Ontem à noite, na SICN, Luís Aguiar-Conraria (não me esqueci do hífen) clamava contra os que “nada perdem” com esta situação e que era tempo de contribuírem para o esforço dos que estão a perder muito. E eu acho isso de elementar justiça. Até porque quem trabalha e recebe paga impostos para isso mesmo. O problema é que ele não teve qualquer desvio de esquerda e não falou em qualquer contribuição extraordinária dos grandes grupos empresarias que sabemos terem lucros interessantes, mesmo se exercitam hábil contabilidade criativa. Por exemplo, há grupos comunicacionais que se queixam de prejuízos, depois recebem milhões do Estado e a seguir contratam “estrelas”. Ou pagam a quem lá aparece de forma regular a dar opiniões, em sinergias com outros órgãos do dito grupo. Não estou apenas a falar do Eixo do Mal. A Luís Aguiar-Conraria ocorreu logo o caso dos funcionários públicos que, pelos vistos para ele, deverão estar a receber sem nada fazer. Alguns poderão estar, outros não. Depende. Felizmente, não explicitou os professores. Até porque ele é professor. Embora naturalmente “superior”, o que tem outra dinâmica, Não sei se agora à distância. Em casa, recebendo o mesmo. Sinceramente, não sei. Eu continuo a fazer o mesmo que fazia antes da pandemia, presencialmente, porque mesmo que existam casos em meu redor, tenho um véu protector de “baixo risco”. Ainda pensei, contra os meus hábitos, mandar-lhe um mail, uma mensagem a alertar para alguns factos, mas desisti, porque em outros casos, anteriormente, com outras figuras mais mediáticas, não serviu para nada, que as certezas já lhes correm no sangue.
Os professores lidam com dezenas de alunos mas são de “baixo risco”.´Rir para não chorar…
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“A Luís Aguiar-Conraria ocorreu logo o caso dos funcionários públicos que, pelos vistos para ele, deverão estar a receber sem nada fazer.”
Isso é falso. Eu explicitamente disse que não era só os funcionários públicos, mas sim todos os que não tinham perdido rendimentos.
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Caro Luís Aguiar-Conraria,
não vi a sua intervenção na SICN mas li a sua coluna no Expresso, da qual sou assíduo leitor. Com gosto, diga-se. Estive para lhe escrever diretamente para o email que consta no semanário. Não o fiz, pelos motivos que o Paulo aqui invoca. Perda de tempo. Uma vez que chegou até aqui, não resisto a fazer alguns comentários.
1- Pelo que leio dos seus artigos esperava de si argumentos mais elaborados e menos, como dizer, populistas;
2- Pedir um imposto extraordinário a quem nada perdeu também engloba os médicos? Enfermeiros? Só para falar de profissões reconhecidas. Andamos todos a clamar por compensar estas profissões com salários que valorizem o seu reconhecido trabalho e vem o Luís propor um imposto extraordinário, que, certamente, os englobaria, ou seria só para alguns?
3- O resto da Função Pública não está a esforçar-se nesta crise? Os professores não estão a dar o seu melhor para enquadrar alunos, famílias, manter de pé escolas em perfeito colapso, as quais estão entregues a si próprias? O seu esforço não merece o salário recebido, sem cortes? Os funcionários da SS não fazem o seu melhor no caos em que vivem?
4- Não pagou a FP um elevado imposto extraordinário nos últimos anos da crise financeira? Talvez não. Provavelmente a COVID também será culpa da FP que não pode ver os seus salários melhorados em períodos de crescimento económico, para a despesa não descambar, e terá de os ver reduzidos, a bem da Nação, em períodos de crise. Já todos percebemos.
5- Bem sei que disse todos, não só a FP, e que também é FP. Mas por que motivo todos aqueles que não perderam rendimentos, até agora, têm de ser colocados em pé de igualdade, diria mesmo discriminados negativamente, com: empresas com elevados lucros e que despedem funcionários; grupos económicos com sede fiscal em outras paragens ou com empresas que fogem ao fisco e que fazem tudo para ludibriar o Estado (casos documentados na imprensa).
6- Fora da FP: os funcionários (sim funcionários/trabalhadores e não colaboradores) dos grupos de distribuição alimentar, não trabalham arduamente? Os seus salários miseráveis seriam sobrecarregados com mais um imposto por não terem perdido rendimentos? Os funcionários dos CTT com elevado volume de entregas, também estariam incluídos? Estamos todos no mesmo patamar? ou voltaríamos aos ricos que ganham mais de 1000€ mensais?
