Humilde (E Quiçá Estúpido) Contributo Para Uma Sexta-Feira Branca

Não é de agora que tenho reservas em relação ao que por cá se tornou a prática das Black Fridays, uma espécie de saldos de monos mal disfarçados. Apresento alguns pontos em defesa da minha causa para que terminem ou então passem a outra designação.

  • Antes de mais, parece-me de elementar evidência, que a expressão é nos tempos que temos, abusiva e claramente racista ao associar o termo “black” a algo que se vende a metade ou menos do preço. Nem sei como a deputada Joacine ainda não se alevantou em fúria contra isto e não acorreu a colar cartazes nas portas dos espaços comerciais que praticam este tipo de iniciativa neo-colonialista.
  • Em seguida, tomara eu que, a ser Black Friday, o fosse mesmo, porque lá por fora os descontos andam pelos 90% e não são apenas sobre o que já não se vende ou tem fractura exposta (na comiXology, por exemplo, as reduções andam nos 90% em toda a variedade de produtos digitais, na Verso são todos os livros em promoção, o chato é que já exigem autenticação suplementar nos pagamentos por cartão de crédito). Por cá os descontos são ATÉ uma dada percentagem que, quando é 50% se aplica ao que já quase todos esquecemos, já vendeu o que tinha a vender ou não vendeu porque não valia a pena. Ou então é 50% na segunda unidade. Ou é de 20% como em qualquer saldos fraquinhos.
  • Por fim, era bom que a “sexta-feira” se limitasse a sê-lo ou, para facilitar, que se estendesse pelo fim de semana contíguo, e não por todas as sextas até ao Natal ou a meses inteiros. Porque já estou farto de berros nos anúncios da rádio/tv, de me aparecerem publicidades ao navegar na net como se fossem artigos de interesse informativo mesmo com o adblocker ligado e de que o anúncio seja, como acima descrito, profundamente enganador e uma traição ao espírito original.

Muit’agradecido e muita saudinha é o que eu desejo.

João Costa, O Desmaterializador

Nuno Crato queria implodir. Apenas estragou, mas ganhou uns milhões para mandar estudar o que não fez e devia ter feito.

Agora temos João Costa que quer desmaterializar, mas não consegue fazer chegar computadores às escolas, pelo que os alunos devem ver os manuais digitais por um canudo pago pelos pais.

A propósito do 20º encontro digital da Leya, caiu-me isto no mail:

João Costa, Secretário de Estado Adjunto e da Educação, escreveu para a LeYa Educação:

“A desmaterialização dos manuais inscreve-se no Programa do Governo por motivos independentes, mas que se complementam:

Por um lado, o potencial que os recursos digitais têm na exploração de várias fontes de informação, de relacionar o texto escrito com outros meios. Num momento de informação abundante, não faz sentido que o manual seja estático e constitua o único apoio para o desenvolvimento curricular.

Por outro lado, o piloto dos manuais digitais enquadra-se no programa Escola Digital. Através do qual se promoverá o desenvolvimento de competências digitais, a promoção de literacia digital e de informação. Numa política que incorpora quatro eixos fundamentais: a disponibilidade de equipamentos e conectividade, a formação de professores e a produção de recursos educativos digitais.

Finalmente, estamos perante uma medida que contribui para a sustentabilidade do planeta, por se usar menos papel e para também por resolver o antigo problema de excesso de peso nas mochilas dos alunos.

A partir das escolas participantes foi criado um piloto que serviu para obtermos informação sobre as necessidades e ritmo de transição digital, sobre as necessidades de capacitação dos docentes e por fim para obtermos um leque de experiências que possam servir de exemplo às escolas que vieram a implementar a desmaterialização nos próximos anos.”

(já viram quantos “nichos de mercado” com os dinheirinhos da “bazuca” . caso húngaros e polacos possam a fazer do Estado de Direito o que entenderem – esta opção cria para os cortesãos do costume, mais umas parcerias à maneira?)

Sábado

Ontem à noite, na SICN, Luís Aguiar-Conraria (não me esqueci do hífen) clamava contra os que “nada perdem” com esta situação e que era tempo de contribuírem para o esforço dos que estão a perder muito. E eu acho isso de elementar justiça. Até porque quem trabalha e recebe paga impostos para isso mesmo. O problema é que ele não teve qualquer desvio de esquerda e não falou em qualquer contribuição extraordinária dos grandes grupos empresarias que sabemos terem lucros interessantes, mesmo se exercitam hábil contabilidade criativa. Por exemplo, há grupos comunicacionais que se queixam de prejuízos, depois recebem milhões do Estado e a seguir contratam “estrelas”. Ou pagam a quem lá aparece de forma regular a dar opiniões, em sinergias com outros órgãos do dito grupo. Não estou apenas a falar do Eixo do Mal. A Luís Aguiar-Conraria ocorreu logo o caso dos funcionários públicos que, pelos vistos para ele, deverão estar a receber sem nada fazer. Alguns poderão estar, outros não. Depende. Felizmente, não explicitou os professores. Até porque ele é professor. Embora naturalmente “superior”, o que tem outra dinâmica, Não sei se agora à distância. Em casa, recebendo o mesmo. Sinceramente, não sei. Eu continuo a fazer o mesmo que fazia antes da pandemia, presencialmente, porque mesmo que existam casos em meu redor, tenho um véu protector de “baixo risco”. Ainda pensei, contra os meus hábitos, mandar-lhe um mail, uma mensagem a alertar para alguns factos, mas desisti, porque em outros casos, anteriormente, com outras figuras mais mediáticas, não serviu para nada, que as certezas já lhes correm no sangue.