Vejam lá se adivinham a quem as gostaria de dedicar, mas se calhar é melhor não.
Dia: 8 de Janeiro, 2021
Pelo Que Percebi, Foi Preciso A Pandemia Chegar Ao Inverno…
… para muita opinião pública e a generalidade da comunicação social tomar conhecimento do singelo facto de as nossas escolas – salvo as honrosas excepções das que conseguem pagar a conta da climatização da Parque Escolar – serem assim para o fresquinho, que é como quem diz quase frígido, por esta altura do ano e escaldantes ali a partir de meio da Primavera.
Mesmo sem janelas abertas.
A sério que só este ano viram alunos com mantas e gorros nas escolas e nas aulas? Em especial os mais crescidotes que até acabam por fazer quase umas “tendas” partilhadas?
Nunca repararam que, no caso da pré e do 1º ciclo, o aquecimento é muitas vezes fornecido por aquecedores levados por educador@s e professor@s?
Nunca? A sério? têm andado ceguinhos? E o mais curioso é que, a avaliar por muita coisa que se vai aí escrevendo, até entre o professorado parece ter-se descoberto uma vergonha imensa, mas desconhecida até esta semana.
Acham mesmo que é verdade aquilo das “escolas para o século XXI”? Acreditam que os pufes das “salas do futuro” têm botão de aquecimento?
Foi preciso o Bruno Nogueira queixar-se que o filho passa frio para descobrirem que temos uma rede escolar em grande parte terceiro-mundista?
Phosga-se! Não há pachorra!
É mais grave se abrirmos as janelas todas? Pois! Mas só agora informaram a DGS disso, pelo que se não fosse o bom senso, as coisas seriam bem piores.
Mas, pronto, alguma coisa se haveria de ganhar em toda esta triste situação. Porque o Saber não ocupa lugar e parece que até se conserva melhor no frio.
(gesundheit!)
Tenho Pouco Contra Continuar Na Escola…
… a trabalhar de forma remota com os alunos, deslocando-me eu e ficando eles em casa. Nem me incomoda que me obriguem a cumprir horário presencial na escola, se é que é isso que dá tanta comichão aos sousastavares e outros como ele (ou quase tão fraquinhos de raciocínio).
Só que para isso é necessário que existam nas escolas computadores devidamente equipados para o efeito e que ao fim destes meses todos, seja possível acudir aos alunos e famílias sem meios para seguir o ensino à distância com um mínimo de qualidade. Não é com 2 ou 3 a partilharem o mesmo equipamento. E a verdade é que neste momento esse continua a ser o grande risco, porque dos 400 milhões de euros anunciados para a Escola Digital, nem um décimo terá chegado a quem de direito: em primeiro lugar, os alunos e depois, escolas e docentes. Em vez disso temos entretenimentos, em que o dinheiro se vai escoando nos meandros da “formação”, conforme os grupos a satisfazer. Agora é o da “Capacitação”. Que tal “capacitarem” as escolas para assegurarem o ensino remoto a partir das suas instalações e não do meu escritório ou sala?
Recuperando Uma Parte Da Crónica Para O Educare
Porque já parecia adivinhar o que aí vinha quando a escrevi em final de Dezembro. Foram, entretanto, prometidos mais 260.000 kits, mas por este andar ou chegam mascarados no Carnaval ou em forma de ovos da Páscoa.
Por fim, por agora e para não prolongar uma crónica que seja criticada por demasiado “negativa” quando até temos horas de directos televisivos em salas de vacinação para transmitir “confiança”, há o assustador salto para o passado que constituiu a adesão de muitos professores (entre outros profissionais com qualificações académicas superiores) ao irracionalismo anti-científico, com o pretexto de se estar a exercer o direito à liberdade de expressão e crítica do “discurso dominante”.
Pelo Público Online
Há algo de surreal em tudo isto, quando se sabe o que outros países estão a fazer.
Como é possível existir um “confinamento” com mais de milhão e meio de alunos dos vários níveis de ensino em circulação pelo país? Com tudo o que isso implica de utilização dos transportes públicos ou deslocação de familiares? Poderá isso ser considerado um “confinamento”?
Evolução Dos Contágios Por Idades
O texto seguinte é copiado de uma análise de Leonel Morgado publicada ontem no Facebook. Ajuda a desmontar o mito do “contágio zero”, só credível para quem desconheça a realidade diária com que nos confrontamos, apesar de em alguns pontos do país se praticar o secretismo e se recomende que não se divulguem os casos individuais, “por questões de privacidade”.
Que hoje os números confirmam o mal que se está, já toda a gente anda ou andará a dizer. Venho mostrar outra coisa.Estas linhas mostram a proporção de cada faixa etária ao longo do tempo.
No início, era quase tudo devido aos profissionais mais avançados na carreira, que iam ao estrangeiro. Isso dificulta a leitura do gráfico, por isso junto uma versão amputada das percentagens altas, para se ver melhor.
Isto a propósito de ter ouvido alguém no fórum da TSF, esta manhã, dizer a barbaridade “nas escolas ninguém se contagia, leva-se é o contágio das famílias”.
Vejam o comportamento das linhas dos alunos dos 10 aos 19 anos.
Onde há a grande subida de casos? Entre o final de agosto e o início de dezembro.
Onde deixou de crescer a representação deste grupo? Durante o mês de dezembro. As férias começam a meio, lembremo-nos.
Curiosamente, a faixa 0-9 cresceu um pouco em setembro, mas não em outubro. Voltou a crescer durante novembro, mas não em dezembro.
Olhando para isto e para alguns trabalhos sobre grau de transmissibilidade de menores, que apontam os 10-12 anos como a altura em que transmitem tanto como adultos, creio que isto pode dar ideias para atuar.
ACRESCENTO: a minha leitura explicativa.
1.º Os profissionais adiantados na carreira, que fazem viagens ao exterior ou fazem aí férias de inverno, trazem o vírus para Portugal (40-49 anos). É detetado não diretamente neles (casos menos graves) mas nos colegas de trabalho mais velhos (60-69).
2.º Mas o contágio não está disseminado nesses mais velhos, está nos de 40-49, que rapidamente emergem com a maior proporção de contágios nos testes. Contagiam os colegas de trabalho da mesma idade, parceiros e amigos.
3. Depois os subordinados e alguns amigos ou parceiros mais novos (30-39 anos).
4. Quase de seguida, os colegas e amigos um pouco mais velhos, com quem têm contacto, embora não tanto (50-59 & 60-69) e filhos jovens (20-29).
5. Também nesse processo, mas um pouco mais devagar, por terem menos contacto com eles, os pais ou avos (70-79).
6. De seguida, à medida que visitam lares ou avós idosos, ou os contágios secundários visitam os pais/avós idosos, propaga-se aos 80-89.
7. Chegamos ao momento em que toda a gente está alerta: início de abril.
8. Quase nada muda os mais idosos resguardam-se e vão descendo lentamente. Os mais jovens não se preocupam tanto e vão subindo lentamente. As crianças estão fora da escola.
9. Chegamos ao verão. Toda a gente com cuidado, toda a gente estável.
10. As férias de agosto fazem aumentar o contágio entre jovens e crianças, mas em ambiente familiar e de vizinhança, lentamente.
11. Iniciam-se as aulas. Aceleram o contágio entre adolescentes.
12. Terminam as aulas. Estabiliza.
Leonel Morgado