Além-Mancha

Por cá, nem uma coisa, nem outra, porque temos “contágio zero”. E ainda não temos os computadores. Ou melhor, alguns terão, mas não faço ideia quem.

Já agora, se ouviram o matemático Henrique Oliveira, à tarde, na SICN, poderão ter vislumbrado a irresponsabilidade ou confusão que anda por aí na cabeça de certos decisores.

Learning will move online, in contrast to England’s plans for mass testing of students

Children to be tested at schools across Kent, Essex and the capital as Covid rates rise

Opiniões – Jorge Santos

Publicado a pedido do próprio.

Manda quem pode, obedece quem deve…senão levas um processo disciplinar em “cima”!

No dia 12 de agosto de 2018, o Jornal Público noticiava na capa e logo no cabeçalho, o que passo a transcrever:

“Três em cada quatro professores já foram vítimas de assédio moral

Estudo abrangeu mais de 2000 professores. Direções das escolas são apontadas como a maior fonte de pressão. Direções não se revêem no retrato traçado…”

Vem este título e subtítulo a propósito de muitas coisas que se passam em várias escolas, mas que o medo de falar e escrever de alguns colegas, aliados ao medo de represálias, há hipocrisia e há sonsice de outros, aos lambe-botas e aos “beneficiados”, pouco ou nada se denúncia. Para além disso, são necessárias “Boas classificações” para recuperar, o que nos extorquiram.

Os(as) Diretores(as) dos Agrupamentos acumularam um poder gigantesco. Muitos indicam logo na primeira reunião dos Departamentos dois ou três colegas mais submissos e obedientes e os pares que votem. Nomeiam os Coordenadores dos Diretores de Turma, et cetera. Tudo isto resulta na prática, que nos Conselhos Pedagógicos, a fação aliada, obediente, submissa e que não levanta muitas ondas, vai dizer ao Senhor(a) Diretor ou Diretora, “Yes, Sir!”.

Depois, os(as) Presidentes dos Conselhos Geral de Escolas, são amigos ou amigas de vários anos. Até vão a Paris ou a Bruxelas (podiam citar outras cidades europeias) no Erasmus.

Nas SADD (Secções de Avaliação de Desempenho Docente), a maior parte dos elementos dessa Secção, são elementos muito próximos do Senhor ou Senhora Diretora.

Também Direções se dão ao luxo, que neste presente ano letivo, não terem colocado como opção dos alunos do seu Agrupamento, a nova disciplina anual de História, Culturas e Democracia (HCD), destinada aos alunos dos cursos científicos-humanísticos de Ciências e Tecnologias, de Ciências Socioeconómicas e de Artes Visuais do Ensino Secundário. Havia professores no Agrupamento, habilitados para lecionar tal disciplina. Houve uma situação que ocorreu e foi denunciada à IGEC, mas a reunião decorreu bem com a Direção da referida Escola, e saíram todos sorridentes, porque os Senhores(as) inspetores foram informados que foi criada uma disciplina (???) chamada Oficina da Escrita ou Escrita Criativa. Quem denunciou, é que se tramou!

Este grave atentado aos Direitos dos Alunos e dos Professores, pelos vistos, passou incólume, já quem denunciou deu-se mal.

Que opinião escrita tem Sua Excelência, o douto e sapiente Senhor Presidente da República?

Porque é que os mandatos das Direções dos Agrupamentos, não se limitam, como no caso dos Presidentes da República ou dos Presidentes de Câmara? Existem autênticos dinossauros no poder, que dali só para a Reforma ou Aposentação. Será que o poder exerce uma atração patológica? Ou são também os 400 ou 500 euros a mais que fazem a diferença?

Sei que vários diretores ou diretores, quando assumem o “poder” ganham tiques de autoritarismo, prepotência e arrogância. Parece que foram afetados pelo complexo de Húbris e fazem assédio moral, sobre quem pensa diferente ou vê as coisas, sobre outro prisma.

