21 Conta Como “Dezenas”?

E mais de 2500 casos de contágio? É uma dúvida que tenho em relação a afirmações do PR há pouco tempo. Já o PM, depois de meses sem rumo, a querer navegar num desconfinamento em modelo imprudente, tornou-se um animal feroz, cheio de ameaças. Lamento, mas há meses que poderia ter feito mais e melhor, até porque nem sequer chegámos ao tempo frio e húmido, continuando neste doce Outono morninho e solarengo [leia-se “ensolarado”, porque é o mais correcto]. Mas preferiu navegar num discurso que tanto sim como não, de preferência que coiso, não se preocupem que nós tratamos da bazuca e o marcelo ajuda.

Perante isto, há dois tipos de atitude que me irritam e quero deixar claro que as minhas irritações são muito minhas e que quem não gostar muito delas, ou as suporta com paciência porque acabam por passear ou vai para outras paragens ler notícias requentadas. Aqui não se ganha ao clique, portanto, há liberdade para escrever sem pensar na carteira. Ou na carreira.

Ora bem… a primeira irritação é com aquela malta que agora é fundamentalista, mas há duas semanas relativizava tudo. Antes, o SNS tinha aguentado a primeira vaga, a economia não podia parar, os professores deveriam voltar às escolas com os seus alunos e fingir que se estavam a cumprir regras básicas de distanciamento e segurança. Agora… ou metem a aplicação que badala o contágio ou são contra a Pátria. E ninguém que use redes sociais nos telemóveis pode fazer críticas. Lamento, o meu Samsung ainda é do tempo pelintra da troika e não me sinto coberto pela investida trolleira dos que dizem que quem tem Instagram ou WhatsApp não se pode negar a #AppCostaPreocupadoAgora. Porque @s leio a mostrarem grande indignação, esquecendo-se que se a pessoa sabe que está positiva deve ficar em casa e não ir ao Conselho de Estado, à escola ou ao café da esquina. Até o Medina que em Agosto achava que tudo não sei quê, agora quer tudo a ser testado. E acho bem, mas tenho memória das parvoeiras que disse no espaço avençado na TVI.

(no limite, a app não passa de um macguffin – é googlar e percebe-se desde que não seja em app no zingarelho)

A segunda é com a outra facção relativizadora que acha que isto tudo é um esquema do caraças, que no hay nada, que quem morre são apenas os velhos e os fracos e que uma doença infecto-contagiosa é equivalente, no perigo de propagação, à diabetes, ao cancro ou às unhas encravadas. E que morre todos os dias muita gente. Phosga-se, morre muita gente desde o início dos tempos. Aliás, penso que quase toda a gente morreu, disto ou daquilo. Tirando o Júdice de que me lembro a advogar opiniões desde que eu ainda nem sabia muito bem o que achava disso. A questão é saber se esta doença tem potencial para dizimar muitos dos mais vulneráveis (idosos e doentes), só porque achamos que as criancinhas ficam traumatizadas se viverem uma vida familiar parecida à de outros tempos (certamente mais triste, admito), a juventude se ficar se ficar proibida de ir às raves da moda ou os papás e mamãs de desfrutarem de um sunset avec le glasse de espumante (que a champanhota a sério é mais cara) ou de uma white night quasi-pimba de tanta bibá. E não quero saber se são médicos que relativizam, se forem da estirpe dos que se benzem antes de juraram ao Hipócrates. Ou se forem articulistas como o jovem Raposo que acha que os doentes velhos é para não gastar preocupações e muito menos dinheiro.

Ahhhh … já me sinto quase melhor e com os anticorpos em alta.

(e não me venham dizer que ando intolerante, porque intolerantes é quem gosta de dizer aquilo que não aceita aos outros…)

Cidadania Básica

Há por aí quem use um argumento que acha “demolidor” a favor da obrigatoriedade da StayAway Covid e que é o facto de muita gente ter apps nos telemóveis e cartões de compras com dados pessoais envolvidos.

Parece que essas pessoas não entendem a diferença entre fazer-se algo voluntariamente e sermos obrigados a tal. Como orgulhoso ludita sem smartphone penso que posso expressar este ponto de vista sem vulnerabilidade a acusações de incoerência por ter redes sociais instaladas no zingarelho (isto agora, ao ler, soa um pouco mal, mas que se lixe…).

Já agora, o que diriam algumas destas pessoas do tipo “quem não deve, não teme” se a medida fosse extensível a outras doenças infecto-contagiosas como, digamos, a SIDA?

6ª Feira

Como a semana está a terminar vou-vos aqui contar uma história sobre o modo como na “nova normalidade” se pode fazer tudo e mais alguma coisa, ignorando todo e qualquer resquício de democracia interna.

A coordenadora de departamento dessa colega colocou atestado médico no início do ano por causa da covid por ser manifestamente de risco. Sendo necessário substituí-la no cargo – até porque a situação que levou ao atestado está longe de ter resolução à vista – deveria ser feita a tal eleição entre três elementos designados pela direcção.

Só que o director, cada vez mais habituado a um regime feudal de fidelidades, decide nomear para o cargo um colega, sem qualquer consulta do departamento e muito menos eleição, parece que com o argumento de ser tudo “temporário”. Só que o colega em causa, apesar de vassalo fidelíssimo, nem sequer poderia entrar na referida eleição, a ser cumpridas as regras mínimas que estão na lei. Ou seja, é das pessoas em posição mais baixa na carreira. E, em boa verdade, vai ser coordenar (temporariamente, claro) pessoas que poderiam ser na larga maioria suas avaliadoras. E exercer uma posição de superioridade hierárquica formal em relação a delegad@s de disciplina um ou mais escalões acima deste “temporário” coordenador.

Mas tudo acontece “naturalmente”, sem contestação, sem prestação de contas e com muita sensação de impunidade porque, a bem dizer, há quem tenha chegado há tanto tempo ao topo e sentindo que pode fazer o que entende sem qualquer risco, até porque se por hipótese surgisse alguma questão, poderia sair sem perda material nenhuma.

A colega contou-me a história, pediu anonimato, claro, e sabe que esta é a “nova normalidade”, pelo que nem estranhou que eu lhe tivesse respondido o que respondi, o que por agora não vou partilhar, excepto que tem muito a ver com o que chamo “xalência de largo espectro”.