If you’re pinning your hopes on a Covid vaccine, here’s a dose of realism
Dia: 23 de Outubro, 2020
Obrigado, Fenprof!
Eu sei que há quem por aí desconfie da minha atitude, mas há momentos de sintonia. Um deles é este, embora aquele parágrafo final me deixe insatisfeito, porque “aceitar reunir” é uma coisa, negociar a sério é outra.
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Já serão “dezenas”, senhor Presidente? Há um mês era uma “linha vermelha”. O que significa isso? O uso obrigatório de máscara nas ruas chegará? E não é com app’s que vamos lá, entenda-se. É preciso explicar bem as coisas e de forma coerente, sem zigezagues e selfies nas férias, se é que querem que as pessoas tenham alguma responsabilização. Agora se andarem sempre a falar no desgaste que as medidas causa, é complicado.
Eu sei que os relativizadores dizem que, no fundo, é gente que já morreria de qualquer forma, mas a verdade é que todos morreremos, de qualquer forma, mas se pudermos evitar isso, evitamos, correcto?
Irmãos De Samuel – A História Importa
Passa uma semana sobre o assassinato de um professor de História francês (Samuel Paty), por ter mostrado aos seus alunos caricaturas de Maomé. Como comprador antigo de banda desenhada satírica francesa (sim, do Charlie Hebdo muito antes da fama pelas piores razões, da L’Echo des Savannes, da Fluide Glacial, porque cá é o que ainda se acha), consumidor assumido de cartoons que alguns consideram blasfemos e professor de História que recorre muitas vezes a este tipo de suporte para ilustrar episódios e fenómenos da História mais recente (e não só), sinto que a violência se exerceu sobre uma parte de mim, mesmo se de forma alguma me sinto no perigo que ameaça outros colegas, em outras paragens.
Há um par de dias, a Anabela Magalhães chamou-me a atenção para a importância de assinalarmos esta data com algum tipo de iniciativa, em especial com um grafismo evocativo que nasceu de uma muito breve sessão de brainstorming virtual. Quase tudo se deve a ela, embora quem se lembrar de uma bd produzida nos tempos do Umbigo possa reconhecer os pássaros como metáforas de professores, só que agora estão bem negros, num luto bem literal. Como professores, em particular de História e muito em especial com o gosto de usarmos o humor e fontes de todo o tipo para ilustrarmos as nossas aulas e transmitirmos aos alunos a percepção da diversidade das experiências humanas através do tempo, do espaço e das sociedades, sentimo-nos “irmãos do Samuel” porque, no fundo, apenas temos a sorte de viver num cantinho onde, apesar de nem sempre ser muito bem frequentado, nos sentimos em segurança para ensinar e, ao fazer isso, recorrer a materiais que pensamos não colocar a nossa vida em risco. E esperamos que assim aconteça, apesar de sabermos que a intolerância se espalha velozmente e o desprezo pela História e a sua menorização no currículo corre a par com a nem sempre assumida vontade de truncar a memória das gerações, para ser mais fácil dar-lhes uma versão asséptica ou monocromática – seja de que sentido for – do passado humano.
Pessoalmente, acho quase tão perigosos aqueles que fazem tudo pela calada e com um discurso sonso a favor da “diversidade” que desmentem na prática, quanto os que vozeiam por aí contra moinhos de vento ideológicos que existem apenas residualmente nas convicções mesmo dos que ainda parecem ortodoxos. Os tempos são de marca cinzenta ou de extremismos meio afantochados, sejam os da destra ou da sinistra. Os autocolantes na porta do gabinete da deputada joacine são para mim tão caricatos quanto o retorno às teses pré-científicas de algum conservadorismo cultural, pois dos dois lados apenas promovem uma mal disfarçada intolerância. Aquela que, no fundo, levou ao martírio do professor Samuel.
Por isso, fica aqui o apelo para quem aguentou ler isto, no sentido de escreverem também algo sobre o tema ou, pelo menos, divulgarem a imagem que a Anabela produziu para este dia. Para todos os dias.
A História Importa. A Memória importa. O Humor importa. Muito. Porque a Liberdade Importa.
6ª Feira
Os tempos estão propícios a que o melhor das pessoas venha ao de cima em todo o seu brilhantismo. Nos últimos dias, observei um acréscimo de criatividade, com destaque para a comunidade anti-securitária e libertária que se opõe à generalidade das medidas contra a propagação da pandemia. Nas redes sociais, surgiu um grafismo, alegadamente com legitimação de médicos, sobre todos os malefícios do uso de máscaras. Um deles, reside no facto de com máscara sermos obrigados a respirar parte dos dióxido de carbono que expiramos, assim como os nossos “resíduos”; e eu pensei… lá está, tenho pensado mal na coisa… estas pessoas têm razão… devemos partilhar o dióxido de carbono e os resíduos de todos os que nos rodeiam, família, conhecidos ou meros passeantes como sempre fizemos. Estar contra a tradição é um mal, quiçá mesmo um “crime contra a Humanidade” que resulta do uso de máscaras.
Um outro grafismo, mais recente, revelava a indignação contra as regras de confinamento em alguns concelhos do norte do país e demonstrava com um rigor geográfico assinalável a injustiça que é reduzir os movimentos em Lousada e Felgueiras, por exemplo, em oposição ao imenso espaço que têm para se mover os munícipes de Alcácer do Sal ou Odemira. Só ali faltou o detalhe de em Lousada viverem uns 50.000 habitantes em menos de 100 km2 e em Felgueiras talvez mais de 60.000 (estou a usar dados extrapolados do censo de 2011) em 115 km2, enquanto em Odemira vivem menos de metade (uns 25.000) em mais de 1.700 km2 e em Alcácer do Sal menos de 15.000 em 1.500 km2. Sei que foi apenas um deslize, não vir a legenda com a densidade populacional… que é de 500 habitantes/km2 em Lousada e de 30 em Alcácer do Sal. Tirando isso, nota-se que há por ali excelência no raciocínio, perspicácia na argumentação e que, no fundo, só falha a fundamentação mais factual que, como sabemos de modo sobejo, é relativa conforme a perspectiva “pela verdade”.