A Antiguidade É Um Posto Na Avaliação Dos Directores!

Ou seja, quanto mais tempo sentados nas cadeiras do poder, melhor, de acordo com o artigo 14º da Portaria n.º 266/2012 de 30 de Agosto.

Dizem-me que este ano houve umas dezenas de notas máximas (10), mas só 5 tiveram direito a Excelente e 21 a Muito Bom, vindo os restantes parar ao Bom, um pouco à imagem do que acontece com o pessoal mais raso. E tudo abaixo de 10 teve de ficar pelo Bom, pelo que percebo deste post do Arlindo.

O que a mim espanta nem é o aumento que se verificou nas notas máximas este ano (afinal, há por aí tanta gente xalente a mandar), mas sim o facto de ainda ninguém se ter queixado de o desempate ser feito com base no tempo no cargo ou de serviço. Afinal, não querem rejuvenescer a classe? Poderiam começar pelo topo e não dar o “prémio” a quem está quase mumificad@ no lugar.

(e não haverá uma chuvita de recursos?)

Por outro lado, eu até acharia de “interesse público” conhecer quem foram os 5 e os 21 que ganharam os “prémios” em disputa, seja para seguirmos o exemplo de tais faróis da gestão escolar, seja para termos uma espécie de edição de um Global Director Prize ou um Diretor do Ano, com menções honrosas e tal e direito a fotos e chamadas à imprensa nacional para exporem a sua visão sobre a Educação e como a sua vocação foi estarem tanto tempo longe das salas de aula.

Não me levem muito a mal… é que Portugal ia empatando contra 10 croatas (não fosse a ajuda do guarda-redes deles) e apeteceu-me descarregar um pouco a bílis.

A Ciência Explica…

… que o encerramento das instituições educativas é a segunda medida mais eficaz no combate à pandemia. O que confirma outro estudo, igualmente com uma amostra muito alargada. Mas por cá, fala-se em “estudos”, assim no “geral” e diz-se qualquer coisa.

Dá trabalho a ler para perceber que a “eficácia” é medida com base em quatro factores e não a “olhómetro”, que é a especialidade nacional.

Ranking the effectiveness of worldwide COVID-19 government interventions

Os Eunucos Da Linguagem

Da escrita e da falada. Por acção de depilações ortográficas ou de estupro do seu sentido e forma. Sou dos que adora o enriquecimento da língua através da imaginação, da criação, mas dos que detesta o seu empobrecimento ou abstardamento com base em ideologias que pretendem “neutralizar” o que acham ser os seus conteúdos “incorrectos”, algo que agora está muito em voga em certos nichos do belo pensamento de uma neo-esquerda intolerante na defesa da assepsia linguística. De uma novilíngua que eu não hesito em crismar como eunuquês.

E tratar a petizada, mesmo que numa perspectiva de igualdade de género, como “querides alunes” é muito estúpido e ainda mais porque quer impor a descaracterização e uniformização em vez de exaltar a diversidade. Ao contrário do que seria de esperar, recusa identidades no desejo insano de não querer estabelecer diferenças e promover igualdades forçadas. E é por aqui que eu traço uma linha muito grossa em relação a esta corrente herdeira das teses da linguagem como instrumento de dominação e que pretende fazer exactamente o que em tempos afirmou criticar: forçar os outros a aceitar uma concepção unívoca do que é aceitável na língua de que todos nós precisamos para descrever o mundo na sua pluralidade colorida. É ridículo que os defensores das cores do arco-íris pretendem representar o mundo numa linguagem de cinzentos. Ora, se há algo que me é muito caro é exactamente a defesa do direito à diferença e à sua enunciação.

Mas vou passar antes a palavra a João Barrento e a dois excertos de crónicas suas de 1993, na altura mais preocupado com os efeitos do avanço da imagem sobre a palavra.

Diz-me como falas, dir-te-ei quem és. A língua é um espelho, não apenas daquele que a usa (que julga que a usa: na verdade, muitas vezes é ela que dele se serve!), mas também do mundo, e da visão que dele se tem.

(…)

As palavras vêm perdendo o corpo, desde que o culto da imagem o vem fazendo definhar, Quase ninguém repara nesse corpo, à maior parte das pessoas nem lhes passa pela cabeça que tal coisa existe. Cada vez mais as palavras se vêem esmagadas ou abastardadas, no seu lado corpóreo e sonoro, numa certa nobreza de porte que lhes é própria, pela penetrante violência das imagens que nos submergem e transformam o verbo em verborreia sem contornos, o perfil preciso do adjectivo em mero adorno, o sopro subtil da frase num urro sem rosto. Ninguém tem pachorra para atentar bem no texto dito, para o seguir de perto, e muito menos para o ler e tentar sentir nele o peso, os cheiros, a aura da palavra ou da imagem verbal.

João Barrento, Uma seta no coração do dia, 998, pp. 99, 103)