Ganhou notoriedade por ser a primeira professora a aparecer na “nova Telescola” e aproveitou a oportunidade para elaborar alguns depoimentos e prosas acerca do seu amor pelo ensino e tal. Adepta do MEM, directora pedagógica de um “colégio” do concelho onde lecciono, apresenta uma atitude muito positiva acerca do ensino, o que lhe mereceu uma página inteira de vacuidades no JL/Educação desta semana, que degluti com o proveito do algodão liofilizado numa salada de frutas.
Agora teve direito a entrevista no Expresso e…
Diz-se professora de Português ou algo assim – ou diz que dá aulas – mas não gosta de ler. Gosta de ter livros na sua “pequena biblioteca”. Está no seu direito. Eu gosto de ler e de investigar em História e dou aulas da disciplina, mas sou um “modelo antigo”. Não sou formado em Línguas, mas adoro ler e não apenas ter livros. Tenho muitos, ao ponto actual do desespero para os mudar e arrumar de forma mais funcional, mas tenho uma mentalidade oitocentista, nada progressista tipo-MEM.
Eu acho que a colega directora pedagógica está bem, porque tem uma carreira de sucesso, com a chancela da escolha pela tutela, nomeadamente pelo nosso vizir da Educação que, talvez pela formação académica, perceba melhor esta forma inovadora de abordar o ensino daquilo de que não se gosta. É o predomínio da técnica sobre a substância, tão típica do século XXI. Desagrada-me um pouco aquele ar meio mal disfarçado de alguma superioridade pedagógico-táctica em quem vai tentar ler um livro, nem especialmente extenso ou complexo, durante todo o Verão. Ela vai tentar ler; é uma ousada desbravadora de territórios e arrisca-se a muito. Se calhar, até é mesmo o livro físico, que terá de agarrar e esfolhar com riscos evidentes para o seu bem estar físico. O que vale é que tem pouco mais de 150 páginas. E há passagens que até lhe poderão perturbar a sensibilidade. Não sei se repetirá. Eu, se fosse a ela, nem Paulo Coelho leria. Mas compraria uns livros dos tops e colocaria na estante da sala.
Eu acho que gente arcaica como eu, que gosta mesmo de ler e de aprender mais do que umas pinceladas mal amanhadas de teorias de complexidade nível 1 ou 2 (numa escala de 10) que depois se debitam como se fosse a apresentação de um trabalho de uma licenciatura em ensino do tempo em que ela andava no 1º ciclo (ou de quando eu andava na Primária, que foi muito antes), é que estamos errados. A vida seria muito mais fácil e pipilante se abraçássemos sem preconceitos o vazio como convicção, se nos limitássemos a replicar o que se ouviu (porque ler chateia) e se não tivéssemos a pretensão de avançar para algo diferente, em vez de envernizar o que está velho e bichado.
Já me tinham passado à frente umas personalidades deste tipo – lembro-me em especial do ar abismado daquele director que nem percebia a relevância de um par de filósofos para a Educação – mas penso que nunca com esta combinação de inconsciência e pretensão.
A sério, leiam a entrevista no Expresso e o depoimento no JL/Educação (onde se fica a saber que até está numa pós-graduação na Católica…) e terão o retrato dos professores “jovens” (atenção… não são todos os professores “jovens”, mas sim aqueles que têm o carimbo de qualidade da 5 de Outubro) que se pretende que venham a erguer uma “Educação para o século XXI”.
Já sei… eu não deveria ser assim tão crítico da colega (que até directora pedagógica e tudo, de um colégio de sucesso e tudo) e ser tolerante com as suas opções. Eu sei. Eu podia ser diferente mas, se o fosse, não seria a mesma coisa e para que serviria lerem-me. Para papagaios, há outros.
(imagem sacada no mural da Isabel Cluny)
Tem de terminar o livro até o fim do verão. Sim, porque isto de ler é mesmo para quando não se faz nada e nos estendem os na praia e ficamos sem saber o que fazer com as mãos. Pegar num livro por exemplo, enquanto o telefone não toca.
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Esta gente vota e até faz de conta que tem ideias e opiniões e dá palpites sobre o que é melhor para os outros e para os alunos. É esta gente que nos há-de atirar para um precipício.
