Coisas Boas De 2020 (Apesar De Tudo)

  • Livros (lidos em 2020, o que não significa editados em 2020). Por ordem alfabética do apelido e não em esquema valorativo. Nada exaustivo, por falhas de memória.

Woody Allen, A Propósito de Nada (memórias)

Nicolas Barral, Ao Som do Fado (bd)

Franco Berardi, Futurability. The Age of Impotence and the Horizon of Possibility (ensaio)

Ed Brubaker e Sean Phillips, Criminal (bd, vários volumes)

Jonathan Crary, 24/7 (ensaio)

Afonso Cruz, Jesus Cristo Bebia Cerveja (ficção)

Roger Eatwell e Matthew Goodwin, National Populism. The Revolt Agains Liberal Democracy (ensaio)

Bernardine Evaristo, Girl, Women, Other (ficção)

Adam Greenfield, Radical Technologies: The Design of Everyday Life (ensaio)

Frank Furedi, Where Have All the Intellectual Gone? (ensaio)

Kim Young-Ha, Diary of a Murderer (ficção)

Michel Houellebecq, Serotonine (ficção)

 Masayuki Kusumi e Jiro Taniguchi, O Gourmet Solitário (bd)

Valter Hugo Mãe, Contos de Cães e Maus Lobos (ficção)

Yoko Ogawa, The Memory Police (ficção)

Fred Vargas, Um Lugar Incerto, Les Temps Glaciaires, etc (ficção, policial)

Charles Yu, Interior Chinatown (ficção)

Desilusão maior: Joel Dicker, O Desaparecimento de Stephanie Mailer.

Melhor início, ainda em 2020: Martin Amis, Inside Story.

  • TV/Filmes (basicamente séries de TV, que agora, em muitos casos, são escritas com muito maior cuidado e originalidade dos que os filmes, reduzidos às coisas da Marvel/Disney e pouco mais; não consigo ter tempo para o canal da Amazon e não vou assinar a Disney só para ver The Mandalorian). Como nos livros, não quer dizer que seja tudo de 2020, mas que vi durante este ano. É tudo da Netflix ou HBO, salvo erro). Vão mal disfarçadas as minhas favoritas.

A Casa de Papel (série, 4 temporadas)

After Life (série, 2 temporadas)

Better Than Us (série, 1 temporada)

Comedians in Cars Getting Coffee (série, 6 temporadas)

Dolemite is My Name (filme)

Emily in Paris (série, 1 temporada)

Gangs of London (série, 1 temporada)

Giri/Haji (série, 1 temporada)

Killing Eve (série, 3 temporadas)

Jeffrey Epstein, Filthy Rich (série documental)

Locke and Key (série, 1 temporada)

Love, Death and Robots (animação)

Mindhunter (série, 2 temporadas)

Mrs. America (mini-série)

Pátria (mini-série)

Roadkill (série… parece que por terminar)

Rouge One (filme; sim, vi com atraso…)

Sucession (série, 2 temporadas)

The Last Dance (série documental)

The Outsider (mini-série)

The Queens’s Gambit (série, 1 temporada)

The Social Dilema (documentário)

The Undoing (série, 1 temporada)

The Wire (série, 6 temporadas)

What We Do In The Shadows (série, 2 temporadas)

White Lines (série, 1 temporada)

Em desenvolvimento: The Stand (a adaptação do livro do Stephen King), The Affair (ainda vamos na 2ª temporada cá em casa), espectáculos de stand-up, de que recomendo, em extremos bem afastados, os de Anthony Jesselnik e Jim Gaffigan. Rever o Twin Peaks como a paródia que era e há 30 anos não se percebia tão bem. Sei que devia ver o Peaky Blinders. mas não dá para tudo.

