E Se Fosses “Empacotar” Alguma Coisa?

Não é fácil ser mais balofo na argumentação do que o deputado Silva, Porfírio de sua graça, numa intervenção mediática, mas um tipo engomado de investigador em “economia da saúde”, de sua gracinha Mário Amorim Lopes estava a conseguir há pouco na SICN, ao dizer que uma paragem das aulas presenciais irá “impactar” por diversos anos na vida escolar dos alunos porque estamos numa era em que existe uma “economia do conhecimento”. Um tipo ouve isto e tem um imediato AVC – Acesso Veloz de Comichão.

(e o tipo está mesmo naquela faixa etária e social dos raposos e tavares… parece que engoliram todos o mesmo ficheiro…)

Da Irresponsabilidade

Haverá por aí gente muito feliz com esta imbecilidade.

INFORMAÇÃO – retoma das aulas presenciais (2º/3º CICLO E SECUNDÁRIO)

Por decisão da Direção Geral da Saúde (DGS), na próxima segunda-feira, serão retomadas as aulas presenciais do 2º/3º ciclo e secundário.

A Comissão Municipal de Proteção Civil de Tavira (CMPC), em reunião realizada no dia 7 de janeiro, deliberou, por unanimidade, solicitar a prorrogação da suspensão das aulas presenciais nos 2º e 3ºciclos e no ensino secundário, durante a próxima semana, e alargar a medida ao 1º ciclo e pré-escolar, tal como já o havia feito anteriormente.

Contudo, e não obstante a insistência das autoridades locais e regionais, a DGS entendeu que as aulas presenciais deveriam ser retomadas, em todos os ciclos de ensino, com efeitos a partir de 11 de janeiro.

Face a esta decisão, apelamos a todos os pais/encarregados de educação cujos educandos irão regressar às aulas que os sensibilizem para a necessidade de estrito e rigoroso cumprimento das normas das autoridades de saúde.

O Município, por considerar a decisão inadequada à realidade da situação epidemiológica do concelho, continuará a insistir, junto das entidades regionais e nacionais, para mesma seja revogada.

Catch 22

Pela manhã, antes de ver parte do Inter-Roma, ouvi numa peça de um canal noticioso confirmar que António Costa quer um confinamento com as escolas abertas. Mas também ouvi que parte dos ministros do Governo discorda dessa decisão de não fechar as escolas, o que significa que há gente que não está completamente arrebanhada atrás do líder do “interesse geral” do país.

Não pensem que não percebo a que ponto a situação é complexa, mas convém não ocultar as razões.

