… é impossível não pensar na enorme transformação burocrática do processo de avaliação dos alunos, com cada nova camada de procedimentos registados em impresso adequado a transferir mais uma parcela da responsabilidade pelo sucesso dos alunos para os professores, ao ponto que quase nada resta para aqueles. O aluno não aprende? É de quem ensina! O aluno falta às aulas? A culpa é dos conteúdos chatos e das pedagogias arcaicas! O aluno está-se nas tintas para as matérias? É porque os conteúdos são enciclopédicos e dá-se História em vez de Gaming Holístico! O aluno nem coloca os pés na escola? É porque o professor não fez os contactos que deveria para o trazer!
É tema velho, mas não perde actualidade, antes ganhando vernizes novos ao serviço da demonstração da inovação (impressos 1 a 3c), da flexibilidade (documentos 4a a 7h) e da inclusão (anexos 8 a 10, não esquecendo a apostilha que vai identificada com o novo logotipo da república, da paróquia ou da freguesia). Estes são os dias em que aos professores é pedido que apresentem prova de que andaram a fazer alguma coisa e, de preferência, que tenham registado tudo ou estarão sujeitos a queixa, requerimento ou apenas ameaça ou assédio moral em diferentes modalidades.
E então quando há, a um ritmo quase anual, aquele prazer perverso de quem tem um tempinho de sobra para fazer um novo “desenho” do impresso de preenchimento obrigatório, passando as cruzes de alinhamento horizontal para vertical ou em vez de se fazerem cruzes em quadrados considerar-se melhor círculos em torno de cruzes?
Cruzes!
burr