5ª Feira, 31 De Dezembro

Último dia real de “pausa”, último dia do ano e último dia da década, para quem sabe contar bem os anos, o que está longe de ser a regra. E quanto à década, há que dizê-lo com frontalidade e todas as letras no seu sítio, foi uma década de merda. Seja numa perspectiva “corporativa” ou numa mais global. Começámos com o recongelamento e acabamos com um imprudente não reconfinamento porque a economia não poder parar e sem escolas a funcionar, parece que ela pára. Pelo meio tivemos a troika e o “mais com menos” e esta ou aquela variante do “se não estão bem, emigrem!”, depois veio a geringonça e o amestramento da contestação sindical tradicional ao serviço de um “bem maior”, enquanto se prometia uma reversão que o ronaldo, desculpem, centeno de harvard y eurogrupo (mais recentemente elevado a barão do banco de portugal) reverteu em sede fiscal sem dó, nem piedade. Levámos ainda com muita conversa sobre perfis e competências, inclusões e flexibilidades, para o século XXI, a que a pandemia tirou o chinó à la trump, demonstrando que temos uma escola do século XIX porque o nosso modelo de desenvolvimento económico e coesão social é do século XIX e não desencalha, nem à bazucada. O #EstudoEmCasa foi um sucesso inútil e o E@D deu origem a uma sigla modernaça, mas sem gtande significado.

Depois de muita conversa sobre os males da defesa de “interesses corporativos” passámos a ter o Parlamento polvilhado de representantes de interesses de identidades mais ou menos incertas, do lulu da senhorita solitária ao dois tons da joacine e andré, não esquecendo o senhor distinto das impecáveis camisas, com os botões à distância certa para um ficar por fechar e mesmo assim não parecer um canto pimba a caminho da segunda canção num programa dominical da tarde. O presidente foi funcionando como um daqueles bonecos de mola, que saltam da caixa, conforme a vontade do cliente, neste caso do actual PM, que o soube ensarilhar ainda melhor do que ao Jerónimo, que a Catarina escapou-se um dia sem querer pagar a conta de mais um orçamento. Num dia o presidente apelou ao confinamento, no outro tirou selfies à beira-mar. Num apelou à confiança em que tudo iria acabar bem, no outro lamentou-se de que as coisas não estavam nada bem. Num dia vacinou-se em topless, no outro mandou mensagem solene à Ucrânia, porque lhe limpámos um cidadão e só o admitimos ao fim dos meses suficientes para nascer um bebé robusto.

Claro que há mais, muito mais, até coisas boas que as houve, sim senhor@s, mas foi quase essas foram quase todas em casa, por encomenda online ou em streaming. As vacinas chegaram, mas parece que muita gente decidiu regredir mentalmente até ao período anti-penicilina. O Trump parece que se foi, mas ainda não foi. A Europa existe, sem os bretões d’além-Mancha, mas com húngaros e polacos tão saudosos de uma boa ditadurazinha ou, como agora se diz em nova teoria política, uma “democracia iliberal”.

O 2020 vai-se embora deixando escassas saudades, assim como a década inteira. Há quem se tenha safado bem, mas foram quase só gestores de empresas falidas, em falência técnica ou em regime de oligopólio abusivo. Mas isso sempre foi assim e assim será, não adianta esperarmos outra coisa. É como o processo do Sócrates, algo que veio para ficar.

Podia escrever outra coisa, com outro tom, com uma mensagem de esperança, mas não seria a mesma coisa. E nem seria verdade, por muito que agora ela ande relativa e conforme as perspectivas.

(espero que fique registado em acta que apenas em apostilha se vai referir que o Sporting conseguiu passar o Natal e vai para o Ano Novo em primeiro lugar, mas isso é apenas um engodo a ver se me deixam bem disposto…)

Pelo JL/Educação

Mantendo a grafia do texto original.

