Dia: 19 de Novembro, 2020
Quase (Mas Apenas Quase) Me Apetecia Dar Razão Ao MEC…
… mas li tudo o que disse e só lha posso dar de forma muito minguada.
Miguel Esteves Cardoso. “Os portugueses não leem e a culpa é dos professores”
(…)
Faz-me imensa pena quando as pessoas não dão valor a uma coisa que está ali. Acho que a culpa é toda dos professores! A maneira como se estuda os autores portugueses castiga! “Tens de saber isto e aquilo”. A maneira como o tornam técnico, é uma espécie de vingança dos professores sobre os escritores.
Os professores tornam a escrita uma coisa chata e obrigatória. Uma espécie de sacrifício que é preciso fazer. No meu tempo, era dividir as orações. É uma crueldade, um sadismo. O que é que interessa o que o autor pensa ou pensava?!
É verdade que alguns(mas) professor@s são capazes de tirar o gosto por muita coisa a qualquer alma, de tanto não gostarem el@s mesm@s do que ensinam ou de aprenderem mais do que a sebenta do curso.
É verdade que o gosto pelo sabor da literatura tem sido estragado pelo ensino de aspectos técnicos e factuais (alguém está a pensar em linguistas especialistas em advérbios? ou em adept@s da velha TLEBS?) em detrimento da fruição dos aspectos literários.
É ainda verdade que quem perde tempo a comprar livros das doutoras ariana e cohen (ou do gustavosantos ou do paulocoelho ou do zézédossantos ou do émeéssetê ou aquelas m€rd@s pseudo-espirituais ou inspiracionais), dificilmente consegue ter a disponibilidade e o gosto para ler um ensaio decente ou boa literatura que não apareça nos topes de cá.
Mas é completamente falso que isso resulte de uma “vingança” dos professores quanto aos “escritores”. Apesar do que escrevi acima, os professores adoram os escritores. Provavelmente, não os professores do MEC, não sei se em algum colégio inglês, com aquelas pancadas todas que eles têm por lá (cf. a série que recomendei há uns dias com base nos livros do Edward St. Aubvn). Mas os professores, em especial os de Português e os mais “envelhecidos” são leitores ávidos e adoram mesmo os escritores. E é aqui que o MEC se esparrama todo, exibindo um preconceito maior do que aquele de que acusa os outros.
E o preconceito é o de que os professores não sabem escrever e que por isso invejam os “escritores” por isso se “vingam” deles. Nada de mais errado.
É pena. Tomara eu que o MEC produzisse mais do que crónicas por encomenda e não andasse agora sempre a publicar coisas requentadas para ver se revendem. Para quem o lê desde o Se7e e o tem em forma de livro desde o Escrítica Pop há falta de um MEC a escrever mais do que dois parágrafos de cada vez. E quantas vezes sem nada de novo. Por rotina. Por mero automatismo de sobrevivência. Não foram só os professores que envelheceram.
Para A OMS É Mais Seguro Para As Crianças Estarem Na Escola Do Quem Em Casa Com A Família
E para além do que transcrevo, também o ouvi dizer na peça áudio algo como as crianças precisarem de ficar em “ambientes seguros” de aprendizagem, o que parece implicar que estando em casa ficam em “ambientes inseguros”.
Quanto à questão da não “eficiência” do encerramento dos espaços escolares (com tudo o que de negativo reconheço), lamento mas os estudos mais recentes indicam exactamente o contrário do que o senhor diz. E por uma vez, alguns teóricos do primado da Economia e do anti-confinamento poderão estar de acordo com a OMS.
Após Ouvir As Declarações de Alguns Especialistas, Parece-me Evidente Que…
… no curto prazo, estamos um bocado lixados com F, por causa do R.
Este facto resulta de não se terem tomado medidas em devido tempo para evitar a escalada de casos, visto que os efeitos de tais medidas na redução do R só se fazem sentir entre um mês e mês e meio depois de implementadas.
