… para a questão da recuperação das aprendizagens, outra 50 páginas de “Orientações” ao pormenor (Orientacoes_2020). Eu sei que agora ninguém quer arriscar e ficar mal na foto junto do poder, mas parece-me uma espécie de atestado de incompetência aos órgãos de gestão das escolas e aos próprios professores. Não é que não exista quem mereça que lhe levem a colher de sopa à boca, mas… se isto é “autonomia”…
Dia: 3 de Setembro, 2020
A Polémica Em Torno Da Disciplina De Cidadania E Desenvolvimento
(texto para levar pancada de muita gente, mas que é mais a sério do que pode parecer aos apressados do politicamente correcto e seus adversários…)
Não tenho escrito sobre o assunto, porque acho que, em termos técnicos e “científicos”, a polémica se tem caracterizado pelo que se pode classificar como “parvoíce” com uma fortíssima base ideológica.
Em dois pontos eu esclareço a minha posição acerca da coisa em si:
- Sou favorável à abordagem na escola, de modo efectivamente transversal e principalmente através dos exemplos da prática da vida quotidiana, de alguns dos temas mais polémicos que despertam a fúria a alguns encarregados de educação e a alguns jarretas políticos.
- Acho que esses temas não devem ser leccionados de forma doutrinária e com uma avaliação formal numa disciplina equivalente à Matemática, História ou Inglês, mas sim de uma forma que fuja ao tradicionalismo da opção encontrada.
Dito isto… parece que fico naquela terra de ninguém que poucos aprovam, porque acho que a disciplina é um acrescento curricular sem grande sentido, nascida de uma espécie de capricho de quem pode decidir estas coisas e desenhar o currículo à medida do seu politicamente correcto, mas não me choca que se abordem na escola pública temas como a tolerância, a diversidade religiosa ou mesmo a identidade de género, em especial a partir do 2º ou 3º ciclo, discordando das teses da “lavagem ao cérebro”, porque, tirando algumas criaturas dogmáticas que até podem escrever na comunicação social, mas raramente dão aulas, a generalidade dos professores que lecciona a disciplina desde que foi inventada (como eu) optam por uma abordagem sensata dos temas. A menos que seja aquela partir da Educação Financeira, que me faz rir mesmo muito.
Mas esta terra de ninguém é onde está essa maioria dos docentes que leccionam a disciplina e que ficam calados perante um conflito que não existiu no tempo próprio e apenas surgiu porque um governante decidiu meter a colher onde não devia, tomando uma decisão que, não sendo formalmente peixe nem carne, deu origem a que se criasse uma espécie de situação de “delito de opinião” e um encarregado de educação se apresentasse como “mártir” do politicamente correcto, quando o que esteve em causa foi o chumbo administrativo de dois alunos com uma fundamentação que nunca vi usada para qualquer outra disciplina.
A realidade conhecida por pais e professores é que, como ou sem “objecção de consciência” há alunos que faltam que se fartam a disciplinas de que não gostam e, no fim, se tiverem as “positivas” necessárias para transitarem no Ensino Básico, não ficam retidos, porque o enquadramento legal é que essa é uma situação de excepção. Um aluno “chumba” a uma disciplina (ou duas) e passa sem problemas. Pode ser História, pode ser Inglês, até pode ser a sacrossanta Matemática e ninguém recorre e mete governantes à mistura, com despachos ambíguos que dão cobertura a tudo e o seu contrário.
O que significa que a disputa em presença surge de forma tardia e pelos piores motivos, envolvendo gente que nunca se dignou discutir o assunto até atingir um elemento da “sua” clique ideológica ou provocar manifestos contra a “sua” disciplina. E agora surgem por aí as mais inflamadas posições, raras vezes com fundamentação que quem lecciona a disciplina como eu reconhece como vagamente ajustada ao que se passa nas aulas.
A aprendizagem da Cidadania é um imperativo? Sim, claro, e faz mesmo muita falta desde tenra idade.
A Cidadania tem uma definição unívoca e doutrinária? Não deveria, porque isso quase é uma contradição nos seus termos.
A polémica em decurso é mesmo sobre “Cidadania e Desenvolvimento”? Não, de forma alguma, é quase em exclusivo sobre um ou dois dos seus conteúdos programáticos mais “fracturantes”.
Quem se tem pronunciado sobre a questão tem motivações de natureza cívica ou pedagógica? De modo algum, limitam-se a (re)agir de acordo com a sua agenda política e os seus credos religiosos e ou ideológicos.
Pessoalmente, tenho reservas em relação à criação de disciplinas do tipo doutrinário, com conteúdos ajustados aos interesses e crenças deste um aquele grupo dominante na governação da Educação. Mas acho que a Escola é um local para a formação dos futuros cidadãos, em especial quanto a valores como a Democracia e a Tolerância. Que devem ser transmitidos em especial a partir do exemplo e da sua vivência quotidiana.
O que me incomoda mesmo é que as Escolas tenham deixado de ser, nessa vivência quotidiana, espaços de Democracia e Tolerância e que acerca disso quase ninguém se indigne. Dos dois lados desta polémica repleta de hipocrisias.
De Fita Métrica Em Punho
Não sei bem como comentar isto… porque nas outras aulas vão estar ombro com ombro. E eu também gostaria que…
Educação física só com três metros entre os alunos