(umas páginas antes, há quem com responsabilidades nisto, insista em atirá-las para outros, deve ser por causa de um “medo ancestral” em assumir erros)

Todos conhecemos na nossa vida de alunos aqueles colegas que, por maior asneira que fizessem, nunca admitiam o erro e diziam sempre que a culpa não era deles, mesmo que fossem apanhados com a mão na bombinha de mau cheiro e os bolsos cheios de muitas outras. Nunca tinham sido eles. Chegando a professores, voltámos a encontrar gente assim, mas não apenas entre os alunos. Aliás, parece que alguns desses antigos colegas ou conhecidos cresceram e, chegando a adultos, nada perderam na capacidade de desresponsabilização, apenas sofisticando a capacidade de apresentar, com cara séria, as desculpas mais esfarrapadas para as novas asneiras, só que agora com implicações mais graves.

Na área da Educação, ao nível dos decisores, a capacidade para alijar fracassos e ignorar erros só tem paralelo na habilidade para assumir os sucessos como seus, na totalidade ou, em casos de extrema impossibilidade em guardar para si todo o mérito, apenas em parte.

Isto vem a propósito dos resultados conhecidos recentemente acerca do desempenho dos alunos portugueses no TIMMS 2019, com destaque para os dos alunos do 4º ano em Matemática. Pela primeira vez em 25 anos, o desempenho piorou e, como seria de esperar, não demoraram a surgir as declarações desencontradas sobre a responsabilidade de tal insucesso. Quando teria sido do mais elementar bom senso esperar um pouco, analisar os resultados e procurar explicações que prescindissem de um oportunismo político simplista, os actuais responsáveis políticos surgiram a culpar o anterior ministro da Educação. Em título do jornal Público de 8 de Dezembro de 2020 lia-se que o “Governo culpa políticas de Crato”, e o secretário de Estado João Costa foi citado a afirmar “que a opção pelo currículo e metas muito exigentes fez baixar níveis de desempenho superiores” (Jornal de Notícias, 12 de Dezembro de 2020). Como seria de esperar, o visado surgiu a defender-se do que considerou serem “acusações irresponsáveis e falsas” e declarou que “as Metas Curriculares, que estavam em vigor em 2015 e pelas quais foram preparados os alunos então avaliados, não sofreram alterações até hoje. O que mudou foi a avaliação, ou a falta dela, e foi a ‘flexibilidade curricular’ e a natureza vaga das ‘aprendizagens essenciais’.”

Replicando, em artigo no Público de 17 de Dezembro, o secretário João Costa apresenta o que considera serem sete factos sobre o assunto, declarando que “estes alunos trabalharam ainda com os Programas de 2007 – revogados antes do prazo normal de seis anos de vigência e sem avaliação – e beneficiaram do Plano de Ação da Matemática – cujo relatório de impacto e eficácia não foi divulgado” e que de todas as medidas do governo entrado em funções “apenas o fim dos exames de 4.º ano afetou os alunos que participaram no TIMMS 2019”.

Estas longas transcrições têm como finalidade fornecer um contexto minimamente fiel quando às posições em confronto e à sua coerência (ou falta dela) e demonstrar até que ponto, em Educação, o “insucesso” é sempre culpa do outro, de alguém, mas nunca dos próprios. Como nos antigos recreios quando alguém partia o vidro da janela da sala de aula e depois culpava a brisa de passagem.

Os “factos”, para usar a terminologia do secretário João Costa, parecem por demais claros e dificilmente contornáveis. Os alunos do 4º ano que fizeram o TIMMS 2015 passaram todo o primeiro ciclo no mandato de Nuno Crato, enquanto os que fizeram o TIMMS 2019 passaram todo esse ciclo já com o secretário João Costa (e o ministro Tiago Brandão Rodrigues, claro). Os primeiros deram continuidade à tendência de melhoria dos resultados desde 1995 e os segundos inverteram-na pela primeira vez. A correspondência temporal é demasiado clara e tentadora para não se estabelecerem relações de causalidade. Curiosamente, não são as afirmações do ex-ministro Nuno Crato que mais comprometem os seus sucessores no insucesso, porque ele mistura erradamente a “flexibilidade” na questão e permite ser desmentido por aí. Os alunos no 4º ano em 2019/20 não passaram (felizmente, na minha opinião) pela experiência da chamada “flexibilidade e autonomia” curricular, mas passaram pelo fim das provas finais do 4º ano e pela sua substituição pelas inusitadas provas de aferição do 2º ano.