Outros, são estritamente burocráticos e não dão autonomia a quem é criativo ou inovador, sobretudo se não fazem parte do seu séquito ou da sua guarda pretoriana.

Nos Conselhos de Turma, é passada a ideia que só podem ir para a Ata da Reunião, as opiniões gerais, violando os direitos democráticos, a Constituição da República Portuguesa e o Código do Procedimento Administrativo.

Como diz o povo: “Se conheceres conhecer o vilão, põe-lhe a vara na mão”!

A psicologia clínica, social, comunitária, forense e a sociologia dão-me razão. Assim, como a Neurociência!

Gostava de saber, quantos diretores de Agrupamento, demitiram-se ou colocaram os seus lugares à disposição, desde a pandemia, por muitas salas (particularmente frias) e não terem aquecimentos? E por terem turmas com 29 ou 30 alunos, mais o professor e o avaliador?

Porque é que, nem toda a Comunidade Educativa, pode votar para escolher o seu/sua Diretor(a) de Agrupamento? Por exemplo, os candidatos registam o seus programas e projetos educativos numa Plataforma do Ministério da Educação e daí a quinze dias ou três semanas, haveria eleições, em que os alunos a partir dos catorze ou quinze anos (já podem tirar a carta de motociclo), todos os assistentes operacionais, técnicos administrativos, psicólogos e professores, escolhiam das 8:00 às 20:00 a Direção que queriam para o seu Agrupamento (numa 4ª feira ou sexta-feira).

Será que alguns diretores estão também “acima da Lei”?

Atenção, que não meto todos os Diretores ou todas as Diretoras, no mesmo “saco”.

Espero que a “Educação” e as mudanças necessárias neste setor, assim como a “Corrupção”, sejam dois temas fulcrais nestes debates presidenciais que se aproximam.

Termino com três citações:

“Se queres colher em um ano, deves plantar cereais. Se queres colher em uma década, deves plantar árvores, mas se queres colher a vida inteira, deves educar e capacitar o ser humano.”

                                                                    Kawantsu, filósofo chinês, século III a.C.

“Se no passado se vê o futuro, e no futuro se vê o passado, segue-se que no passado e no futuro se vê o presente, porque o presente é futuro do passado, e no mesmo presente é o passado do futuro.

                                                                   Padre António Vieira

“O mundo é um lugar perigoso de se viver, não por causa daqueles que fazem o mal, mas sim por causa daqueles que observam e deixam o mal acontecer.”

                                                                    Albert Einsteim

Boas Festas e um Próspero Ano de 2021 para todos. A esperança é a última coisa a morrer!

Jorge Santos

Phosga-se – Série “As Presenciais” – 4

Pela Madeira:

Apesar da secretaria da educação ter uma certa autonomia em relação ao ME, aqui também temos as regras a cumprir nas escolas, eu como educadora e as ajudantes tivemos de fazer o teste antes de começar a trabalhar com as crianças no mês de junho e os meus colegas  do primeiro ciclo e todo o pessoal não docente fizeram o teste em setembro. Todos usamos máscara excepto as crianças do pré escolar e no edifício onde só estão os dois grupos da pré os horários estão feitos de forma que  as rotinas diárias sejam diferentes (recreio/alimentação).
Passando para as reuniões-temos todas as semanas uma presencial de 2 horas com os colegas dos 2 edifícios -sendo 15 ao todo numa sala. A reunião de avaliação também vai ser presencial, com todos e à tarde vamos receber na sala os pais que quiserem ver a avaliação dos filhos, 17 ao todo, divididos por 3h e meia para não haver encontro entre eles. Isto tudo para dizer que aqui a única diferença é que usamos máscara e no dia da avaliação os pais têm minutos contados…

Alarmistas!

