Dia 74 – Saturação

Agora já com o link para o Educare.

Na última conversa síncrona com os alunos da minha direcção de turma, foi notório o cansaço de todos com este modelo de E@D, não um cansaço físico ou intelectual com o excesso de tarefas, mas um cansaço nascido do que se tornou uma rotina que perdeu novidade, interesse e capacidade de os cativar. A pergunta feita mais vezes foi “quando é que são as matrículas?” ou “como são as matrículas para o ano?”, porque a cabeça da maioria já deixou este ano lectivo para trás.

Não é caso único, pois cá em casa existem três canais de informação em primeira mão sobre o que se passa nas escolas, para além de todas as conversas que se vão mantendo pelos canais digitais. E começam a acumular-se as evidências de que este “modelo”, que a alguns entusiasma, aos alunos nem por isso. E não há rap telescolar para os petizes ou gamificação das aprendizagens para os mais velhos que salve a sensação geral de desgaste. Sim, o ensino de base quase exclusivamente tecnológica e digital pode tornar-se tão ou mais aborrecido do que o presencial de recorte “tradicional” e talvez esta seja a conclusão que muita gente não terá coragem de assumir.

Depois das primeiras semanas de descoberta (apara quem já não as usava) de algumas novas ferramentas de trabalho, começou a instalar-se um efeito de repetição em que até o espaço da sala de aula começa a ser recordado com saudade pelos alunos que antes diziam detestá-la. Sim, o digital é menos interactivo do que o humano e essa é uma outra conclusão que poderiam fazer por não encobrir. Não há plataforma que chegue aos calcanhares de um professor mediano. E nem @ mais criativ@ d@s docentes em meios digitais consegue impedir que se instale uma evidente saturação com uma solução que poderá ser uma “alternativa” em tempos de crise, mas dificilmente o “novo paradigma” que melhorará o gosto dos alunos pela escola ou o seu desempenho.

É verdade que funciona bem como “tempero”, mas não satisfaz como prato principal.

Temos ainda mais quatro semanas para cumprir, em especial no Ensino Básico, num tempo cada vez mais penoso, pois todos sabem que, salvo excepções, para o ano teremos – se for possível o regresso em segurança ao modelo presencial – de fazer novamente boa parte deste caminho. O prolongamento do ano lectivo foi uma decisão que se revelou mais errada a cada nova semana que foi passando. Agora já só podemos mitigar s situação e fazer os possíveis por transmitir a esperança, que nem sempre temos, aos alunos de que para o ano será diferente. “Mas será melhor?” perguntam-me os mais perspicazes. E eu que nem conheço o emoji certo para o encolher de ombros com ar de quem não faz a mínima ideia, não tenho resposta.

diario

8 opiniões sobre “Dia 74 – Saturação

  1. Passa-se exactamente o mesmo com os alunos da minha direção de turma. Em quase todas as sessões alguém questiona quando volta a haver escola, como vão saber as avaliações etc etc. E não são “meninos bem”. Na maioria nota-se cada vez mais um desinteresse total pelas tarefas dadas pelos professores.

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  2. Excelente reflexão. Eu avisei que iria dar nisto…aqui um pouco mas noutros canais fui logo direto ao assunto. Vai saturar e vai ser contraproducente. Vai desgastar professores e alunos(disse logo em Março). Vai criar desmotivação e abandono comunicacional.
    Aliás eu tive umas discussões noutra rede social com uns grandes adeptos do E@D, quase nenhum especialista em nada para além do cartão rosa/laranja/whateva ou simpatizantes das TICs e os outros “especialistas” que encontrei nem sequer sabiam o que faz um learning designer. Alguns a defender esta “inovação”. Tive que lhes esfregar uns papers de 1997 na cara para se calarem com a treta do costume e o newness du jour. Até tive um gaijo que se apregoa de socialista dos sete costados (um assessor presumo do Siza) a ameaçar “se sabe fazer melhor então todas as sugestões são benvindas”. Eu só lhe disse que a pro bono nunca mais (uma decisão pessoal tomada em 2016) mas o meu email profissional é facilmente acessível pelo perfil se estiverem interessados. Até hoje niente.
    É bom que as cúpulas do ME leiam este e outros testemunhos. Porém, dos des-constructivistas só virá o pior. Mais do mesmo, com maior diferenciação , maior exaustão e maior desmotivação.

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  3. E como aguentar isto mais 4 semanas? Está mesmo a torna-se insuportável para todos, alunos, EE, professores. Devia sair uma petição a pedir para repor o calendário escolar inicial.

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  4. O António Costa Silva irá apresentar o plano estratégico para a educação. Aguardemos serenamente. O Nogueira ainda não declarou a sua indisponibilidade para conversas com ele o que é bom sinal.
    Além disso a questão fundamental é saber se vamos poder fazer de outra maneira no próximo ano. Gostar ninguém gosta, mas a pequenada também não manifestava agrado pela situação anterior. Eles a parte que gostam da escola é a molhada. As aulas, com ou sem écrans, ocuparão sempre o segundo lugar.
    A preocupação dos nossos maiores é com as tascas e com as redes de distribuição. Mas há que manter o optimismo porque os traficantes e os organizadores de raves manifestam resiliência e capacidade de inovação. A economia vai portanto reaquecer mesmo que a restauração falhe a retoma.
    Já se vão vendo turistas. Todos sem máscara. O que é fundamental para se reconhecer o turista e poder assim propor-lhe a mercadoria. Antigamente distinguiam-se pelas máquinas fotográficas. Hoje em dia é tudo telemóveis e já não se detectam tão facilmente.

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  5. Mais 4 semanas para básico, secundário e profissional.

    O problema é que não se analisa aquilo que se experimenta na área da Educação.
    Os egos andam cheios e nunca serão esvaziados.

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