Essas “provas finais” que alguns gostam de designar como “exames” para acentuar uma conotação negativa que despertaria um “medo ancestral” nos nossos alunos de acordo com a presidente da Associação de Professores de Matemática, foram eliminadas logo no final de 2015 numa iniciativa do Bloco de Esquerda que teve o apoio de toda a esquerda parlamentar e o aplauso dos então novos responsáveis pela Educação. Os alunos que iniciaram o Ensino Básico em 2015/16 chegaram ao 4º ano em 2019/20 (facto!) sem essa “sombra” ou “medo ancestral” (opinião) a pairar sobre eles. Ou, numa linguagem mais objectiva, fizeram todo o primeiro ciclo de escolaridade com a certeza de não passarem por uma prova final com um peso de 30% na avaliação e ouvindo, tal como famílias e professores, dizer o pior possível desse tipo de prova e o melhor de um processo de avaliação sem qualquer verificação externa. Ou sem essa “responsabilização” acrescida, afirmo eu, que sou pai de uma aluna que passou em 2012/13 pela dita prova e ainda hoje gosta muito de Matemática.

Quando o secretário de Estado escreve que “apenas o fim dos exames de 4.º ano afetou os alunos que participaram no TIMMS 2019” talvez pudesse tirar algumas ilações desse “facto”. Se “apenas” isso “afetou os alunos”, então talvez tenha afectado de um modo diferente do que repetidamente se andou a afirmar como se fosse grande certeza. Ao fim das “provas finais” e ao afastamento do “medo ancestral” não correspondeu uma melhoria do desempenho, antes pelo contrário. E se a escola é para ensinar e aprender e se quando os resultados melhoram, por exemplo nos PISA, se gosta de reclamar o mérito ou – quando a cronologia não ajuda – se opta por declarar que a paternidade é colectiva, seria bom que depois não se fugisse aos fracassos.

É meu entendimento, em contradição clara com a retórica “anti-exames” e com muita da demagogia que nos últimos anos dominou o discurso educativo oficial acerca do “sucesso”, que as “provas finais” não conduziram a piores resultados ou ao aumento do insucesso e escrevi-o desde o momento em que anunciaram, com fanfarronice, o seu extermínio. A acreditar no TIMMS 2019, os “factos” confirmam essa minha percepção. Os resultados pioraram com a eliminação do que, de forma voluntariamente equívoca, se apresentou como “barreiras” à progressão dos alunos. Pelos vistos, não eram barreiras às suas aprendizagens. Parece claramente pior o balanço de um percurso “plano”, sem a tal responsabilização acrescida. Parece-me que se pode considerar um “facto”. Resta saber até que ponto esta tendência se manterá em 2023. Espero, sem qualquer cinismo, que não.

Como professor e encarregado de educação desgosta-me muito assistir a um passa-culpas público entre responsáveis que deveriam assumir com clareza o que corre bem, menos bem ou mesmo mal. Há poucos dias tivemos o exemplo do rei da Suécia a admitir que as políticas praticadas no seu país em relação à pandemia tinham sido erradas e produzido efeitos “terríveis” quanto ao número de mortes. A opção por não fazer imposições e deixar tudo à “responsabilidade individual” foi um fracasso. Nem de propósito, também foi na Suécia que, quando por cá se andaram a apregoar certas medidas descentralizadoras e liberalizadoras no sistema educativo, apresentando o modelo sueco como exemplo, os responsáveis governamentais consideraram ter errado e iniciaram uma reversão dessas políticas.

