Preocupado, Eu?

Claro que sim.

EUA duplicaram o número total de infetados em menos dois meses e têm agora mais de 20 milhões de casos confirmados.

Em Dezembro foram registados mais de metade dos óbitos de toda a pandemia, cenário que foi acompanhado pela subida de casos. O Governo já indicou que os número actuais não permitem aligeirar as restrições drásticas, que devem ser renovadas a 10 de Janeiro.

Escritor/Leitor (E Uns Remoques)

Como merece ir sendo lido, sem pressas, vou saboreando a “novela” autobiográfica de Martins Amis que referi há uns posts (Inside Story), cujo único defeito até ao momento é ter sido recomendado pela Clara Ferreira Alves nos únicos 2-3 minutos a que assisti ao Eixo do Mal no fim de 2020. Mas ido a coisas sérias… escreve ele que o tempo em que o escritor poderia esperar do leitor (alg)um esforço para ir além do que é escrito de forma literal terminou. Agora, ou fica tudo muito explícito, ou a generalidade dos leitores (eu diria que não será a totalidade, mas ele é menos benévolo), ou o leitor recusa-se a fazer qualquer esforço adicional para compreender o que lhes está a tentar ser transmitido. E isso não se nota apenas na literatura. Ao fim de 15 anos de escrita diária em nome próprio (há outros em heterónimo que agora não interessam nada) tenho percebido a que ponto avançou a erosão daquel@s que estão para ir um pouco mais além do que o que fica escrito no branco (literalmente, como se percebe pelo layout), o que me desgosta mais do que deveria, porque nem sempre me apetece (ou posso) explicar tudo por extenso. Este quintal é muito mais pequeno e aconchegante do que o umbigo e, não recusando gente desconhecida, assumi que quem cá passa terá alguma familiaridade com as formas como escrevo e, muito em especial, com as intenções com que o faço. E estranho sempre quem me parece com aquela do “olha, lá está ele a exagerar” (ou modo mais diplomático de dar a entender que estou a distorcer os factos por esta ou aquela razão). E, por acaso, na maioria das situações estou a fazer o inverso, a evitar descrever o que de pior vou tendo conhecimento, porque umas vezes me é confidenciado com pedido de completa privacidade e outras sou eu que acho demasiado mau para ser publicitado assim às claras. Eu sei que há quem coloque reservas (o que é saudável!), mas muitas vezes isso acontece por evidente desconhecimento do que se passa pelo país, em especial em termos de malfeitorias diversas que lá por serem “locais”, não deixam de o ser. Sejam essas reservas colocadas em comentários aqui ou veiculadas em outros “ambientes”, públicos ou semi-privados (tudo acaba por se saber… isto é um país de vizinhanças…).

Portanto, car@s leitor@s, embora eu saiba que a maioria que por aqui passa com regularidade, sabe que o que por aqui se faz não é o que certas personagens menores da nossa vidinha político-educativa quiseram dar a entender mais tempo do que o necessário (em particular, desde o final de 2015), gostaria de deixar explícito (outra vez) que não me move qualquer perseguição pessoal, particular ambição política ou qualquer outra aspiração venial. Escrevo sobre o que sei, que me é relatado com detalhe e clara identificação, e escrevo a minha opinião sobre isso ou outras coisas, sem exagerar para obter efeito, até porque (e repito-me ao ponto de me entediar a mim próprio) se quisesse ser mais “impactante”, fazia coisas simples e elementares para ampliar a divulgação dos blogue e dos posts. Até há manuais e tutoriais para isso.

E quem quiser enfiar o barrete, esteja à vontade. Um dia, eu dar-me-ei ao prazer de colocar o nome às criaturas.

(resumindo, não gosto que me chamem “mentiroso”, de forma mais ou menos implícita ou explícita, em especial por parte de quem tem por prática mentir ou fazer-se eco de mentiras úteis a outrém…)

Subscrevo a 98%

Apenas acho que se pode discutir com a Ciência, desde que seja com argumentos válidos e que a hipocrisia raramente é de “inocentes”. Por cá, a hipocrisia é dos culpados. E dos estúpidos (e cada dia que passa fico mais convencido que a pandemia atinge os neurónios, mesmo a quem não contagia oficialmente). E não me venham com a retórica choninhas do “ahhh… evitemos o pensamento binário” ou do “o tribalismo faz muito mal…”. Estou mais do que farto de tretas politicamente correctas e conversas da treta acerca dos “afectos”.

O primeiro-ministro achou por bem não contrariar as emoções dos portugueses e decidiu dar bar aberto à época das festas, acrescentamos a isso a eloquência de um senhor que reduziu o Natal a uma troca de compotas no vão das escadas, e com o Presidente da República a assumir que ia ter no seu Natal uma equipa inteira de futebol americano (eu sei que desdisse, mas o que fica dito não perde a força) e temos todos os condimentos para o “milagre português”.