  • Ficou demonstrado que a opção pelo regime não presencial, E@D, etc, com ou sem #EstudoEmCasa, falhou no final do ano lectivo passado, agravando de forma evidente as desigualdades que só não foram maiores porque a maior parte dos docentes deu um banho de água benta às pautas do 3º período.
  • Vai-se começando a perceber que, por muito que o neguem, o encerramento das escolas esteve na base da redução do movimento de pessoas e foi muito importante para a contenção dos contágios na 1ª vaga. Cada vez mais, os estudos internacionais, não-paroquiais ou baseados no “acho que” ou no “está provado [onde?] que há ‘contágio zero’ nas escolas”, revelam que, apesar de assintomáticos, crianças e jovens são agentes de contágio, mesmo que tenha origem no exterior das escolas.
  • Percebe-se que a decisão acertada, para conter a pandemia, seria passar as aulas para não-presenciais, mesmo que os professores continuem nas escolas a assegurar as actividades lectivas. Não é com mais de um milhão de crianças e jovens em trânsito para/das escolas, em transportes públicos ou privados que se reduzem significativamente as interacções (basta olhar para os espaços envolventes das entradas dos espaços escolares). Um confinamento com escolas abertas é como uma refeição sem prato principal.
  • Mas… percebe-se também que muito pouco mudou entre Março de 2020 e Janeiro de 2021 nas condições para um regime de E@D em condições. O atraso no equipamento das escolas, as opções erradas no que deveria ser o início deste ano lectivo quanto à prioridade das aprendizagens a realizar, a evidente crença no “tudo vai acabar bem” por parte de uma tutela que insistiu num calendário escolar que só fugiu à norma no alongamento das semanas de aulas, tornam a opção pelo não-presencial uma porta para novo agravar do que correu mal há menos de um ano.
  • E também se percebe que o teletrabalho não é possível em muitas actividades e em outras não foi sequer previamente preparado para o caso de um reconfinamento. O nosso mercado de trabalho continua a apostar no precariado e, sempre que se pode, que o “investimento” adicional seja feito pelo trabalhador. E nem estou a falar apenas dos professores.
  • Portanto… a situação é complicada. Claro que é. Poderia ser diferente? Poderia, mesmo que não completamente. Na área da Educação, ficou à vista que muito do que se tem andado por aí a falar não passa de cosmética. A pandemia revelou as “rugas” profundas do sistema. Tem-se optado, de modo quase sistemático, por intervir no superficial, no decreto para a satisfação de clientelas, de medidas para a produção de estatísticas (internas, que já se viu pelo TIMMS que as coisas estão longe de ser o que se quer dar a entender). A “inclusão” é um conceito com uma prática muito limitada, a “flexibilidade” faz com que eu tenha alunos sem TIC por causa dos semestres e a “autonomia” tem arreata curta.
  • Quem se candidata a cargos políticos ou aceita nomeações não está propriamente em situação de se queixar da sorte quando as coisas se tornam difíceis. Foi para isso que concorreram, certo? Não foi apenas para a parte das prebendas e “acesso” aos “círculos do poder”, para posterior enriquecimento curricular. É porque acham que têm competência para isso. Mesmo que sejam incompetentes, há muitos que acreditam que “se não fosse eu… seria tudo pior”. Já sabem que discordo. Mas o que interessa que eu ache que são mais competentes na desresponsabilização do que na coragem de agir em devido tempo, sem andar a ver se escapam ao inevitável? Sou apenas um zeco a quem a pimenta não pica no teclado.
  • O que faria eu se me achasse com “perfil” ou “competência” para tal? Parece-me evidente, pelo que escrevi nos últimos meses. E até parece que sou capaz de ter razão, a avaliar pelos “factos”. Mas claro que nem tenho o “perfil”, nem a “competência” e muito menos a vontade de fazer parte de falsas “soluções” com base em “bolhas”. Ou de anunciar “desconfinamentos” com a mais absoluta irresponsabilidade.
  • Para terminar: as coisas estão como estão porque há quem acredite no “pensamento mágico” e agora se queixe de se ter metido numa enrascada, São os mesmos que acreditara ter sido responsáveis pelo 4º “milagre” de Fátima.

Apetecia-me Proferir Uns Impropérios, Mas Ficam Para A Próxima

Britânicos e alemães põem as escolas sob suspeita na transmissão da covid-19

(…) O que convenceu Boris Johnson a encerrar as escolas no Reino Unido, quando decretou novo confinamento por causa da covid-19? Estudos de cientistas britânicos divulgados em Dezembro, quando o número de casos de covid-19 começou a disparar e foi detectada a nova variante do coronavírus, mostraram uma clara relação entre as taxas de infecção entre os alunos e pessoal das escolas e as da comunidade.

(…) O caso do Reino Unido é talvez o melhor conhecido, e o mais falado, pela dimensão que a pandemia reassumiu naquele país. Mas este não é o único país europeu que, face à escalada de infecções, voltou atrás na política de manter as escolas abertas, pelo receio de que as crianças possam espalhar o vírus, apesar de não terem sintomas.

A Alemanha é um deles: o encerramento das escolas foi incluído nas medidas mais restritivas impostas a partir de 13 de Dezembro. No dia 5, a chanceler Angela Merkel anunciou que creches, escolas e lojas não essenciais devem permanecer encerradas até 31 de Janeiro, e foram limitados os deslocamentos a um raio de 15 km em torno do domicílio, nas zonas onde o número de casos é superior a 200 por 100 mil habitantes.

