Crise? Depende…

2020 has been the most remarkable year for the global financial markets. After the Covid-19 pandemic triggered the worst crash in a generation, unprecedented stimulus measures and vaccine breakthroughs have sent stocks roaring back to record highs.

In a year in which at least 1.7 million people died from coronavirus and unemployment soared in a global recession, world stock markets are ending 2020 up 13% – despite the latest surge in cases forcing further lockdowns this winter.

6ª Feira, 1 De Janeiro

Num cartoon que circulava pela net ontem, viam-se dois extraterrestres a comentar as festividades de passagem de ano (em especial lá mais para Oriente) e o facto de elas terem origem no facto do planeta completar mais uma volta ao Sol, algo para que os humanos em nada contribuem. E parece-me bem verdade que, se precisamos desta espécie de “marcas” da passagem do tempo desde tempos muito antigos, algumas delas são apenas isso, marcadores úteis, mas que não correspondem a qualquer especial mudança, porque 2021 será a continuação de 2020, não se sabendo se chegará sequer a ser epílogo. O número de contágios divulgado ontem ainda não é – nem poderia – ser consequência de regras mais leves de confinamento em torno do Natal, mas mais de uma eventual flutuação dos testes feitos (poucos dias antes tinham-se alcançado números muito mais baixos) e talvez dos efeitos de alguma concentração em áreas comerciais em compras pré-natalícias antecipadas. Porque é ridículo pensar que existe maior segurança com menos gente no interior das lojas se as restantes ficam do lado de fora, em zonas de passagem, acabando quase toda a gente por se cruzar na mesma, em particular nos centros comerciais. Num caso, observei como uma fila para uma loja se estendia por uma escada próxima, sendo perfeitamente inútil manter um ou dois metros de distanciamento, quando essa mesma escada estava a ser usada permanentemente por quem subia/descia.

(o problema não é apenas nosso, em outros países atingiram-se novos máximos de contágios e mortes devido à conjugação da irresponsabilidade individual com a miopia ou ambiguidade das convicções e prioridades das lideranças políticas)

Se 2021 continuar em ziguezague, à espera que as vacinas produzam efeitos só de olharmos para as embalagens das peças televisivas, vamos ter más notícias durante muito tempo. O “equilíbrio” entre medidas de segurança e os imperativos económicos tem oscilado claramente para o lado destes e é inútil estarem a afirmar o contrário e particularmente hipócrita entre os defensores do “supremo valor da vida”, se acabam por o submeter ao circunstancialismo das convenções económicas e financeiras. Qualquer mediano conhecedor de História Económica sabe que quase tudo aquilo em que se suporta actualmente a “Economia” se liga mais ao sistema financeiro do que à produção e mesmo comercialização dos produtos; a “produção de riqueza” depende muito pouco do “trabalho” convencional, mas muito mais de manobras bolsistas, fluxos financeiros e esquemas contabilísticos, mas não me apetece vir neste dia dar uma de pós-marxista ou ainda levo uma bazucada dos especialistas instantâneos em “economia global”.

Resumindo… olhando daqui, 2021 não me parece muito diferente da segunda metade de 2020, quando ao medo real do vírus sucedeu o medo de uma “crise” que até dá algum jeito dramatizar para melhor ocultar velhas incompetências e antigos pecados, que se tentam fazer passar desapercebidos. E é isso que serve para alimentar e quase dar alguma substância à miríade de teorias que apontam a culpa de tudo (e mais um par de cuecas rotas) do “capitalismo global” ao “marxismo cultural”. Porque o tal “equilíbrio” desapareceu de quase todo o lado e agora passa por “radical” quem não alinha em nenhuma das narrativas em confronto.