Quando vou rever materiais que decidi guardar, então para uma “memória futura” que agora é passada, divirto-me sempre um pouco mais quando ouço ou leio as conversas sobre os novos “paradigmas” (confesso, é um assunto a que regresso com frequência), em especial os que remetem para a transformação da docência por vias das “novas tecnologias”. Em meu tempo de alunos e professor, já passei por não sei quantos “paradigmas” a que eu chamaria antes “micro-paradigmas” ou qualquer coisa menos pomposa porque, no fundo, são apenas evoluções, no sentido da rapidez e capacidade de armazenar informação, dos materiais de suporte. Em meados dos anos 90, a grande novidade (que saudades do Windows 95) eram as disquetes de apoio aos manuais, com fichas de actividades editáveis. Ainda os cds estavam em processo de generalização (ainda devo ter a caixa de uma das primeiras versões da Diciopédia), as cassetes VHS ainda eram um recurso normal, dvds nem vê-los antes da viragem para o século XXI. Em 25 anos passámos das velhas disquetes em que nem uma foto de telemóvel com câmara de média gama caberia para suportes virtuais com uma capacidade imensa.
Aumentámos exponencialmente a capacidade de armazenas dados e a rapidez de a eles aceder, mas o essencial mudou pouco e a “democratização” da informação que resultou desse processo teve mais implicações na forma de a seleccionar e organizar para os alunos do que propriamente em outras áreas da docência. Com os meios adequados, facilitou muito a forma de “mostrar” aos alunos o que eu, como aluno, apenas via a preto e branco, em escassas imagens, nuns livrinhos de apoio (os de História do Unificado eram de capa azul) da Secretaria de Estado da Orientação Pedagógica do então MEIC. Mas não transformou propriamente o papel do professor em mero “facilitador” das aprendizagens como tanto por aí se afirma, porque a massa de informação disponível tornou muito mais importante a função de ensinar a escolhê-la de forma crítica.
Tudo isto, à conta de umas disquetes que trazem memórias, muitas memórias, de quando as escolas eram efectivamente espaços de partilha e em que o convívio não tinha sido tingido por tantas nódoas, em especial as que nos foram trazidas por este século XXI.
Deixa-a entrelinhas ou até nelas, a ideia de que o principal impacto das novas tecnologias se sente ao nível da ausência de partilha, do trabalho individual se resumir ao copy paste ( já pouco se faz, em muitos casos, relativamente à seleção e organização da informação visto que a “formatação” é a norma) e do desaparecimento progressivo de uma perspectiva crítica sobre, digamo-lo assim, o exercício da nossa profissão, com a consequência visível da aceitação do que nos “chega” de cima, sem declarações para atas ou quaisquer outros pequenos sinais de que há vida “cá por baixo”.
Um bom ano.
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Voltei a ficar colocado este ano numa escola onde lecionei há 20 anos. Mantiveram-se cá umas 4 alminhas desse tempo, que mantém, grosso modo, a mesma postura. Ah, mas, na generalidade, que diferença para pior!…
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