7- Menos percebo este imposto num período que se exige consumo, consumo e mais consumo para dinamizar a economia. Quem tem rendimentos intocados não está a consumir e aforra. Mas, com propostas como a sua também não vai consumir, pois ficará à espera do saque. Quem for precavido vai esperar, pois muitas teorias iguais, parecidas e piores do que a sua irão surgir. Já vimos este filme. Várias vezes.
Cordialmente.
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Quanto a “estarem a receber sem nada fazer” é uma interpretação sua. Eu não disse nada que se assemelhe a isso. Mas, permita-me que lhe diga, é uma interpretação completamente estúpida, nem que mais não seja porque sou funcionário público.
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Exato. Só um estúpido muito grande é que vai propor na televisão receber menos. Haja outros que recebam menos. Ora, essa!…
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Já agora: Paulo, lembraste-te do hífen, esqueceste-te do ‘n’.
Estás como aquele fado:
‘Fechei a porta à desgraça,
entrou-me pela janela.’
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Ando disortográfico… Não há post que não me saia mosa do teclado (ou falte, neste caso). 😉
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Mmmmm… como escrevi, é raro certas figuras reagirem a bem a qualquer crítica e não raro respondem com base na adjectivação.
Pois… se for rever a sua intervenção perceberá que o que escrevi não é falso.
Porque o “todos” é indefinido.
E certamente encontrará nas mesma intervenção que só especificou, nomeando, uma categoria de trabalhadores, os “funcionários públicos”. Que o seja formalmente, não inibe o que escreveu. Apenas poderá acontecer que estava a pensar em “outros” funcionários públicos.
Mantenho pois o que escrevi. Que, quando falou nesses “todos”, foi logo a bater nos do costume.
Aliás, eu posso citar-me sem receio:
“Ontem à noite, na SICN, Luís Aguiar-Conraria (não me esqueci do hífen) clamava contra os que “nada perdem” com esta situação e que era tempo de contribuírem para o esforço dos que estão a perder muito. E eu acho isso de elementar justiça. ”
Como se vê, respeitei o que afirmou (pensamento e verbo) e só depois passei para a especificação.
A questão da interpretação ser “estúpida” ou não depende muito – e não só desde as derivas pós-modernas acerca do valor da linguagem – da perspectiva de cada um. Por exemplo, eu não considerei “estúpida” a sua intervenção, porque não a acho nascida de estupidez. Nem o acho estúpido, muito pelo contrário.
A usar termos para a intervenção, nem sequer optaria por adjectivação, muito menos essa que revela pouca imaginação. Haveria farpas muito mais adequadas.
Mas muit’agradecido pela presença no meu humilde quintal.
Cumprimentos extensivos a quem o tenha ajudado a encontrá-lo (ao quintal, claro).
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O Evangelho segundo o PAN
O cura estava irado. Cria mas não queria, podia mas não pedia (mas perdia!), enfim, um novelo de razões e pouca água na fervura. Sendo a divindade uma abstração não deveria ser invocada para problemas tão concretos.
— Valha-me Deus! Vocês não têm um pingo de caridade!
A principal apoquentação? A quem se deve proteger quando os desmandos não permitem que haja proteção para todos.
— Do ponto de vista de “Sua Santidade” — ironizou o Morgado —, os que estão mais próximos do céu são os que precisam de maior incentivo para ter esse último passo alargado?
O cura bramia e a cada nova provocação ameaçava apoplexia.
— Vossemecê sabe que, seja qual for a ordenação, alguém será primeiro e alguma alma quedará para o fim. Em tempos de maior afluência, até para entrar no Paraíso haverá fila ordenada!
— Joaquim da Coxa, Deus me perdoe se na minha fraqueza não te abençoar a nora no altar e os teus netos tiverem avô sem extrema unção. Se teimares em anunciar esse plano, nem o Bispo de Beja me obrigará a encaminhar-te a alma para os caminhos que te apartariam do Demo.
— Morgado, explica-lhe tu que és homem de raciocínio.
— Reverendo, em resposta a solicitação do nosso ilustre presidente da junta, Joaquim Fazendas Roçadas da Coxa, peço que me escute e apenas me excomungue no fim.
O cura engoliu o isco uma última vez, iludido pelo compungido arquear da sobrancelha direita do Morgado.
