9750

É o número de vacinas que se afirma terem chegado hoje ao país e que, apesar do secretismo inicialmente anunciado acerca do local onde iriam ser armazenadas, tiveram várias estações de televisão à sua espera. Tal como a revolução, a vacinação também será televisionada e transmitida em directos nas redes sociais. Para o bem e o mal.

O Puro Abuso De Poder Ao Serviço Da Ocultação

Eu sou do tempo em que uma declaração para a acta de um elemento de uma reunião era transcrita verbatim para o corpo da dita acta, podendo ou não suscitar outras declarações, até em discordância. Ainda me lembro de, como director de turma, ter de aceitar em acta, há uns bons anos, que a retenção de uma aluna (que tinha 8 negativas em 9 disciplinas) com voto meu de desempate numa decisão de 4-4, a iria conduzir para o caminho da perdição e prostituição à beira da estrada (o que não se confirmou, já agora).

Só que agora há controleir@s de actas a rever a posteriori, não o rigor das informações prestadas e a sua coerência com outros documentos, mas cada verbo, vírgula ou o que pode ou não pode ser declarado no que ultrapassa qualquer razoabilidade. Mesmo que essa atitude venha envolta em considerações informais do género “isso não é assunto para agora/aqui”. Ou conselhos de que quem ousa desviar-se da cartilha oficial do “tudo vai acabar bem” se pode meter em trabalhos. Em especial quando há tanta acta cheia de conversa de m€rd@ a fingir que é qualquer coisa, excepto o que é mesmo, enchimento de chouriças pseudo-pedagógicas arrancadas às velhas sebentas ou às formações ariano-costistas em franchisado. Ou da responsabilidade gente especializada em armar-se no que não pratica, a começar pela tolerância e flexibilidade.

(enfia o barrete quem quiser… até porque esta é uma prática censória mal disfarçada que se generalizou, não se pense que são situações “residuais”)

Sábado

Nos dias de Natal, o ME decidiu fazer chegar a algumas redacções, a notícia de que decidiu testar 30.000 alunos do 3º, 6º e 9º anos “para perceber de que forma a suspensão das aulas, durante o ano lectivo passado, afectou as suas aprendizagens”, tendo o cuidado de tranquilizar o país que “não se trata de um exame nem de uma prova de aferição, mas de um estudo”.

À primeira vista parece uma decisão sensata. Assim para quem olha de fora e para produtores de opinião apressada e “preocupados” com o que se passou no 3º período de 2019-20, apostando eu em especial nos que têm estado muito activos na defesa da continuidade das aulas presenciais a qualquer custo, manipulando ou ocultando esta ou aquela informação e intimidando de diversas formas quem, nas escolas, ousa desalinhar, com a complacência de quem afirma “representar os professores”, mas os desencoraja, no concreto, de qualquer acção mais firme.

Mas voltemos ao “estudo” entregue ao IAVE e que será implementado nas primeiras três semanas de Janeiro, com resultados a ser conhecidos em Março (será que vão pedir aos professores do #EstudoEmCasa para os classificar ou vão requisitar pessoal que está a dar aulas, a meio do período, assim quase sem pré-aviso?), não sabemos bem se para desenvolver estratégias de remediação a partir de Abril.

Claro que o estudo teria de ser feito por amostra e, preferencialmente, nos anos em que não se fazem provas de aferição (o que deixa o pessoal do 9º ano que as fizer na situação de fazer uma duplicação de provas no mesmo ano, mesmo que uma seja só de estudo e não tenha implicações em nada… com as de aferição, já agora). Mas essa amostra será representativa da realidade do país? Que critérios serão usados para seleccionar os alunos (a nível de escolas e turmas)? Terão em conta os diferentes contextos em que se desenvolveu o E@D? Porque a mera distribuição geográfica e por tipo de estabelecimento está longe de permitir um retrato credível do que se passou.

O teste vai ser aplicado em 154 agrupamentos públicos (que totalizam 1247 estabelecimentos de ensino) do continente, e outras 79 escolas nos Açores e Madeira, bem como 102 colégios. A escolha da amostra teve em conta três aspectos, de modo a manter a representatividade da população escolar: o número de alunos por região (NUT II), os que frequentam escolas públicas e privadas e ainda os estudantes com Acção Social Escolar.

Mais importante, em termos de coerência interna das políticas do ME: afinal, havendo “autonomia” na definição de uma parte do currículo e na “flexibilidade” da leccionação dos conteúdos, qual será o “padrão” usado para determinar o que se perdeu ou não, já os mesmos conteúdo0s poderiam estar planificados para alturas (ou mesmo anos) diferentes conforme as escolas e os “projectos educativos”? Qual o referencial que vai ser usado? O das “aprendizagens essenciais”? Mas não é verdade que “As Aprendizagens Essenciais estão ancoradas numa cultura de escola de autonomia e de trabalho em equipa educativa dos docentes, nomeadamente ao nível do conselho de docentes e de turma, em que as disciplinas cruzam o que deve ser ensinado e que ações estratégicas devem ser concretizadas para que os alunos aprendam melhor e de forma mais significativa”

Se vão ser usados como referenciais as “aprendizagens” para o 2º, 5º e 8º anos (porque é óbvio que não podem ser as definidas para o 3º, 6º e 9º), no que diferirão estas provas das de aferição que este ano estão calendarizadas para esses anos de escolaridade? Não poderia ser o desempenho em tais provas servir de base para este “estudo”?

Este “estudo” terá o seu valor, mas o momento em que surge (quase a meio do ano e não em Outubro, por exemplo, quando se estariam a recuperar as “aprendizagens não consolidadas”, e não venham dizer que estavam mesmo marcadas inicialmente para os dias que acabaram por ser de “pontes” anti-pandémicas, como se quer dar a entender) e a metodologia da escolha da amostra levantam muitas reservas sobre a sua utilidade, apenas parecendo que se quer transmitir a sensação de que algo se está a fazer. Um bocado como os 400 milhões para a Transição Digital, de que nem 10% terá sido gasto nos 100.000 kits tecnológicos que só começaram a chegar às escolas a poucos dias do fim do 1º período.

Em outras circunstâncias diria que tudo isto resultaria de “desorientação”. Conhecendo os truques já de sobra desta malta, lamento dizer que acho que isto, por muito bom que esteja o relatório “técnico”, não servirá para muito mais do que “manipulação” ao nível da comunicação política.