E quando entregamos o destino ao que “Deus quiser” e desejamos com muita força que corra bem, sentimos muita alegria no ar. Alegria esta que nos está a faltar à alma como pão para a boca. Mas a ironia desta doença, as características do seu contágio e a robustez da ciência que temos nas mãos são infinitamente mais fortes do que o que “Deus quiser” e o “desejar com muita força” juntos. Com a ciência não se discute. Mas nós quisemos discutir, conversar, trocar opiniões, gargalhadas e outras palhaçadas à volta de mesas de dez, 20, 30 e por aí fora, em almoços, almocinhos, jantaradas e trocas de compotas, a ver se o vírus respeitava o Natal e já agora a Passagem de Ano, fechando os olhos apenas a uma semanita ou duas.

Adivinhe-se o que aconteceu? O vírus não acredita em Deus, nem leu as cartas ao Pai Natal, até porque mesmo na Suécia a comunicação antifestas covid foi bem mais dura. E “estranhamente” os números subiram a pique e vão continuar a subir, o que quer dizer que mais mortes vão ser choradas que não precisavam de o ser. Mais sobrecarga nos serviços de saúde que estão a rebentar, e mais tempo até que a economia endireite com todos os dramas sociais que isso acarreta.

E depois dizem-me: “Ai, isso não é nada humanitário estar a acusar as pessoas e pô-las umas contra as outras!…” Pois, eu encaixo todas as críticas e ainda encaixo insultos e ameaças, mas sigo firme na minha humilde opinião. Ser humanitário, ser humanista é pensar no bem comum, é ter a coragem de assumir comportamentos que a mim também me deixam triste, mas vivo a pensar que a minha vida não vale mais do que as outras. E não sendo eu um crente na divindade de Jesus Cristo, diria que a celebração da sua vida não deveria ter sido marcada pelo egoísmo dos que se sentem mais sábios que a ciência, porque se houve mensagem que eu retive da sua passagem por esta vida, foi a empatia, a compaixão, a projecção do outro em mim. E não há nada mais bonito do que isso.

Ainda há dúvidas que são estes comportamentos que atiram milhares de doentes para os hospitais? “Ó pá, mas tu és um pessimista! Não deixas ninguém viver!” Não é verdade. Eu também vivi a passagem de ano com muita gente. E muito boa gente, uma unidade de Cuidados Intensivos cheia de doentes covid e não-covid, e com as filas para testes novamente cheias de pessoas com sintomas à proporção dos almoços e jantarezinhos que todos fizeram, mas ninguém sabe quem fez. “Eu portei-me bem”, “Eu fiz um teste”, “Eu só estive com os meus amigos depois do Natal”, “A minha avozinha queria estar com os netos.”, “Eu estou sempre com as mesmas pessoas”… Que, por sua vez, também estão sempre com as mesmas pessoas, e como tal, não foi ninguém. É a hipocrisia dos inocentes.

Domingo

Quando vou rever materiais que decidi guardar, então para uma “memória futura” que agora é passada, divirto-me sempre um pouco mais quando ouço ou leio as conversas sobre os novos “paradigmas” (confesso, é um assunto a que regresso com frequência), em especial os que remetem para a transformação da docência por vias das “novas tecnologias”. Em meu tempo de alunos e professor, já passei por não sei quantos “paradigmas” a que eu chamaria antes “micro-paradigmas” ou qualquer coisa menos pomposa porque, no fundo, são apenas evoluções, no sentido da rapidez e capacidade de armazenar informação, dos materiais de suporte. Em meados dos anos 90, a grande novidade (que saudades do Windows 95) eram as disquetes de apoio aos manuais, com fichas de actividades editáveis. Ainda os cds estavam em processo de generalização (ainda devo ter a caixa de uma das primeiras versões da Diciopédia), as cassetes VHS ainda eram um recurso normal, dvds nem vê-los antes da viragem para o século XXI. Em 25 anos passámos das velhas disquetes em que nem uma foto de telemóvel com câmara de média gama caberia para suportes virtuais com uma capacidade imensa.

Aumentámos exponencialmente a capacidade de armazenas dados e a rapidez de a eles aceder, mas o essencial mudou pouco e a “democratização” da informação que resultou desse processo teve mais implicações na forma de a seleccionar e organizar para os alunos do que propriamente em outras áreas da docência. Com os meios adequados, facilitou muito a forma de “mostrar” aos alunos o que eu, como aluno, apenas via a preto e branco, em escassas imagens, nuns livrinhos de apoio (os de História do Unificado eram de capa azul) da Secretaria de Estado da Orientação Pedagógica do então MEIC. Mas não transformou propriamente o papel do professor em mero “facilitador” das aprendizagens como tanto por aí se afirma, porque a massa de informação disponível tornou muito mais importante a função de ensinar a escolhê-la de forma crítica.

Tudo isto, à conta de umas disquetes que trazem memórias, muitas memórias, de quando as escolas eram efectivamente espaços de partilha e em que o convívio não tinha sido tingido por tantas nódoas, em especial as que nos foram trazidas por este século XXI.