Quando se defende que não deve existir “revogação de legislação sem avaliação do que está em vigor, mesmo que isso torne os processos mais morosos”, como escreveu João Costa no Público, até que ponto estaria a pensar na curta vida das “provas finais” do 4º ano? Não compreenderá que foi dos primeiros a promover ou apoiar a reversão de políticas, com base em preconceitos ideológicos, sem a devida avaliação? E que, quando aparece a primeira avaliação externa e é desfavorável, recusa qualquer responsabilidade e passa a factura do “insucesso” para o antecessor?

Em 2015, alguém escreveu que “o sucesso escolar não tem dono”. Estava-se perante bons resultados que correspondiam a uma governação alheia. Cinco anos depois, parece que é o insucesso escolar que não tem dono.

Factos são factos, mesmo em tempos de pós-verdade e de malabarismos linguísticos. Revela falta de coerência e de coragem política.

4ª Feira

Última saída do ano para as sempre esperadas auto-prendas que, como seria de esperar, recaíram quase em exclusivo em livros. Uma delas foi um dos “evangelhos” da clique ideológica no poder na área da Educação. Para ler o original e não as réplicas e perífrases que abundam por aí, nem sempre com a citação do autor: Edgar Morin. De quem li, em tempo das edições da Europa-América, com especial prazer O Homem e a Morte e O Paradigma Perdido. De quem fui lendo as divagações, de forma pouco sistemática, sobre o espírito dos tempos e a Educação desde o início dos anos 90, quando se tornou aquilo que os seguidores consideram ser uma espécie de guru do “pensamento complexo”. Muito do que Morin escreveu nas últimas décadas é atractivo, intelectualmente interessante e em alguns momentos estimulante, mesmo se não propriamente inovador. Digamos que ele faz confluir contributos de áreas que outros autores desenvolveram e que ele conseguiu sintetizar de um modo razoavelmente acessível.

Na área da Educação, por cá, o seu legado (que ele explicitamente faz remontar às concepções de Rousseau) tem sido pilhado de um modo equivalente ao que aconteceu a Paulo Freire, mas nem sempre com a honestidade da citação da inspiração para prosas que vão de introduções a diplomas legais a powerpoints de formações recicladas. Só que em alguns casos, aproveitando de Morin o mais superficial dos conceitos e deixando de parte a coerência com a prática correspondente, em particular aquela que nos previne contra as certezas. Aquelas que os autores de Perfis e 54s e 55s apresentam como absolutas e não passíveis de crítica. Pessoalmente, partilho algumas das concepções de Morin, em particular aquela da complexidade e da necessidade de não dividirmos tudo entre bons e maus, nós e os outros, virtuosos e “cornudos”, para usar a terminologia patusca do ministro Tiago.

Estamos ameaçados, sem cessar, de nos enganar sem o saber: Estamos condenados à interpretação, e temos necessidade de métodos para que as nossas percepções, ideias, visões do mundo sejam o mas fiáveis possível.

De resto, quando consideramos as certezas, compreendendo as científicas, dos séculos passados e consideramos as certezas do século XX, vemos erros e ilusões de que cremos estar curados. Mas nada nos diz que somos imunes a novas certezas vãs, a novos erros e ilusões não detectadas.

Edgar Morin, Enseigner à Vivre. Manifeste pour Changer l’Éducation. Paris: Babel 2020 (original de 2014), pp. 14-15.

Interessante

Embora circunscrito à “1ª vaga”.

Democracy, State Capacity, and COVID-19 Related School Closures

This paper investigates the institutional determinants of the timing of COVID-19 related school closures around the world, focusing on the role of democracy and administrative state capacity. Relying foremost on Cox proportional hazard models of up to 166 countries observed daily between February and April of 2020, the paper finds that other things being equal, democratic countries tended to implement school closures quicker than those with a more authoritarian regime, while countries with higher government effectiveness tended to take longer than those with less effective state apparatuses. A supplementary analysis that distinguishes between the two democratic dimensions of contestation and participation indicates that it is the existence of fair and competitive elections that prompts democratic leaders to respond more rapidly. Lastly, auxiliary evidence indicates that demography and family systems may also help determine countries’ pandemic responses.

