Estas quatro notas de primeira página do Expresso desta semana merecem uma análise conjunta.
Mês: Novembro 2020
Do Inconseguimento
A Ler, Antes Do Foguetório
Some trial participants only got a partial dose of AstraZeneca’s vaccine. Experts said the company’s spotty disclosures have eroded confidence.
While an announcement Monday by Astra and Oxford showed their shot was 70% effective on average in a late-stage study, the scant details released by the U.K. partners have sparked worries about whether regulators would clear it.
2ª Feira
Que não nos enganemos. Os professores são neste momento muito0 úteis ao poder político no esforço por aparentar um mínimo de normalidade. Mas. mesmo que apareçam por aí umas declarações fofinhas, não confundam isso com afecto sincero, porque o não há. Percebe-se nas entrelinhas e e em alusões nem sempre muito subtis em comentários, intervenções mais ou menos públicas, artigos de “opinião”. É só passar a pandemia e voltaremos ao resto, em cima do que agora já se está a passar em matéria de abusos e que a greve da praxe de um dia, pós-Congresso do PCP na “oposição”, não chega sequer ao patamar do átrio da resolução. O ministro só aparece em eventos e o secretário, como sempre em tempos agrestes, voa baixinho e só atende (a)os amigos para as parcerias e pilotagens do costume.
Basta observar como a “oportunidade” para rever algumas coisas – sendo que até discordo de algumas – ficou na gaveta, a começar pelo parlapiê em torno do acesso ao Ensino Superior. Que agora é muito “complexo”. Será sempre complexo, só que agora é um tempo sensível e quando as vacas políticas engordarem poderá ser feito à bruta, como é costume. Com o apoio de uns à direita e a omissão de outros à esquerda.
Quero muito que a situação pandémica melhore e se resolva (até porque não acho que os velhos doentes sejam para morrer de qualquer maneira), mas temos muito o que esta gente – apresentando-se como salvadores da Nação – possam vir a fazer em seguida. Não me aflige tanto qualquer deriva autoritária nova, porque já conheço a velha. Até acho que andam, em tal matéria, ainda com muitos paninhos mornos. O que receio mesmo é o que virá a seguir, com a justificação das consequências da pandemia.
E sabem o mais triste? É que há muita gente desejosa que isso aconteça, mesmo entre a classe docente que, a avaliar pela evolução de certas atitudes e questionamentos (públicos ou privados) não melhorou absolutamente nada em perspicácia a médio prazo. E amocha… então se não amocha. E irrita-se com quem não o faz. E só espera pelo momento certo para se livrar de quem critica tanto amochanço em troca de tão pouco ou nada.
Medidas Anti-Covid Na Cabouco TV
Uma Vida Inglesa
Ficcionalmente, Adrian Mole é dois anos mais novo do que eu porque, ainda ficcionalmente, nasceu a 2 de Abril de 1967. Somos ambos Carneiro e partilhámos muitas das inadequações da adolescência e início da idade adulta. As suas memórias escritas por Sue Townsend acompanharam-me de forma irregular até aos “anos da próstata”. A sua autora não viveu até aos anos do Brexit, o que teria dado um volume tão ou mais hilariante do que os melhores da série. Revisitar cada um deles, relembrando o contexto, é voltar ao prazer inicial. Para mim, um “clássico” (com melhores e piores momentos) do meu tempo.
Domingo
Estive, qual antropólogo amador, sentado uma meia hora, não mais, numa “esplanada interior” a observar a flutuação dos ajuntamentos diante das lojas, enquanto lia as primeiras páginas do The Lost Diaries of Adrian Mole (1999-2001). Aprende-se muito, em ambos os casos, sobre a comédia humana e a inépcia política.
Humilde (E Quiçá Estúpido) Contributo Para Uma Sexta-Feira Branca
Não é de agora que tenho reservas em relação ao que por cá se tornou a prática das Black Fridays, uma espécie de saldos de monos mal disfarçados. Apresento alguns pontos em defesa da minha causa para que terminem ou então passem a outra designação.
- Antes de mais, parece-me de elementar evidência, que a expressão é nos tempos que temos, abusiva e claramente racista ao associar o termo “black” a algo que se vende a metade ou menos do preço. Nem sei como a deputada Joacine ainda não se alevantou em fúria contra isto e não acorreu a colar cartazes nas portas dos espaços comerciais que praticam este tipo de iniciativa neo-colonialista.
