Efeito E Causa

Ouvi parte da conferência de imprensa do actual PM, o que está longe de ser um hábito meu porque raramente fico impávido perante o atropelo formal da concordância nas frases mais elementares, mesmo se suporto as manigâncias do conteúdo.

Mas desta vez apetece-me embirar com a forma como alguém que todos afirmam ser dotado de uma inteligência superior, não apenas no plano político, parece não compreender a relação entre causa e efeito. Ou então acha que somos nós que não compreendemos.

Afirmou António Costa, com voz quase segura que na 1ª vaga, com menos casos de contágio e menos mortes se tomaram medidas mais duras, pelo que agora na 2ª vaga não compreende como, com mais casos e mortes, se acha que as medidas estão a ser muito duras.

Ora vamos lá tentar recapitular as coisas pela ordem certa.

Na 1ª vaga, perante o desconhecimento de alguns aspectos da pandemia, mas perante os avisos de um potencial crescimento exponencial, tomaram-se medidas duras, sim, bastante cedo. E, sim, os casos ficaram a um nível relativamente baixo ao ponto de ser falar em qualidades miraculosas da prudência nacional.

Depois… parece que, pelo menos entre alguma classe político-mediática, se acreditou que no Verão o vírus hiberna (sim, eu percebo o oxímoro) e que tudo poderia voltar ao “normal” que a 2ª vaga viria longe e daria muito tempo para fazer o que não apeteceu (ou existiu coragem para) fazer. Foi a fase da cigarra.

Chegou a 2ª vaga e as medidas tomadas começaram por ser tíbias, parecendo acreditar-se que tudo iria “acabar bem”, quando ainda estava a começar. E os contágios e as mortes começaram a acumular-se. E surgem então as tais medidas que se afirmam “duras”.

Ora bem… é impressão minha ou a sucessão entre causa e efeito é clara nas duas vagas, mas inversa à “lógica” do discurso do actual PM?

Os casos foram relativamente baixos na 1ª vaga porque se agiu depressa e com alguma firmeza. Depois veio a conversa da “economia não pode parar” e “ai meu deus que não aguento mais os putos em casa”. Começou a 2ª vaga e as medidas a sério (seja nos lares, seja em certos “eventos”) tardaram, pelo que os casos aumentaram.

As trancas na porta ainda podem impedir o pior, mas percebe-se que há receio disto e daquilo, das reservas economicistas às libertárias, passando pelas de pura e simples falta de clareza e o tal medo do “cansaço”.

Cansado ando eu de tanta conversa da treta. É que nem fazem, nem saem de cima. E, pelo meio, nem o pai, nem a mãe almoçam, mesmo com as crianças na escola.

Iupi! Chegaram “Informações” Sobre Os Computadores!

Parece que a culpa da não chegada é de um “estrangulamento” causado pela Anacom. E já haverá um guia de utilização, muito útil para quem ainda não tem qualquer equipamento que se veja, mas está quase, quase, quase, a chegar.

Escola Digital: Que computadores vão ser entregues aos alunos? Ministério esclarece procedimentos

É Um Bom Dia Na Aula De HGP…

… quando se começa a explicar o que é a Cronologia e numa turma de 5º ano há quem saiba a história de Cronos, quem perceba e coloque questões sensatas sobre a diferença enorme entre a escala do tempo geológico e do tempo humano, quem tenha ouvido já falar do hipotético planeta Theia e do seu impacto na Terra e quem queira perceber porque e como surgiram métodos diferentes de contagem do tempo ao longo do dito e através das sociedades humanas. Há quem coloque o ónus do “princípio activo” do ensino e aprendizagem quase sempre nos professores, mas a verdade é que quando parte dos alunos e do seu interesse é que funciona na plenitude. Um@ professor@ pode fazer as maiores piruetas que sem essa motivação para compreender e conhecer por parte dos alunos, será sempre um esforço pouco glorioso. Assim, dá um enorme gozo passar aulas, lixando-me para qualquer planificação à moda das grelhas do século XX, a visitar e discutir em diálogo (no verdadeiro sentido do termo, na sua forma mais primordial) porque houve quem preferisse contar o tempo de forma mais imediata pelos movimentos Lua e quem optasse pelos do Sol e das estações, como foi evoluindo o registo das unidades de tempo e porque usamos estas, aqui, e não outras.

Ainda há dias assim. Ou, pelo menos, aulas assim.

(estive quase para dizer ao aluno que me fez revisitar a descendência de Úrano e Gaia, as origens dos Titãs e como Cronos foi uma espécie de Édipo original e o primeiro de uma longa série de seres atormentados na mitologia clássica, que não o denunciaria ao SE Costa por revelar um nível “enciclopédico” de conhecimentos…)

5ª Feira

Acredito que o progresso deve ser uma realidade a cada nova geração, mesmo quando há muitos indicadores em contrário. Dito isto, acho muito estranho que se ande a espalhar um discurso acerca dos traumas imensos causados por algumas medicas em curso para minimizar os riscos de contágio. Apesar de não concordar com algumas, que acho serem escassamente úteis, também considero hiperbolizadas as consequências que alguns anunciam. Cresci sem centros comerciais e com tudo a fechar a partir da uma da tarde de sábado (e canal e meio de televisão) e acho que a minha geração até é bem mais resistente do que outras que se seguiram em relação a muitas adversidades. Aliás, acho que em muitos casos esse discurso muito preocupado com “traumas” tem origem em quem cresceu com muita coisa e pouca capacidade de resistência às dificuldades. Passar dois fins de semana em família restrita parece ser um esforço imenso, uma provação próxima de um qualquer purgatório. O que eu compreendo, em pessoal que parece ter da família uma ideia muito diferente da minha, que até sou descrente. Estranho que sintam tanta dificuldade em ficarem “confinados” ao fim de semana, em especial gente que se apresenta como bem pensante, até com instrução e recursos acima da média. Em especial quem parece considerar que “liberdade” é sair de casa para espaços fechados, cheios de gente. Estranho ainda mais quem critique os excessos do capitalismo, mas desfaleça se lhes tiram umas tardes de consumismo.