3ª Feira

Há que reconhecer quando um adversário consegue vencer, nem que seja à distância, a médio prazo, uma guerra. Em 2013, fui a um Congresso da ANDAEP onde Maria de Lurdes Rodrigues se lamentou de os directores não terem ainda desenvolvido o “espírito de corpo” (ou expressão equivalente, não fui consultar os apontamentos da época) que ela lhes tinha procurado incutir, para melhor aplicarem as políticas e, implicitamente, se afastarem da generalidade dos docentes.

A finalizar 2020, penso que a “reitora” já não afirmaria isso, pois boa parte dos directores (e nem sempre os mais antigos, que há por aí uns “novos” que parecem ter refinado na peneirice arrogante) já parece sentir-se feito de outra matéria do que a globalidade dos professores que urge amestrar ou domesticar nas últimas bolsas de protesto ou resistência a abusos.

Calma, eu sei que nem tod@s são assim. Mas, infelizmente, cresce o número dos que se acham dotados de uma espécie de inspiração divina, que lhes deveria garantir um estatuto separado, até em termos de carreira. Como se vai percebendo agora que têm de passar, na sua avaliação, por um sistema de quotas parecido ao do resto dos zecos. E acho mal, porque discordo desse sistema. Mas, ao mesmo tempo, acho que o karma é lixado e, por vezes, escreve direito por linhas tortas. Que os directores queiram uma revisão do seu sistema de avaliação, compreendo, pois eu também quero a revisão do meu. O que “descompreendo” é que publicamente reclamem só para si o que não aceitam aos outros e ainda pressionam para que seja aplicado.

A add é uma porcaria que só se tornou possível pelo amochar de órgãos de gestão e centros de formação, que nunca se ergueram a contestar o modelo, nem sequer nestes tempos de pandemia. Alteraram-se calendários escolares, eliminaram-se provas de aferição, alteraram-se as regras dos exames do Secundário. Mas a add ficou tal como estava, sem qualquer respeito por regras básicas de segurança sanitária, obrigando-se os docentes avaliadores externos a andar de escola em escola, sem que quase ninguém se opusesse a tal.

Virem os directores reclamar agora que devido às quotas, mesmo tendo nota para Excelente ou Muito Bom vão cair no Bom é um bocado caricato, quando essa é a realidade de todos aqueles que andam a dar aulas e a ficar anos a fio em listas de espera, porque tiveram menos uma décima do que o vizinho do lado. O modelo de avaliação dos directores é injusto? Só esse é que é injusto?

Tenham dó, cresçam e deixem de baixar as bragas cada vez que falam com o shô secretário. Até é ele quem tem agora essa competência e tudo. Nem se pode desculpar com os outros, como foi longa prática em tanta matéria. Mas, se for “sensível” a este protesto dos directores, espero bem que o resto do maralhal não fique a assistir, caladinho e sossegado com medo do horário e turmas do ano seguinte, porque mudar a avaliação de uma micro-corporação, por muito “útil” que seja no puxar da trela aos zecos, e deixar os outros na mesma, seria de uma falta de decoro a todo a prova.

Mas nada que me espantasse nos herdeiros da “reitora”, a tal que impôs a avaliação aos outros, mas se negou ela a ser avaliada para o cargo e conseguiu, mesmo assim, ser escolhida.

(e isto não um texto anti-director@s, como outros não são textos anti-sindicatos… esta é uma posição crítica quanto à falta de coerência e solidariedade daqueles que acharam que, por muito se baixarem, não ficariam à mão de semear para levarem o clister …)

Um Artigo Muito Infeliz

É Natal, mas há coisas que caem muito mal, por muito que a relação pessoal com o autor até seja boa. Este artigo do Filinto Lima é uma deles. Não me vou alongar em comentários porque discordo de quase tudo o que está escrito e aquilo com que concordo está apresentado de um modo errado, porque dirigido aos interesses micro-corporativos de pouco mais de 800 ex-professores, alienando a grande maioria dos docentes que não vivam da cascata de nano-favorzinhos locais. Transcrevo alguns excertos significativos, enegrecendo as partes que acho sobremaneira infelizes, porque revelam lacunas claras na representação da realidade, mais parecendo um daqueles louvores no Diário da República, só que em causa muito própria.

