Quase (Mas Apenas Quase) Me Apetecia Dar Razão Ao MEC…

… mas li tudo o que disse e só lha posso dar de forma muito minguada.

Miguel Esteves Cardoso. “Os portugueses não leem e a culpa é dos professores”

(…)

Faz-me imensa pena quando as pessoas não dão valor a uma coisa que está ali. Acho que a culpa é toda dos professores! A maneira como se estuda os autores portugueses castiga! “Tens de saber isto e aquilo”. A maneira como o tornam técnico, é uma espécie de vingança dos professores sobre os escritores.

Os professores tornam a escrita uma coisa chata e obrigatória. Uma espécie de sacrifício que é preciso fazer. No meu tempo, era dividir as orações. É uma crueldade, um sadismo. O que é que interessa o que o autor pensa ou pensava?!

É verdade que alguns(mas) professor@s são capazes de tirar o gosto por muita coisa a qualquer alma, de tanto não gostarem el@s mesm@s do que ensinam ou de aprenderem mais do que a sebenta do curso.

É verdade que o gosto pelo sabor da literatura tem sido estragado pelo ensino de aspectos técnicos e factuais (alguém está a pensar em linguistas especialistas em advérbios? ou em adept@s da velha TLEBS?) em detrimento da fruição dos aspectos literários.

É ainda verdade que quem perde tempo a comprar livros das doutoras ariana e cohen (ou do gustavosantos ou do paulocoelho ou do zézédossantos ou do émeéssetê ou aquelas m€rd@s pseudo-espirituais ou inspiracionais), dificilmente consegue ter a disponibilidade e o gosto para ler um ensaio decente ou boa literatura que não apareça nos topes de cá.

Mas é completamente falso que isso resulte de uma “vingança” dos professores quanto aos “escritores”. Apesar do que escrevi acima, os professores adoram os escritores. Provavelmente, não os professores do MEC, não sei se em algum colégio inglês, com aquelas pancadas todas que eles têm por lá (cf. a série que recomendei há uns dias com base nos livros do Edward St. Aubvn). Mas os professores, em especial os de Português e os mais “envelhecidos” são leitores ávidos e adoram mesmo os escritores. E é aqui que o MEC se esparrama todo, exibindo um preconceito maior do que aquele de que acusa os outros.

E o preconceito é o de que os professores não sabem escrever e que por isso invejam os “escritores” por isso se “vingam” deles. Nada de mais errado.

É pena. Tomara eu que o MEC produzisse mais do que crónicas por encomenda e não andasse agora sempre a publicar coisas requentadas para ver se revendem. Para quem o lê desde o Se7e e o tem em forma de livro desde o Escrítica Pop há falta de um MEC a escrever mais do que dois parágrafos de cada vez. E quantas vezes sem nada de novo. Por rotina. Por mero automatismo de sobrevivência. Não foram só os professores que envelheceram.

Para A OMS É Mais Seguro Para As Crianças Estarem Na Escola Do Quem Em Casa Com A Família

E para além do que transcrevo, também o ouvi dizer na peça áudio algo como as crianças precisarem de ficar em “ambientes seguros” de aprendizagem, o que parece implicar que estando em casa ficam em “ambientes inseguros”.

Quanto à questão da não “eficiência” do encerramento dos espaços escolares (com tudo o que de negativo reconheço), lamento mas os estudos mais recentes indicam exactamente o contrário do que o senhor diz. E por uma vez, alguns teóricos do primado da Economia e do anti-confinamento poderão estar de acordo com a OMS.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) defendeu esta quinta-feira a necessidade de manter as escolas abertas durante a pandemia de covid-19 e considerou que podem evitar-se os confinamentos se forem aumentadas as medidas de protecção.

“Devemos assegurar o ensino aos nossos filhos”, afirmou o director da OMS para a Europa, Hans Kluge, sublinhando que as crianças e adolescentes não são impulsionadores principais do contágio e que o fecho de escolas não é eficiente.

frisou também que os confinamentos são “uma perda de recursos” e que provocam muitos efeitos secundários, como danos na saúde mental ou aumento da violência de género. De acordo com o mesmo responsável, esta medida seria evitável se o uso de máscaras fosse superior a 90% entre a população.

Outra Esperança Inútil

Mesmo discordando dos reais objectivos da Iniciativa Liberal em termos político-económicos, quando passaram a liderança para o actual deputado Cotrim de Figueiredo tive alguma esperança que se ganhasse algo em termos de sofisticação na argumentação, já que quanto ao líder fundador estávamos mais do que falados. Até por ter pouco tempo de antena, no parlamento e fora dele, esperava que surgisse com algo que, à imagem dos cartazes, “refrescasse” o léxico no bom sentido. Repito, mesmo discordando, gosto de quem realmente traz algo de novo ao debate, na forma ou no conteúdo.

Mas foi esperança vã. Hoje, ao sair da reunião com os “especialistas” sobre a pandemia, o melhor que arranjou como soundbite foi um “não se morre da doença, morre-se da cura”, o que é algo que até o Tino de Rans conseguiria dizer sem um esforço enorme. Aliás, o termo que me lembro de se usar em tempos para este tipo de sabedoria popularucha era “sediço”, que é como quem diz serôdio de outro modo.

Que pena tamanho desperdício de boas camisas brancas, meticulosa e estrategicamente desabotoadas.

5ª Feira

De quem é a responsabilidade – se é que há – por manter algum decoro no espaço envolvente das escolas, em matéria de regras básicas de “contacto social”? E é bom que se note que não me estou a referir à “dimensão dos afectos”, mas apenas ao decoro mínimo exigível nas circunstâncias actuais. Porque quem está nos portões diz que o que se passa é “fora” e se alguém diz algo quanto aos ajuntamentos ainda as coisas acabam mal.