Na prática, andamos atrás dos acontecimentos e, se tudo continuar assim, corremos o risco de estacionar num plano mesmo alto. Tudo porque só se colocaram trancas na porta, depois do furto estar em curso. A estratégia das “cigarras” falhou por completo,
Pelo que me parece justo concluir que o “sucesso” do combate à primeira vaga pandémica resultou de se terem tomado medidas claras e “duras” com rapidez, enquanto que em relação à segunda se andou a ver no que isto dava e a tentar apagar fogos com colheres de chá e outra fofuras, por causa do “cansaço”. E isto é mais grave porque se deu a entender que, se tinha aguentado o primeiro choque, o SNS estaria em condições de aguentar o segundo. Agora já se percebeu até que ponto a abordagem português suave de Costa e Marcelo se baseou em pensamento mágico. E nem vale a pena no completo desleixo que foi a forma como se tratou a questão dos lares de idosos em todo o Verão.
(parece que acreditaram que teriam mesmo uma vacina antes do pior… ou ali logo pelo Natal, ou ainda antes como o trump…)
O que para mim foi desde cedo uma estratégia errada, muito sensível a retóricas economicistas que me fazem pensar que as teses marxistas da Economia como a infraestrutura de que tudo depende (incluindo a vida?) estão de belíssima saúde entre o nosso mainstream político-mediático e mesmo entre alguns teóricos da conspiração covídica, está a ter consequências que podem vir a ser dramáticas.
Pelo que… agora limitamo-nos a andar a alinhar números, desenhar curvas e ainda com oscilações quanto às medidas restritivas a tomar, impondo algumas que são puramente impossíveis de cumprir de forma coerente. Como podemos limitar verdadeiramente as deslocações entre concelhos de risco se continuamos a obrigar dezenas de milhar de pessoas (nem vale a pena nomear as profissões) a deslocar-se diariamente de uns para outros? E até que ponto é honesto afirmar que não há uma relação “directa” entre reinício das aulas e aumento de contágios, mesmo quando se diz que se afala apenas no Superior, quando os maiores estudos disponíveis afirmam exactamente o contrário, mesmo que a relação seja “indirecta”?
Quer isto dizer que defendo um confinamento draconiano, em que ninguém pode meter o nariz fora de casa? Quero o fim da economia e do mundo como o conhecemos, cheio de turismo, comércio e liberdades mil? Não propriamente, pois sou tão consumista como qualquer outro tipo vulnerável às tentações do capitalismo. E por isso mesmo é que gostava de estar vivo mais uns tempos. E desejo o mesmo para a maior parte das pessoas, mesmo que alguns considerem que esta é uma oportunidade para acabar com boa parte da “peste grisalha” que acham composta de gente já doente, socialmente pouco útil e economicamente excedentária. Dispensável. Que custa muito dinheiro tratar para acabarem por morrer na mesma.
(ainda vou ler algumas luminárias a afirmar que sairá muito caro vacinar os mais velhos…)
Pessoalmente, acho que muita conversa que por aí anda acerca de tudo isto poderá ser qualificada como “abjecção”, para citar um nosso conhecido e destacado articulista, emérito discursador no 10 de Junho e hábil angariador de babysitter sempre que fica com nervoso com a petizada em casa.
Outra Esperança Inútil
Mesmo discordando dos reais objectivos da Iniciativa Liberal em termos político-económicos, quando passaram a liderança para o actual deputado Cotrim de Figueiredo tive alguma esperança que se ganhasse algo em termos de sofisticação na argumentação, já que quanto ao líder fundador estávamos mais do que falados. Até por ter pouco tempo de antena, no parlamento e fora dele, esperava que surgisse com algo que, à imagem dos cartazes, “refrescasse” o léxico no bom sentido. Repito, mesmo discordando, gosto de quem realmente traz algo de novo ao debate, na forma ou no conteúdo.
Mas foi esperança vã. Hoje, ao sair da reunião com os “especialistas” sobre a pandemia, o melhor que arranjou como soundbite foi um “não se morre da doença, morre-se da cura”, o que é algo que até o Tino de Rans conseguiria dizer sem um esforço enorme. Aliás, o termo que me lembro de se usar em tempos para este tipo de sabedoria popularucha era “sediço”, que é como quem diz serôdio de outro modo.
Que pena tamanho desperdício de boas camisas brancas, meticulosa e estrategicamente desabotoadas.
5ª Feira
De quem é a responsabilidade – se é que há – por manter algum decoro no espaço envolvente das escolas, em matéria de regras básicas de “contacto social”? E é bom que se note que não me estou a referir à “dimensão dos afectos”, mas apenas ao decoro mínimo exigível nas circunstâncias actuais. Porque quem está nos portões diz que o que se passa é “fora” e se alguém diz algo quanto aos ajuntamentos ainda as coisas acabam mal.