É o momento oportuno para realçar o trabalho extraordinário dos diretores e das suas equipas diretivas, dos coordenadores de professores e do pessoal não docente, que se devotaram de alma e coração, mormente aos alunos, a maioria dos quais arredada do espaço escolar de 16 de março até ao início do ano letivo atual. Seis meses é muito tempo!

Os líderes das escolas públicas portuguesas constituem um órgão unipessoal, que faz uso da colegialidade de opiniões, em auscultações frequentes e participadas, quando da tomada de decisões; são eleitos por um órgão representativo – conselho geral – dos professores, do pessoal não docente, dos pais e encarregados de educação, dos alunos, do município e da comunidade local – inviabilizando a possibilidade da prática adversa dos jobs for the boys; o seu cargo é limitado a um máximo de 4 mandatos – de 4 anos cada – (…).

E, no entanto, os 812 diretores existentes no sistema educativo nacional dispõem de um modelo de avaliação injusto e que reclama uma alteração urgente, pedido que será concretizado no próximo ano civil, sejam os políticos sensíveis a tal desígnio. Invocam, ainda, maior apoio na sua ação, nomeadamente das serviços centrais do Ministério da Educação (…).

Os dirigentes máximos das escolas revelam-se decisivos, para além do mais, na obtenção dos resultados positivos na Educação, expressos recorrentemente nos últimos anos, quer interna quer externamente, mau grado a escassez de recursos humanos, profissionais imprescindíveis e potencializadores das melhorias mais acentuadas; na gestão extraordinária que realiza(ra)m em relação à pandemia, eixos de referência para o sucesso das medidas adotadas no primeiro período letivo; no modo insigne como gerem diariamente os estabelecimentos de ensino e que colhem a estima da generalidade das comunidades educativas que norteiam.

Por isso, neste final de ano, saúdo os nossos diretores, subdiretores, adjuntos e assessores, pelo trabalho louvável que têm efetuado na liderança das suas comunidades educativas, quantas vezes sem o sentido e merecido reconhecimento, legal e institucional.

2ª Feira

Esta é uma semana essencial para que se guardem energias para um novo ano que está longe de ter garantias quanto ao modo como se vai desenrolar. O novo período irá arrancar com tantas dúvidas quanto o primeiro, pois a vacinação da maioria da população acontecerá apenas a partir de Abril e efeitos de qualquer imunização de grupo surgirá apenas lá para o Verão. Pelo que, com os meses mais frios a chegar, os riscos continuam elevados e a semana que acabou (de reuniões desnecessárias a compras em bando, passando por regras muito pouco rigorosas na quadra natalícia, para controlar danos políticos) não irá ajudar muito aos números da segunda e terceira semanas de Janeiro.

E já se percebeu que “certezas” ou não há ou são as mesmas que se foram instalando até agora: aulas presenciais até ao limite do razoável (não vá uma meia dúzia de articulistas mais mediáticos aborrecer-se como o actual PM) e transição digital só muito devagarinho, pois vamos começar 2021 e os meios disponibilizados para qualquer novo E@D nem atingem 10% do prometido, sendo que também já ficou implícito que acham que os professores terão de avançar com os seus meios digitais para que qualquer coisa funcione a sério (já pensaram que o E@D pode ser feito a partir dos espaços escolares e não da casa de cada um@?).

2020 vai terminar com a certeza de que o futuro ainda não passou por aqui e 2021 irá começar do mesmo modo, muito fingimento, pouca uva. Muito “estudo” (vai haver também um sobre Educação Literária), pouca consequência em tempo útil, que não seja a constatação da “necessidade de formação dos professores”, porque há clientelas que com isto do digital andam a perder espaço à mesa.