Subscrevo

“(…) a vida é melhor do que a morte, a saúde é melhor do que a doença, a abundância é melhor do que a escassez, a liberdade é melhor do que a coerção, a felicidade é melhor do que o sofrimento e que o conhecimento é melhor do que superstição e a ignorância.” (Steven Pinker, Enlightenment Now – The Case for Reason, Science, Humanism and Progress. New York: 2018, p. 453)

(parece óbvio? pois…)

As Transformações Do Medo

Apesar de ser um claro simpatizante de alguns teorizadores do medo como estratégia de dominação das sociedades pelas elites políticas e económicas, acho que a generalidade dos que agora escrevem sobre o “medo da covid” ou “medo do vírus” se andam a enganar no diagnóstico da situação.

Em resumo, simplificando com o risco natural da caricatura, entre os vários núcleos que denunciam o “medo da covid” (dos que acham que uma futura vacina inserirá um chip subsutâneo destinado ao controlo das mentes aos que consideram que este “medo” é a forma de anestesiar a sociedade perante uma ameaça externa omnipresente e obsidiante de que só o Estado nos pode salvar) há um ponto comum que é o de acharem que é a ameaça da doença que está em presença, quando desde Maio que se acena com outro tipo de medo.

Desde finais de Abril que a ameaça é a do “medo da economia parar”, em especial quando, de um modo com muito de cruel (mas inegável) muita gente achou que, final, quem morria eram “outros” e, em especial, aqueles que já morreriam de qualquer modo (os “velhos”, os que “já tinham patologias mórbidas pré-existentes). E há uma união perversa entre os que acham que qualquer confinamento lhes reduz os lucros, pelo que devem ameaçar a malta com despedimentos, com os que consideram que, no fundo, morrem os mais fracos e que não merecerão tanto investimento para a esperança de vida que apresentam e com aqueles que, de um ponto de vista mais intelectualizado, receiam a extensão dos poderes de controlo dos indivíduos pelo Estado, como se a NSA (ou equivalentes) precisasse de um novo pretexto para devassar a privacidade de quem bem entender.

Se reparem com alguma atenção, há meses que a tónica maior do discurso político (e não é apenas no Brasil ou nos E.U.A. é que a “Economia não aguenta outro confinamento”, em especial se do outro lado da balança tivermos a morte de uns velhotes ou doentes que até custam muito dinheiro e trabalho ao S,N.S. e/ou à Segurança Social.

E, de repente, o número de um milhão de mortes a nível mundial torna-se uma abstracção, porque quase nenhum caso foi perto do nosso quintal e até há este ou aquele, mas era gente rija que se curou num instante, foi como se fosse uma gripe.

O medo económico substituiu o medo pandémico nuns sectores, enquanto em outro se ergueu o medo do grande irmão… como se fosse necessária uma pandemia para já nos andarem a remexer em tudo o que escrevemos, enviamos, fotografamos, vemos ou mesmo defecamos.

(ahhhh… dizem que a dona Gertrudes morreu de covid, mas ela já estava toda entrevadinha e era diabética desde pequenina. E o senhor Tibúrcio já era asmático e só respirava com uma bomba de encher pneus; já não durava muito, aquilo da covid foi só um empurrãozinho para a cova…)