— Em primeiro lugar, temos de considerar o direito dos cidadãos a terem uma vida plena, gozada em saúde, e a verem os seus netos abespinharem-se quando lhes derramam água na moleirinha sobre a pia batismal.
O cura semicerrou um olho antevendo razões para desconfiar.
— Depois, devemos considerar a maior eficácia na proteção dos paroquianos consoante a administração da vacina seja feita de manhã ou ao deitar.
A testa do pároco enrugou-se de desespero mas o Morgado fintou-o com uma promessa de acertar a lógica.
— Por fim, temos de pensar nos que mais de perto contactam com as crianças e nos que transportam bens essenciais para a população, como é o caso do abastecimento de aguardente para a venda. Por tudo isto, o candidato mais óbvio é o que o senhor presidente da junta anunciou.
O padre aguardou a conclusão solene e apertando os lábios procurou recompor-se. Pegou no barrete e encaminhou-se para a porta da venda em passo processional. Antes de atravessar a soleira ,encarou-me e proferiu friamente:
— Se vocês usarem a única dose de vacina contra a gripe que a maldita Mãe-de-Santo que anda por esta paróquia a fazer o trabalho do Demo e a atentar contra a harmonia das famílias cristãs recebeu este ano na botica …
Estacou tentando mais uma vez dominar os humores coléricos que desmanchavam a solenidade da ameaça. Agitando um dedo em riste, como um qualquer maestro que chicoteasse uma orquestra que se recusasse a levar a música até ao clímax, vociferou:
— Ao Rosmaninho!! — e fungou sobre o nome cuspido com desdém —, no próximo Domingo a Homilia versará sobre as virtudes do consumo da carne de burro para os debilitados e engosmados em tempos de pandemia. Se, por distração do Altíssimo, vos abrirem o caminho do Paraíso, não ireis certamente percorrê-lo na garupa de um burro vacinado!
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O problema é que ele na SICN deixou “escapar” algo que não fez imprimir no artigo no Expresso.
O contraditório que ele aqui apresentou só seria válido para o artigo escrito, não para a intervenção televisiva, em que terá estado menos “cuidadoso”.
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Ficou-me um paradoxo encravado no sapato… se é apenas minha interpretação a parte dos funcionários não estarem a fazer nada … o que justificaria que passassem a receber menos ou a pagar mais? Solidariedade? Talvez. Resta saber se não há outros meios para o Esatdo acudir a uns sem tirar a outros.
Até porque… a avaliar por algumas amofinações com o Novo Banco, os contratos são para cumprir r pagar por inteiro e atacado.
Não é por acaso que o resto do que escrevi não foi logo adjectivado.
Ou ainda venha a ser… embora eu espere um pouco mais de esforço lexical. Caramba, eu mereço coisa menos “básica”, apesar de ser um professor “básico”.
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O senhor Luís Aguiar-Conraria mais o seu doutoramento feito em Boston, que ele não se cansa de sublinhar, fala muitas vezes na sua página do Facebook dos professores e do ensino público para os desqualificar. No tempo do confinamento afirmou que o governo não retornava ao ensino presencial por influência da Fenprof e dos professores claro está, insinuando que eles preferiam o ensino a distância. E há mais boquinhas do género. Ainda esta semana escreveu sobre a tolerância de ponto decretada pelo governo: “Os professores sem aulas à segunda feira podem usar a tolerância de ponto na 4a feira?
É para um amigo.”
Enfim coisas de alguém que se auto-intitulou de “parvo”.
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Eu conheço as “tendências” de LA-H a esse respeito.
Provavelmente esse amigo dele terá “folga” à 2ª e a ponte não o terá animado.
Esse tipo de coisa é lá com ele e fica bem na tertúlia balsemânica.
O que eu não aceito de bom grado é que depois digam que não disseram exactamente uma coisa, apenas porque antes usaram um pronome indefinido.
No meu caso, assumo os “inconseguimentos” quando acontecem. Ou emendo-os. Não me encolho atrás de adjectivos.
Mas neste caso nem terá sido “inconseguimento”.
Foi mesmo o que foi, lá diria o Bocage acaso andasse por aí.
🙂
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Que Honraria, Paulo!
Mas vais ficar com o paradoxo atravessado. Solidariedade ou… talvez voluntariado? Depois de ver aquela coisa da SPM já estou por tudo… podemos começar com um dia de salário para a Nação!
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