite a doença a um filho seu, esse aos seus colegas na escola e depois esses aos seus pais, aos professores…?

Já pensou que poderia pôr de quarentena centenas de profissionais e de pessoas com esta ideia irracional? Que está a criar vítimas desnecessárias? Porquê esta segregação?

Então não seria mais correto permitir que esses pais estejam com os seus filhos para depois poderem substituir os outros profissionais que ficarão exaustos perante este flagelo, criando necessários turnos nas unidades de saúde?

Faremos todos os sacrifícios! Colocaremos toda a nossa entrega. Estamos ao serviço do país e dos nossos doentes até à ultima gota da nossa força. Faremos os turnos que forem necessários.

Abdicaremos de tudo. Mas não nos peça que abdiquemos dos nossos filhos. Isso não seremos capazes. Não nos peça que, com esta medida insensata, coloquemos os nossos filhos em perigo e por seu intermédio os nossos colegas e outros profissionais. Não crie mais uma bomba-relógio com esta medida. Não nos peça este contributo irresponsável que irá esvaziar os hospitais de profissionais.

Esta não é uma solução. AS NOSSAS CRIANÇAS NÃO!

Continuamos cientes da nossa responsabilidade. Nunca iremos desistir até que esta calamidade esteja resolvida.

O país contará sempre com os seus médicos.

* Presidente da Seção Regional do Centro da Ordem dos Médicos.

Thumbs

Tem A Sua Graça

Pessoal incomodado por ver publicados documentos sem identificação de autoria ou sequer de que escola são, mas nada preocupado em recorrer a aplicações e redes sociais para formar grupos sem qualquer incómodo com as regras do RPGD (ou do bom senso), achando que podem ser desenvolvidas todas e quaisquer práticas de “partilha”. Sem sequer se interrogar se a idade dos alunos choca frontalmente com o recurso a certas “ferramentas” que ainda há pouco se vilipendiavam. Pessoal muito preocupado com uns despachos e umas portarias e nada com outr@s, incluindo leis e decretos. Se há coisa que não há entre nós é “pânico moral” como diz o outro do post mais abaixo, existe é uma evidente “crise moral” e ética (nem vale a pena falar da imensa hipocrisia) e não é de agora, Porque há quem, após provar o seu “poderzinho”, tende logo a ficar apanhado pela volúpia que ele transmite ao nível do “poder de mando”.

Napoleão Minion

 

Domingo

Pânico moral?

Não, não me parece. O homem fala muito à século XXI, mas convence-me pouco.

(…) acho que seria correto referirmo-nos ao que está a acontecer como uma epidemia cognitiva em oposição a uma epidemia imunológica real. Outro termo interessante seria “infodémico”. É também uma epidemia de informação. Portanto, podemos falar sobre muitos fatores: a Internet, a cultura do medo, a cultura do pânico. Mas o que primeiro me interessou sobre isso, como antropólogo cognitivo evolucionário, é que, como sabemos, os humanos têm esse viés de negatividade. Os seres humanos tendem a ser obcecados com qualquer coisa que transmita informações sobre ameaças potenciais por razões óbvias de sobrevivência. Como sabe, é melhor supor que um pequeno som de vibração num arbusto seja um tigre a vir na nossa direção, mesmo que na verdade não seja nada.

Nos arbustos aqui da aldeia não tenho muita tendência para imaginar tigres, confesso. Mas há uma piada antiga sobre o desejo de ser um coelhinho branco felpudo.

rabbit