O funcionamento da troll factory/farm de S. Petesburgo, em 2013, parece realmente de algum amadorismo, atendendo ao que já antes se fazia por aí. Mas evoluíram rapidamente e explica-se aqui como devemos ler com precaução algumas representações do mundo e não se trata apenas das “redes sociais”, mas mesmo de fontes aparentemente credíveis e quase oficiais.
Dia: 12 de Outubro, 2020
“Dos Inconvenientes Das Conveniências”
Gosto muito de ler quem já pensou com clareza e escreveu com talento sobre aquelas permanências do “ser português” que atravessa os século e os regimes. Neste caso, estou a ler as crónicas de O Tempo nas Palavras de António Alçada Baptista (recolha da Presença em 2000).
Penso nas virtudes de certas formas de irreverência que especialmente se fazem sentir num país tão bem comportadinho como o nosso.
Quando, aqui há muitos anos, um ministro começou a ser notado pelas suas afirmações «inconformistas» aconteceu que, no fim dum discurso que fez em Braga, teve este comentário sussurrado de um político local:
– Sim, sim, Senhor Ministro. Tudo isso é muito bonito mas ainda não há nada como ter respeitinho ao Chefe.
Era o que, mais tarde, vinha dito pela pena do poeta:
«Neste país em diminutivo/Respeitinho é o que é preciso.»
Este nosso «bom comportamento= não é das manifestações mais sadias da nossa maneira de ser e, entre outras coisas, provoca uma terrível falta de equilíbrio que faz com que balancemos entre o «respeitinho incondicional» e a «agressão incondicional».
Quando uma sociedade perdeu todo o sentido de humor, estamos perante um sintoma duma situação patológica que pode levar à sua perdição- Um sábio professor que tive no sétimo ano do Liceu fazia, no princípio do curso, este aviso solene:
Sempre que tiverem uma boa piada, digam-na. Se não for boa, vão para fora da aula.
Tenho uma grande nostalgia duma linguagem fresca e leve que não nos obrigue a esta ginástica incómoda de estarmos sempre «atentos, veneradores e obrigados» ao mais pequeno diálogo. (17 de Março de 1972)
2ª Feira
Começa mais uma semana com a perfeita noção de que nenhum problema sério relativo à carreira docente e ao seu tão repetido “envelhecimento” tem perspectiva de resolução. Quanto àquela conversa da “transição digital”, a mesma coisa. Embora se saiba que mesmo que os contágios sejam galopantes, as escolas estarão proibidas de encerrar, nada chegou às escolas para as equipar para a eventualidade de períodos de ensino não-presencial para um número elevado de alunos. Estão a ver como as coisas evoluem, para os milhões ficarem na sua maioria pelo anúncio, esperando que como no ano passado sejam famílias e professores a avançar com o material. Realmente, nestas alturas percebe-se melhor o nível de fancaria com que somos obrigados a viver.