Mas não basta fazer um plano de vacinação para ficar tudo imunizado? Ainda não descobriram o “contágio zero” nas vossas escolas? País atrasado! Cá para mim nem compraram os tapetes do IKEA com arco-íris, que basta colocar à porta e a covide fica logo cheia de medo de entrar.

O que falta a estes tipos para serem uma grande Nação, destemida e o motor económico da Europa é um conraria, um raposo, um dos tavares, malta assim, com fibra, muita visão e sem medos dos biruzezezzzz.

Covid-19. Alemanha encerra escolas e comércio não-essencial até 10 de janeiro

Phosga-se – Série “As Presenciais” – 3

Uma boa síntese do “processo democrático” do debate em muitas escolas.

Amigo, o diretor começou o pedagógico a dizer que ia ser assim. Um colega perguntou se já estava decidido pois o CP é um órgão consultivo, como bem sabes; antes de ele responder eu pedi para falar e lembrei o aumento de casos diários e acumulados, bem como as indicações
da DGS. Estivemos mais de 1 hora [a discutir, mas] como ele já tinha decidido, decidido ficou.
Opinião final: neste modelo de gestão o Reitor é soberano.

Outro caso, não muito diferente, mas pelo menos com votação, que parece ter sido ganha por quem não terá assim muitas turmas.

 Durante este ano letivo, temos tido reuniões online, mas também presenciais. As reuniões de avaliação serão presenciais. Não tivemos, ou não há explicação. Houve quem tenha pedido esclarecimentos à Direção e foi chamado à atenção. A decisão foi tomada em Conselho Pedagógico e só um Coordenador votou a favor de serem online.

(como nas duas localidades em causa, até há Sé Catedral, dá sempre para fazer uma forte benzedura antes da ida para as reuniões)

Domingo

Continua em alta aquela coisa do “espírito de missão” dos professores. Há uns dias recebi de um colega o documento da Sociedade Portuguesa de Matemática que deu origem a uma notícia do JN para a criação de uma bolsa de professores voluntários. O curioso é que na notícia não se identifica o grupo de Matemática como sendo um dos especialmente carenciados (Inglês, Informática, Física e Química ou Geografia, são os nomeados, mas eu acrescentaria ainda o Francês pela experiência de anos anteriores, embora em menor escala).

No site da SPM a coisa é apresentada em termos que me fazem lembrar um part-time para qualquer pessoa que ache que pode dar aulas (ou já deu e tem saudades).

Eu posso?
É ou foi professor? Do ensino básico? Do secundário? Da universidade? Aposentado ou no ativo? É mesmo de si que precisam!

Quanto tempo?
No ensino básico, 90 minutos por semana.
No ensino secundário, 120 minutos por semana.

Esse tempo será suficiente?
Todo o tempo será importante. E em complemento com este programa de professores voluntários SPM há um programa de mentores da Gulbenkian.

Entretanto, algo fica por perceber… o “voluntariado” será puro e duro sem remuneração? E os mentores da Gulbenkian? Recebem, certo? Pelo menos os recrutados pela Teach for Portugal serão por seis meses. E se olharmos para as parcerias, tudo isto parece-me algo anómalo, mas posso ser eu a desconfiar de recrutamentos em modelo praticamente ad hoc para dar aulas no ensino público, até com a chancela final da República Portuguesa, aquela que nos últimos 15 anos pouco ou nada fez para contrariar um processo de precarização das condições de trabalho da docência que, ao que parece, agora poderá servir como uma espécie de estágio para a ” Possibilidade de seres elegível para o Programa de Desenvolvimento de Liderança da Teach For Portugal .”

Ou seja, a miudagem como cobaia para, por exemplo, “jovens profissionais provenientes de várias áreas do conhecimento e com forte motivação para o impacto social”, enquanto quem fez a sua formação e mesmo profissionalização anda aos caídos por aí, com horários contados ao minuto e remuneração ao cêntimo.

E ainda querem que os “velhos” voltem como “voluntários”?