- Em seguida, tomara eu que, a ser Black Friday, o fosse mesmo, porque lá por fora os descontos andam pelos 90% e não são apenas sobre o que já não se vende ou tem fractura exposta (na comiXology, por exemplo, as reduções andam nos 90% em toda a variedade de produtos digitais, na Verso são todos os livros em promoção, o chato é que já exigem autenticação suplementar nos pagamentos por cartão de crédito). Por cá os descontos são ATÉ uma dada percentagem que, quando é 50% se aplica ao que já quase todos esquecemos, já vendeu o que tinha a vender ou não vendeu porque não valia a pena. Ou então é 50% na segunda unidade. Ou é de 20% como em qualquer saldos fraquinhos.
- Por fim, era bom que a “sexta-feira” se limitasse a sê-lo ou, para facilitar, que se estendesse pelo fim de semana contíguo, e não por todas as sextas até ao Natal ou a meses inteiros. Porque já estou farto de berros nos anúncios da rádio/tv, de me aparecerem publicidades ao navegar na net como se fossem artigos de interesse informativo mesmo com o adblocker ligado e de que o anúncio seja, como acima descrito, profundamente enganador e uma traição ao espírito original.
Muit’agradecido e muita saudinha é o que eu desejo.
João Costa, O Desmaterializador
Nuno Crato queria implodir. Apenas estragou, mas ganhou uns milhões para mandar estudar o que não fez e devia ter feito.
Agora temos João Costa que quer desmaterializar, mas não consegue fazer chegar computadores às escolas, pelo que os alunos devem ver os manuais digitais por um canudo pago pelos pais.
A propósito do 20º encontro digital da Leya, caiu-me isto no mail:
João Costa, Secretário de Estado Adjunto e da Educação, escreveu para a LeYa Educação:
“A desmaterialização dos manuais inscreve-se no Programa do Governo por motivos independentes, mas que se complementam:
Por um lado, o potencial que os recursos digitais têm na exploração de várias fontes de informação, de relacionar o texto escrito com outros meios. Num momento de informação abundante, não faz sentido que o manual seja estático e constitua o único apoio para o desenvolvimento curricular.
Por outro lado, o piloto dos manuais digitais enquadra-se no programa Escola Digital. Através do qual se promoverá o desenvolvimento de competências digitais, a promoção de literacia digital e de informação. Numa política que incorpora quatro eixos fundamentais: a disponibilidade de equipamentos e conectividade, a formação de professores e a produção de recursos educativos digitais.
Finalmente, estamos perante uma medida que contribui para a sustentabilidade do planeta, por se usar menos papel e para também por resolver o antigo problema de excesso de peso nas mochilas dos alunos.
A partir das escolas participantes foi criado um piloto que serviu para obtermos informação sobre as necessidades e ritmo de transição digital, sobre as necessidades de capacitação dos docentes e por fim para obtermos um leque de experiências que possam servir de exemplo às escolas que vieram a implementar a desmaterialização nos próximos anos.”
(já viram quantos “nichos de mercado” com os dinheirinhos da “bazuca” . caso húngaros e polacos possam a fazer do Estado de Direito o que entenderem – esta opção cria para os cortesãos do costume, mais umas parcerias à maneira?)
Sábado
Ontem à noite, na SICN, Luís Aguiar-Conraria (não me esqueci do hífen) clamava contra os que “nada perdem” com esta situação e que era tempo de contribuírem para o esforço dos que estão a perder muito. E eu acho isso de elementar justiça. Até porque quem trabalha e recebe paga impostos para isso mesmo. O problema é que ele não teve qualquer desvio de esquerda e não falou em qualquer contribuição extraordinária dos grandes grupos empresarias que sabemos terem lucros interessantes, mesmo se exercitam hábil contabilidade criativa. Por exemplo, há grupos comunicacionais que se queixam de prejuízos, depois recebem milhões do Estado e a seguir contratam “estrelas”. Ou pagam a quem lá aparece de forma regular a dar opiniões, em sinergias com outros órgãos do dito grupo. Não estou apenas a falar do Eixo do Mal. A Luís Aguiar-Conraria ocorreu logo o caso dos funcionários públicos que, pelos vistos para ele, deverão estar a receber sem nada fazer. Alguns poderão estar, outros não. Depende. Felizmente, não explicitou os professores. Até porque ele é professor. Embora naturalmente “superior”, o que tem outra dinâmica, Não sei se agora à distância. Em casa, recebendo o mesmo. Sinceramente, não sei. Eu continuo a fazer o mesmo que fazia antes da pandemia, presencialmente, porque mesmo que existam casos em meu redor, tenho um véu protector de “baixo risco”. Ainda pensei, contra os meus hábitos, mandar-lhe um mail, uma mensagem a alertar para alguns factos, mas desisti, porque em outros casos, anteriormente, com outras figuras mais mediáticas, não serviu para nada, que as certezas já lhes correm no sangue.