Estou Cansado De Delírios

Estou cansado destes discursos “positivos”, desta tentativa de transmitir “confiança”, de revelar “esperança”, de suspirar por excelentes para quem mais amochar perante os interesses políticos governamentais.

Escolas garantem que estão a postos se for preciso continuar o ensino à distância

É mentira que as escolas estejam “preparadas” se isso quer dizer que estão em melhores condições do que em Março, porque não estão. Há a experiência do que se passou (e já se percebeu que foi um fiasco em termos globais, com estas ou aquelas excepções) e a chegada de um número insuficiente de kits tecnológicos para os alunos. Mais nada se fez,para além dos bastidores do Plano de Capacitação Digital dos Docentes.

Se passarmos de novo ao ensino não-presencial (o que seria da mais elementar prudência) quase tudo será igual ao que foi e só poderá funcionar se os professores usarem de novo os seus recursos, porque nada – NADA – chegou à generalidade das escolas para que a partir delas se faça algo de diferente. Aqui em casa conhecem-se três realidades distintas, mas que confluem no essencial: foram 10 meses em que a incompetência do ME foi por demais evidente, pois só sabem falar, falar, falar e debitar chavões ou parvoeiras (o caso dos “cornudos” do ministro Tiago é apenas o exemplo mais deplorável) sem que as medidas necessárias tenham surgido.

Há escolas onde @sdirector@s conseguiram alguns avanços? Há. Mas a generalidade dos Planos de Contingência vai muito além de explicar a diferença entre ensino presencial, misto ou não-presencial no caso de ser necessário alternar entre modelos? Muito poucos, esmo se são muito explicadinhos sobre condutas a adoptar e circuitos a seguir, no caso do ensino presencial.

Foram redefinidos critérios de avaliação pelos Conselhos Pedagógicos para a eventualidade de ter de alterar a forma de avaliação? Os Conselhos Gerais foram consultados em nome das comunidades educativas? Talvez, mas duvido que isso tenha acontecido na maioria dos casos. Basta consultar a documentação que está publicada nos sites das escolas e agrupamentos. Basta passar uns minutos pelo Google.

Claro que a norma tem excepções; não nego que há onde tudo esteja previsto. Mas garantir que as escolas estão preparadas para um novo E@D é risível. A menos que seja em forma de encenação como há 10 meses, apesar de toda a boa vontade que possamos ter. E que a mim cada vez mais escasseia, porque me pedem uma dedicação e competência de que quem tem responsabilidades de decisão superior não dá qualquer exemplo.

Sábado

Na semana que vai terminando chegou-se conclusões interessantes acerca da forma de propagação do vírus. Ele não é sensível ao tempo (não reconhece o Natal ou o Ano Novo, entrando por eles adentro sem cerimónias), mas é sensível ao espaço (reconhece os portões das escolas e fica do lado de fora, porque não trouxe cartão).

Adicionalmente, parece que muita gente descobriu que faz muito frio nas escolas durante os tempos mais agrestes da invernia. Um destes dias até descobrem que faz um calor do caraças no Verão nas salas viradas a Sul, não sabendo quem lá está se há-de abrir tudo para tentar que o ar circule (e leva com o Sol em cima e com a luz que impede que se veja seja o que for nas telas e quadros interactivos brancos), se fecha o que há de estores ou cortinas e fica um abafo do caraças, bem potenciado pela circulação dos humores corporais em ebulição). Já há uns meses, houve que tenha percebido, por fim, que o trabalho dos professores é bem mais complicado do que pensava, assim como que as teorias da “escola digital do século XXI” é uma demagogia sem decoro de certos “especialistas” que estão no poder formal ou fático há décadas.

Diz-se que as escolas portugueses não chegaram ao século XXI e eu concordo, pois em matéria de aquecimento nem sequer chegámos, na maioria, ao tempo das lareiras e em termos tecnológicos ainda estamos muito longe de ter o que têm algumas “salas do futuro” em escolas dirigidas por quem tem “o telefone do João” (e não digam que é mentira, porque eu sei de mais do que casos esporádicos em que as coisas assim foram e são) e pode sacar – mesmo assim com razoáveis limites – aquilo que os zecos comuns apenas podem desejar. Os professores até estão muito avançados porque, mesmo se em métodos estão no século XX, em condições têm quantas vezes de trabalhar mesmo como se fosse num armazém de Manchester do século XVIII.