A Cada Nova Temporada De Avaliações Que Chega…

… é impossível não pensar na enorme transformação burocrática do processo de avaliação dos alunos, com cada nova camada de procedimentos registados em impresso adequado a transferir mais uma parcela da responsabilidade pelo sucesso dos alunos para os professores, ao ponto que quase nada resta para aqueles. O aluno não aprende? É de quem ensina! O aluno falta às aulas? A culpa é dos conteúdos chatos e das pedagogias arcaicas! O aluno está-se nas tintas para as matérias? É porque os conteúdos são enciclopédicos e dá-se História em vez de Gaming Holístico! O aluno nem coloca os pés na escola? É porque o professor não fez os contactos que deveria para o trazer!

É tema velho, mas não perde actualidade, antes ganhando vernizes novos ao serviço da demonstração da inovação (impressos 1 a 3c), da flexibilidade (documentos 4a a 7h) e da inclusão (anexos 8 a 10, não esquecendo a apostilha que vai identificada com o novo logotipo da república, da paróquia ou da freguesia). Estes são os dias em que aos professores é pedido que apresentem prova de que andaram a fazer alguma coisa e, de preferência, que tenham registado tudo ou estarão sujeitos a queixa, requerimento ou apenas ameaça ou assédio moral em diferentes modalidades.

E então quando há, a um ritmo quase anual, aquele prazer perverso de quem tem um tempinho de sobra para fazer um novo “desenho” do impresso de preenchimento obrigatório, passando as cruzes de alinhamento horizontal para vertical ou em vez de se fazerem cruzes em quadrados considerar-se melhor círculos em torno de cruzes?

Cruzes!

burr

Pós-Realismo

Os tempos são outros. A ditadura hoje é muito mais maquiavélica porque não se apresenta como tal. Vivemos todos convencidos de que somos livres, e todos os dias nos impõem mais uma coisa contra nós, que não sabemos como rejeitar. Não é contra ti nem contra o teu vizinho: é contra todos, e todos são objecto de um roubo que vem de fora, mas que é executado como se fosse uma coisa natural, explicada com argumentos que até parecem lógicos, e que deixam um sabor amargo na vida que não sabes de onde vem.

E pensei: estas mudanças deixam-me melancólico. Dantes, a revolução fazia-se com metralhadoras, com bombas, hoje de nada serviria. Os exércitos que nos ocupam são invisíveis, não têm quartéis.

(…) A diferença é que a morte já não é imediata nem violenta, mas as assinaturas que eles põem nos seus decretos continuam a ter o mesmo efeito, pode ser ainda a mais longo termo, pode não ter o efeito doloroso que o outro método tinha, mas é da extinção dos povos que se trata, reduzi-los à miséria, à mendicidade. E é mais difícil reagir contra funcionários, contra burocratas, sobretudo quando se ficou sem nada, quando tudo o que conta é a salvação individual, e a vida perdeu todo o sentido. É isso que torna a revolução impossível, quando os pobres não têm a capacidade das antigas massas para derrubarem os governos.

Nuno Júdice, Implosão, 2013, pp. 33, 35.

O Farol Sueco

Estas decisões são complicadas, curiosamente, para muita gente deste nosso rectângulo, porque disseram muita coisa em piloto automático, pensando pouco.

Isto faz-me lembrar quando os arautos da liberdade de escolha” e municipalização da Educação usavam a Suécia como exemplo, quando por lá se tinham invertido as reformas.

Quanto a provas/exames, eu eliminava, sem quaisquer dramas, pelo menos as do 2º ano. Até porque servem para muito pouco ou nada. Excepto umas vaidades, claro.

Spring exams cancelled due to pandemic

4ª Feira

O canal do ME no Twitter, que é o meio encontrado para mostrar a modernidade comunicacional da tutela, só tem desde o início de Dezembro, praticamente publicações sobre questões digitais ou sobre o programa Erasmus para 2021-2027. Nada sobre outros temas que, claramente, não são considerados prioritários ou vagamente interessantes. E não adianta ir aos sites oficiais das “direcções” (DGE, DGAE, DGEstE) que é tudo “institucional” e “normal”.