Coisas Boas De 2020 (Apesar De Tudo)

  • Livros (lidos em 2020, o que não significa editados em 2020). Por ordem alfabética do apelido e não em esquema valorativo. Nada exaustivo, por falhas de memória.

Woody Allen, A Propósito de Nada (memórias)

Nicolas Barral, Ao Som do Fado (bd)

Franco Berardi, Futurability. The Age of Impotence and the Horizon of Possibility (ensaio)

Ed Brubaker e Sean Phillips, Criminal (bd, vários volumes)

Jonathan Crary, 24/7 (ensaio)

Afonso Cruz, Jesus Cristo Bebia Cerveja (ficção)

Roger Eatwell e Matthew Goodwin, National Populism. The Revolt Agains Liberal Democracy (ensaio)

Bernardine Evaristo, Girl, Women, Other (ficção)

Adam Greenfield, Radical Technologies: The Design of Everyday Life (ensaio)

Frank Furedi, Where Have All the Intellectual Gone? (ensaio)

Kim Young-Ha, Diary of a Murderer (ficção)

Michel Houellebecq, Serotonine (ficção)

 Masayuki Kusumi e Jiro Taniguchi, O Gourmet Solitário (bd)

Valter Hugo Mãe, Contos de Cães e Maus Lobos (ficção)

Yoko Ogawa, The Memory Police (ficção)

Fred Vargas, Um Lugar Incerto, Les Temps Glaciaires, etc (ficção, policial)

Charles Yu, Interior Chinatown (ficção)

Desilusão maior: Joel Dicker, O Desaparecimento de Stephanie Mailer.

Melhor início, ainda em 2020: Martin Amis, Inside Story.

  • TV/Filmes (basicamente séries de TV, que agora, em muitos casos, são escritas com muito maior cuidado e originalidade dos que os filmes, reduzidos às coisas da Marvel/Disney e pouco mais; não consigo ter tempo para o canal da Amazon e não vou assinar a Disney só para ver The Mandalorian). Como nos livros, não quer dizer que seja tudo de 2020, mas que vi durante este ano. É tudo da Netflix ou HBO, salvo erro). Vão mal disfarçadas as minhas favoritas.

A Casa de Papel (série, 4 temporadas)

After Life (série, 2 temporadas)

Better Than Us (série, 1 temporada)

Comedians in Cars Getting Coffee (série, 6 temporadas)

Dolemite is My Name (filme)

Emily in Paris (série, 1 temporada)

Gangs of London (série, 1 temporada)

Giri/Haji (série, 1 temporada)

Killing Eve (série, 3 temporadas)

Jeffrey Epstein, Filthy Rich (série documental)

Locke and Key (série, 1 temporada)

Love, Death and Robots (animação)

Mindhunter (série, 2 temporadas)

Mrs. America (mini-série)

Pátria (mini-série)

Roadkill (série… parece que por terminar)

Rouge One (filme; sim, vi com atraso…)

Sucession (série, 2 temporadas)

The Last Dance (série documental)

The Outsider (mini-série)

The Queens’s Gambit (série, 1 temporada)

The Social Dilema (documentário)

The Undoing (série, 1 temporada)

The Wire (série, 6 temporadas)

What We Do In The Shadows (série, 2 temporadas)

White Lines (série, 1 temporada)

Em desenvolvimento: The Stand (a adaptação do livro do Stephen King), The Affair (ainda vamos na 2ª temporada cá em casa), espectáculos de stand-up, de que recomendo, em extremos bem afastados, os de Anthony Jesselnik e Jim Gaffigan. Rever o Twin Peaks como a paródia que era e há 30 anos não se percebia tão bem. Sei que devia ver o Peaky Blinders. mas não dá para tudo.

5ª Feira, 31 De Dezembro

Último dia real de “pausa”, último dia do ano e último dia da década, para quem sabe contar bem os anos, o que está longe de ser a regra. E quanto à década, há que dizê-lo com frontalidade e todas as letras no seu sítio, foi uma década de merda. Seja numa perspectiva “corporativa” ou numa mais global. Começámos com o recongelamento e acabamos com um imprudente não reconfinamento porque a economia não poder parar e sem escolas a funcionar, parece que ela pára. Pelo meio tivemos a troika e o “mais com menos” e esta ou aquela variante do “se não estão bem, emigrem!”, depois veio a geringonça e o amestramento da contestação sindical tradicional ao serviço de um “bem maior”, enquanto se prometia uma reversão que o ronaldo, desculpem, centeno de harvard y eurogrupo (mais recentemente elevado a barão do banco de portugal) reverteu em sede fiscal sem dó, nem piedade. Levámos ainda com muita conversa sobre perfis e competências, inclusões e flexibilidades, para o século XXI, a que a pandemia tirou o chinó à la trump, demonstrando que temos uma escola do século XIX porque o nosso modelo de desenvolvimento económico e coesão social é do século XIX e não desencalha, nem à bazucada. O #EstudoEmCasa foi um sucesso inútil e o E@D deu origem a uma sigla modernaça, mas sem gtande significado.

Depois de muita conversa sobre os males da defesa de “interesses corporativos” passámos a ter o Parlamento polvilhado de representantes de interesses de identidades mais ou menos incertas, do lulu da senhorita solitária ao dois tons da joacine e andré, não esquecendo o senhor distinto das impecáveis camisas, com os botões à distância certa para um ficar por fechar e mesmo assim não parecer um canto pimba a caminho da segunda canção num programa dominical da tarde. O presidente foi funcionando como um daqueles bonecos de mola, que saltam da caixa, conforme a vontade do cliente, neste caso do actual PM, que o soube ensarilhar ainda melhor do que ao Jerónimo, que a Catarina escapou-se um dia sem querer pagar a conta de mais um orçamento. Num dia o presidente apelou ao confinamento, no outro tirou selfies à beira-mar. Num apelou à confiança em que tudo iria acabar bem, no outro lamentou-se de que as coisas não estavam nada bem. Num dia vacinou-se em topless, no outro mandou mensagem solene à Ucrânia, porque lhe limpámos um cidadão e só o admitimos ao fim dos meses suficientes para nascer um bebé robusto.

Claro que há mais, muito mais, até coisas boas que as houve, sim senhor@s, mas foi quase essas foram quase todas em casa, por encomenda online ou em streaming. As vacinas chegaram, mas parece que muita gente decidiu regredir mentalmente até ao período anti-penicilina. O Trump parece que se foi, mas ainda não foi. A Europa existe, sem os bretões d’além-Mancha, mas com húngaros e polacos tão saudosos de uma boa ditadurazinha ou, como agora se diz em nova teoria política, uma “democracia iliberal”.

O 2020 vai-se embora deixando escassas saudades, assim como a década inteira. Há quem se tenha safado bem, mas foram quase só gestores de empresas falidas, em falência técnica ou em regime de oligopólio abusivo. Mas isso sempre foi assim e assim será, não adianta esperarmos outra coisa. É como o processo do Sócrates, algo que veio para ficar.

Podia escrever outra coisa, com outro tom, com uma mensagem de esperança, mas não seria a mesma coisa. E nem seria verdade, por muito que agora ela ande relativa e conforme as perspectivas.

(espero que fique registado em acta que apenas em apostilha se vai referir que o Sporting conseguiu passar o Natal e vai para o Ano Novo em primeiro lugar, mas isso é apenas um engodo a ver se me deixam bem disposto…)