UMA SEMANA POUCO SANTA
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Prudência, insegurança e, claro, o medo são superiores a qualquer preocupação com exames ou calculismos políticos alheios. Teria sido mais adequado deixar a data dos exames em suspenso e não surgir, como aconteceu com o ministro da Educação num programa matinal da TVI, a afirmar que, se for necessário, se realizarão os referidos exames em pavilhões ou espaços abertos, sem ser como piada de fraco gosto. Porque demonstra pouca sensibilidade e escasso senso em quem fez parte da sua carreira como cientista.
Como encarregado de educação, senti-me desrespeitado, e como professor algo embaraçado. Em termos humanos, foi uma declaração desastrada, mas que não me espantou muito depois de o ver estender a mão e cumprimentar o primeiro-ministro após a conferência de imprensa de 5ª feira.
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Dia: 13 de Abril, 2020
Dia 26 – A Semana De Todos Os Perigos
Deveria ter sido publicado ao fim da manhã, mas…
Depois dos ensaios das últimas semanas do 2º período, da chegada de documentação e recomendações diversas do ministério da Educação, dos avisos da Comissão Nacional da Protecção de Dados e da produção pelos agrupamentos e escolas de Planos de Ensino à Distância (E@D), entre outras peripécias que preencheram os últimos dias da tradicional pausa pascal, eis que chegamos à semana em que começarão a ser testadas as redes locais que foram sendo tecidas em tempo recorde para colocar professores e alunos em contacto no 3º período. Os tutoriais para uso das plataformas disponíveis começaram a circular embora, apesar de toda a boa vontade dos envolvidos, se saiba que a “formação” mais necessária seria a dos próprios alunos e muitas famílias, para não insistir nas que assim terão muita dificuldade em realizar tarefas e desenvolver aprendizagens significativas e passíveis de uma avaliação consequente conforme o desejo expresso do primeiro-ministro.
As soluções adoptadas começaram a concentrar-se num leque mais restrito das opções disponíveis, apesar de, pelos planos E@D que pude ler nos últimos dias, as metodologias de trabalho propostas estarem longe de ser uniformes. Umas vezes isso explicar-se-á pelos contextos específicos de cada comunidade educativa, mas em outros resulta de concepções muito diferentes do que deve ser um modelo de ensino/aprendizagem. Já vi grelhas de “aulas virtuais” que replicam quase fielmente o horário das presenciais e as que deixam uma relativa margem de liberdade a cada conselho de turma e docentes, atribuindo, por exemplo, um turno/dia a cada disciplina (Secundário) ou par de disciplinas (Básico) e deixando em aberto a forma de as desenvolver (sessões síncronas ou apenas horários de distribuição/recolha de tarefas).
Tudo é válido até prova em contrário, mesmo se há em alguns casos uma deriva para tentar decalcar o modelo presencial no modelo à distância. Não me parece que seja essa a melhor forma de desenvolver uma forma diferente de pensar a “Educação para o século XXI”, pois não basta adicionar o digital a concepções de fazer as coisas que são directamente herdeiras do modelo tradicional. Se queremos autonomia e flexibilidade, devemos ter confiança num modelo mais “aberto” e menos espartilhado do ensino, que permita aos alunos (em especial do 3º ciclo e do Secundário) seguirem ao seu próprio ritmo e não ficarem encerrados numa grelha saídas dos estágios das últimas décadas do século XX. Resta saber se quem tem o poder de definir alguns destes planos já aprendeu algo mais do que isso.
Phosga-se! – Série “E@D”
Isto agora vai ser como moscas no mel. Só um pequeno detalhe… em documentos públicos para enviar aos EE tentem lá (apesar da pressão) redigir melhor as coisas. Porque fica mal…
A Tele-Narrativa – 2
Eu em matéria de reinvenções prefiro aquelas que se fazem pelo exemplo e o que é chato é que a maioria d@s reiventor@s da roda têm tendência para serem péssimos exemplos disso mesmo. Basta ver algumas das apresentações/comunicações dos arautos da “inovação”.
E depois querem “toda a Escola Pública” a reinventar-se como se fosse mesmo isso o essencial. Não, lamento, mas não é. O que é prioritário é desenvolver a sociedade para que ela possa corresponder a um nível diferente de exigências que tem muita dificuldade em acompanhar. Basta ver as queixas ao fim de um mês de confinamento, sendo que duas semanas já seriam de férias para os alunos.
Uma “nova Escola Pública”? Deixem-me rir… vocelências sabem lá o que isso é em larga escala, fora dos vossos nichos e zonas de conforto
E se toda a Escola Pública usar o período da quarentena para se reinventar?
Quem não fez já um curso on-line sobre as ferramentas para as quais não tinham tido a formação e a preparação prévia necessária ou adequada, como o caso do moodle, zoom, classrrom [sic] , entre outras?
A Tele-Narrativa – 1
Não esbate nada de significativo. Encena a “universalidade” mas não garante nada de relevante aos que têm mais dificuldades, seja do ponto de vista das aprendizagens, seja do ponto de vista social. Vai “parecer” que em vez de “ser” mesmo alguma coisa. É melhor do que nada? Sim. Mas não comecem a embadeirar o arco antes da procissão começar a andar.
#EstudoEmQualquerLado – TIC – Lição 1
Porque muitos alunos, pelo que confirmei junto de colegas de várias escolas e níveis de escolaridade, precisam de umas noções básicas prévias, antes da abordagem dos componentes do hardware e das funcionalidades das app/do software.
- Nem sempre, em tempos de forte afluxo à net, tudo abre ao fim de 3 segundos. Controlem a impaciência, não precisam mandar logo um mail a dizer “setor@, dá erro/setor@, não consigo”. às vezes basta esperar, em outras carregar de novo a página.
- O underscore/sublinhado “_” não é o mesmo que o hífen “-“, embora possa parecer. Os pontos finais nos endereços de mail não estão ali apenas para enfeitar. Há palavras-passe em que é necessário colocar as letras maiúsculas mesmo em MAIÚSCULAS. O argumento “é o mesmo/é parecido” comove pouco os equipamentos.
- Em várias plataformas, há uns ícones muito simples (como se fossem uns jogos antigos) que permitem aceder a mais funcionalidades (pode ser um conjunto com 3 ou 9 pontos todos juntinhos, um sinal “+”). Não é necessário acharem logo que não dá para fazer o que lhes pediram ou as instruções que vos enviaram estão erradas. @s professor@s podem estar velh@s, mas não são tod@s parvos.
Em resumo, respirem fundo, não queiram tudo feito a correr porque, em regra, só perdem mais tempo e – pior – levam os outros a perder tempo a responder-vos a coisas muito simples.
Muit’agradecid@s.
Assinado: grupo de docentes arcaic@s.