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Paulo Guinote, compreendo-o, ser um leitor voraz implica muito sofrimento, sobretudo quando ouvimos e lemos tanta vacuidade de supostos pedagogos.
Ler esta passagem da entrevista da tal colega até arrepia!
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Que horror! ! ! Uma das coisas, que a escola do século XX me deu, foi uma enorme paixão por livros. Cresci sem os ter, porque não havia dinheiro para tal, mas sorvia tudo o que me emprestavam e ia ler na biblioteca. No ensino, enquanto consegui, sempre transmiti paixão pela leitura e posso dizer que durante anos os meus alunos apresentaram e partilharam o conteúdo de muitas obras, apesar de não ser professora de português. Nos últimos anos, tudo se transformou e a paixão foi-se!
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Preocupante esse “predomínio da técnica sobre a substância”, como o Paulo muito bem caracteriza a tendência do ensino destes tempos. Vou partilhar. Obrigada.
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Díficil remar contra a maré. Hoje nas escolas quem vinga por lá é o politicamente correto, ou não?
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https://www.brainpickings.org/2020/01/23/virginia-woolf-genius-and-ink-reading/
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Não leio o expresso.
Tinha ideia que a professora Isa era do 1º ciclo.
Não constitui nenhuma surpresa este pensamento em diretores pedagógicos privados. Basta ler o que escreve a diretora do Pedro Arrupe, no Observador, ou a entrevista da administradora dos colégios Park Internacional, que a dada altura foi por aqui mencionada (ou ainda no umbigo).
Aqui pelo Porto, também vão à Católica “aprender” a receita.
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“Who da fek is this asshole who calls herself a teacher?”
Acho que a senhora não conhece Ray Bradbury. Mas poderia conhecer. Se não tivesse uma pequena biblioteca. Diretora pedagógica? A definição tecnocrática ou helenista?
Realmente, a promoção dos idiotas continua a dar o triunfo aos porcos. 1984 razões para desprezar estes cuidadores da degradação cognitiva
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Talvez noutro Verão. MAs é melhor começar pelas Crónicas Marcianas ou ainda vai buscar o isqueiro.
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Sem palavras! Que terror!
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A leitura é a melhor professora de escrita, interpretação, espírito crítico, etc.
O mais espantoso não é a querida Isa , ou lá o que é, não gostar de ler (são tantos os casos!), mas não ter a p… da vergonha na cara de o vir confessar publicamente!
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É a nova ignorância, que Pacheco Pereira tão bem caracteriza. A velha ignorância era púdica e recolhia-se na humildade. A nova ignorância é impúdica e petulante. O não ler é, assim, motivo de orgulho, e não coisa a esconder ou de que se recriminar.
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Esta senhora pode não gostar de livros; pode não ler patavina ; pode desprezar o conhecimento ;pode não possuir o mais elementar bom-senso; pode envergonhar à vontade os professores. Pode “isso tudo” e mais alguma coisa : a maldita “carreira única” do ECD se encarregará de a transportar vitoriosamente até ao topo da carreira, minhas senhoras e meus senhores!
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Directora Pedagógica …
Nós professores, nos vários concursos somos tantas vezes ” ultrapassados ” por colegas com este tipo de formações “.
O que interessa é o diploma de curso e a média final de … valores. É sempre a andar.
Mercado de trabalho para outros locais ? Empresas mais a sério ?
Até se riem . Dizem apenas que entreguem os ” certificados” … e que depois entrarão em contato.
Oriundos de determinados estabelecimentos podem certificar com 20 valores … e vão logo para o — lixo !
Nós professores … é o que sabemos. No público e no privado. Enfim.
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A Isa revelou com orgulho e vaidade que pouco ou nada lia.
Fê-lo para mostrar que é capaz de ser uma excelente professora e desempenhar cargos de natureza pedagógica sem perder tempo com a literatura. Seja ela de que tipo for.
Não ler, para ela, é “cool”.
