O Educare ainda não publicou, mas eu gosto que o diário fique nos dias certos.
É natural que um regresso às aulas, mesmo se já estivéssemos na fase de planície alentejana do contágio pelo SARS-CoV-2, seria sempre estranho e em condições peculiares. Claro que as regras de segurança sanitária da DGS para o regresso terão de ser cumpridas de forma rigorosa. Mas, atendendo a todas as implicações para o que vai restar do quotidiano escolar presencial, será que compensará este regresso? Será que vai ser mesmo útil para os alunos? Para a economia, não sei, porque os alunos do Secundário já são crescidos e poderiam ficar em casa, enquanto os encarregados de educação vão regressando ao seu trabalho de proximidade.
As escolas estão a fazer os (im)possíveis por estabelecer protocolos de conduta para alunos, pessoal não docente e docente. Há planos de contingência, segurança e higiene com várias designações e muitas páginas, mapas com trajectos no interior dos espaços escolares, infografias diversas e horários e regras para o acesso (ou não) aos equipamentos desde a casa de banho ao bufete. A consulta de vários destes documentos, disponível online (o estranho é quem não o faz no actual contexto), ao fim de pouco tempo deixa-nos a sensação de que se está a planificar uma visita de estudo a Chernobyl e aos mares em redor de Fukushima. Parece tudo menos um “regresso à escola”.
Numa escola secundária do norte do país determina-se que “se algum elemento da comunidade escolar se apresentar sem máscara será fornecida uma máscara de acordo com as orientações vigentes”. Eu estava convencido que esse fornecimento era obrigatório à entrada para todos.
Apesar do cuidado em escalonar as horas de entrada e saída das turmas, a combinação dessa medida com a da permanência mínima dos alunos na escola em espaços comuns que não a sala de aula, faz-nos pensar quanto tempo será necessário para que umas poucas dezenas de alunos possam entrar na escola, respeitando as regras de segurança. Mas há escolas onde os atrasos não serão tolerados. Podendo ler-se nas instruções de uma localizada na zona da Grande Lisboa que se os alunos “não forem pontuais poderão não ter autorização para entrar na escola”.
Em algumas escolas, houve a capacidade de prever que os alunos precisarão de comer durante as três horas ou mais que vão ser obrigados a permanecer na sala de aula, pelo que numa se aceita que “excecionalmente, poderão ser consumidos alimentos (sólidos e líquidos) dentro da sala de aula no lugar ocupado por cada um. No final, devem deixar o espaço limpo”. Em regra, os bares dos alunos estão fechados e os refeitórios funcionam em regime de take away, pelo que servirão só os alunos dos turnos da manhã, pois há casos em que, para o turno da tarde, os alunos só podem começar a entrar 10-15 minutos antes da hora prevista para o início das aulas.
Na generalidade, existe a possibilidade de ida individual aos WC, até porque há casos em que “cada tempo letivo será de 150 minutos excetuando nas disciplinas de Filosofia e Inglês que são de 75m”. E 150 minutos é muito tempo. Num caso mais detalhado especifica-se que “a utilização das casas de banho será, também, de 1 aluno de cada vez aguardando os restantes com a distância de 1,5m a 2m entre si”, ficando por apurar quem irá fazer este tipo de verificação.
Para quem conhece como muitas coisas funcionam entre nós, fico curioso por saber quanto tempo será possível manter, sem disrupções de monta, este “regresso à escola”. Eu já comecei a cruzar os dedos porque cá em casa só eu não sou obrigado a regressar.