Não li a entrevista toda do ministro Tiago à Visão de 5ª feira porque já estou cansado de redundâncias e chegam-me uma ou duas frases para confirmar que não aprendeu nada sobre o nosso sistema de ensino, mas aperfeiçoou aquela forma de estar bem no sistema de fidelidades neo-feudais em que vivemos. Muitos elogios para cima, muita desresponsabilização própria e lançamento de culpas para baixo na hierarquia. Apercebi-me hoje que se deu ao desplante de desancar a directora da Escola Dona Amélia por não ter pedido os professores a que “teria direito” ou expressão equivalente. Hoje tem a resposta da presidente do Conselho Geral da dita Escola que só peca por partir do princípio que Tiago Brandão Rodrigues (mas não é só ele) percebe de lealdade institucional ou que ele sequer percebe verdadeiramente do mecanismo de colocação de professores, pelo que terá sido apenas “negligente” nas palavras. Não, o senhor ministro não é negligente com as palavras, apenas é desajeitado com as ditas. E pouco preparado em matérias técnicas. Agora terá de andar o secretário Costa, com o seu falar doce, a tentar apagar este fogacho ocasional.
Há regras estúpidas que o ME impõe às escolas para preencher vagas que se sabem estar em aberto, como atestados de longa duração, por doença e tratamentos prolongados, que apenas podem ir a concurso depois de 1 de Setembro. E depois há, como já escrevi antes, aquela de andar a contar os tostões das horas lectivas e dos dias de serviço, desencorajando muita gente a concorrer a horários incompletos, devido aos encargos envolvidos.
O ministro Tiago será o ministro da Educação mais tempo no cargo desde o 25 de Abril e isto diz muito acerca da governação nesta área, feita cada vez mais nas sombras e com base naquelas redes de amizades desenvolvidas em torno de dois ou três grupos de gente amiga, colaborante ou, no limite, que se cala e faz o que lhe mandam.
Talvez por isso, mas não só, o texto da Isabel Le Gué seja de saudar, porque a maioria preferiria calar-se e deixar passar, esperando pelo contacto reconfortante do secretário e de alguma desculpa oficiosa pelo dislate do ministro. E porque há pelo menos uma presidente de Conselho Geral que assume o cargo e toma posições. O que a maioria não faz desde a pandemia, se já antes não primava pela inacção. Conhecendo eu boa gente que leva o cargo a sério e as dificuldades que isso acarreta, também sei que nos últimos meses os Conselhos Gerais se tornaram, em regra, ainda mais inúteis do que antes, assinando de cruz ou nem sequer tomando posição sobre uma série de decisões e documentos que teriam de ser por si analisados e aprovados, a começar pelos Planos de Contingência e mudanças de critérios dos horários dos alunos.
Quando ao ministro, enfim, há que acreditar que lá para a frente, o túnel tenha uma saída.