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Mas…a senhora disse que lê :livros infantis. Como o tempo não dá para tudo, há que definir prioridades, embora não sejam do PNL. Será que conhece Stendhal, Fernando Pessoa, Eça de Queiroz, Herberto Helder, Liev Tólstói, Gustave Flaubert, Nicolau Maquiavel? Uma leitura dos clássicos, para uma professora de Português não seria de todo má ideia.
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Não gosta de ler. Batemos no fundo.
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Paulo,
Mais uma vez, muito, muito obrigada. É no Quintal que se continua a dizer que o rei vai nu. A sua persistência fundamentada permite-nos estar de cabeça erguida perante tanta alarvidade aplaudida.
Boa semana a todos.
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Qual verniz? “Isto” não tem nível nenhum. O vazio dos vazios. Mas, a culpa não é desta criatura, mas, pelos vistos, o tempo de antena que lhe dão, o que me leva a perguntar: Quem são os donos desse colégio, que tem (têm) tanta projecção?
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Sabem uma coisa? Sinto-me acima! Sinto-me superior! É pecado, mas …
Sou relativamente rico no meio desta indigência.
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… Em contra-mão: é um estupendo contributo para a má imagem publica (nos média) dos professores. Isso é que chateia!
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Transcrevo dois outros trechos da entrevista:
“Eu não dou aulas, ajudo os miúdos a quererem aprender, a quererem saber mais. É um paradigma de aprendizagem e não de ensino”.
“[escolheria] O professor António Sampaio da Nóvoa. É inspirador. Gosto da forma como fala sobre a escola, a educação, a aprendizagem. É um poço de conhecimento.”
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Então, numa onda de críticas, torna-se oportuno o contraditório!
Existe pensamento sem se ler? Talvez não, mas coitados dos que o fizeram quando não havia nada para ler!
Existe conhecimento sem se ler? Coitados dos que, primeiro, produziram conhecimento para vocês lerem!
Ter muitos livros, ler muitos livros torna-nos melhores? Talvez, mas não invalida que quem leia outros formatos que não “livros”, também tenha e produza conhecimento, além de ser capaz de transmitir esse mesmo pensamento e conhecimento.
São todos “i”luminárias num universo de escuridão, mas deixaram que ele se escurecesse, pois ele não era assim, contando com as vossas partilhas e opiniões.
Se calhar, por acharem que era um feudo, um nicho próprio, de pertença só de alguns (pensamento livre sobre obras nunca me foi possível, antes reproduzir o que era considerado adequado por quem leu as obras antes de mim, com exceção de um professor de filosofia; até dou “conhecimento” sobre o “pensamento” de uma professora que teve de refazer a dissertação de mestrado, antes de Bolonha, porque não era o pensamento vigente) não será conhecimento, será cassete.
E pronto, eu adoro ler o que os outros não gostam que eu leia, e não são propriamente livros; sou rebelde, sei lá, mas chateia-me esta polícia do pensamento.
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Caro Pedro… esqueceu-se de dar exemplos das suas leituras “rebeldes”.
Eu gosto de ler grafittis, muito comuns na zona onde cresci e lecciono.
Leio blogues, redes sociais e tanta outra coisa que é menorizada.
O que parece não ter percebido… não se trata de ter ou transmitir conhecimentos sem ter de ler, mas sim de se dizer com clareza que não se lê, quando se afirma como promotora da leitura.
Outra coisa… não faço ideia das suas agruras académicas, eu tive as minhas, com a vantagem de saber como resistir e não refazer nada, mesmo quando me diziam para o fazer. Ler o que existiu antes (cá e lá fora), ajuda a fundamentar as nossas opções, não é sacrifício.
Por fim, não me leve a mal, mas a sua escrita escurece em passagens pouco inteligíveis fora do seu pensamento. Apesar disso, acho que entendi que defende que quem está do lado do poder, que teve todo o apoio e enquadramento político e mediático na sua promoção estará a sentir-se injustiçada e quiçá “rebelde”. É uma opinião como outra qualquer. Espero que não queira policiar a minha que acha que parte da sua argumentação não passa de uma forma de manifestação de uma superior vaidade e pretensão como qualquer outra.
Está a ver?
Chama-se isto liberdade de opinião.
Pratique-a em vez de se armar em vítima, quando defende quem está confortável na palma da mão do poder.
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