Domingo

Após as descobertas incríveis feitas na passada semana sobre, por exemplo, o Inverno nas escolas em tempos de pandemia (ou não), pessoalmente gostaria que muita gente “descobrisse” como estão a funcionar as aulas de Expressões (em grande parte quase sem componente prática), as em especial as de Educação Física, porque nem todos temos as mesmas condições para trabalhar. E o caso de Educação Física é o que me parece mais evidente. O CNAPEF e a SPEF divulgaram os resultados de um inquérito sobre o modo como foi preparado este ano lectivo e têm dados muito interessantes, desde logo o modo como essa preparação foi feita com a colaboração dos colegas da disciplina.

O que não traz o inquérito? Por exemplo, em quantas escolas ou agrupamentos, para além das restrições decorrentes da pandemia, os alunos continuam a ter aulas a céu aberto no Inverno ou têm de sair da escola para as ter em pavilhão exterior ao perímetro escolar. Como sou um tipo cheio de azar, este século ainda não estive numa escola (seja em qzp ou quadro de escola) que tivesse pavilhão no seu perímetro. Ou pura e simplesmente não o havia (nem ainda há), ou os alunos tinham de ir a escola vizinha (agora em agrupamento, mas não nessa altura) ou a um pavilhão no exterior, a centenas de metros. É o caso dos meus alunos actuais de 5º ano que têm Educação Física nas mesmas condições que eu tive quando estava no 1º do Preparatório há 45 anos, no mesmo concelho, só que na altura o Pavilhão a que nós íamos era novo e o deles, agora, é capaz de ter essa idade e aguarda há anos e anos por uma intervenção da tutela.

(alonguei as contas e nos últimos 25 anos só estive em 1999-2000 numa escola com pavilhão no seu perímetro)

O que não traz o inquérito? Que há alunos do Ensino Básico e do Secundário de Letras (e que fique claro que a minha filha está em Ciências e adora Educação Física até debaixo de neve ou trovoada, por isso é que escrevi “de Letras” que, como eu, são todos considerados nerds ou sedentários incorrigíveis) que têm de ir às 8 da manhã para um campo de relvado sintético de um clube desportivo próximo da sua escola (se quiserem saber qual é, perguntem ao “João”, que deve saber da “parceria”) e que por estes dias está todo coberto de geada e inviabiliza qualquer actividade desportiva em segurança. Sim, o ar fresco da manhã “enrija” o físico e é belíssimo para a saúde, mas não me parece que seja menos grave do que o que se passa nas aulas regulares com o frio.

Há quem pareça descobrir agora que o ensino para o século XXI enfrenta problemas que alguns de nós – sempre do “contra”, sempre “negativos”, sempre a ver o copo “meio vazio” – procuram denunciar há muito tempo perante a condescendência de uns e a indiferença de muitos outros. Porque parte significativa da nossa rede escolar pública não tem pavilhões adequados (ou laboratórios para as Ciências ou oficinas para as disciplinas mais tecnológicas), mesmo se há escolas com “salas do futuro”, espaço para equitação e acesso a aulas de natação ou outras coisas assim, como se fossem colégios privados de topo. Parte significativa da nossa rede escolar é muito século XX e há aspectos que fazem lembrar efectivamente os tempos intermédios da industrialização oitocentista. Claro que nem tudo é assim, mas desde 2005 tudo se veio a agravar em termos de desigualdades.

A cosmética da avaliação para o sucesso pode encobrir algumas coisas em termos estatísticos, mas não consegue encobrir tudo. Há quem diga que eu “exagero” ou que só vejo o que me rodeia. Não é bem assim, porque posso dar exemplos de norte a sul e do litoral ao interior, sem me fixar no meu “habitat” natural. A essa gente “positiva” ou que insiste em que “para a frente é que é o caminho” e “não precisamos de quem só vê os problemas” eu diria que não gosto de avançar, cantando alegremente, para nenhum precipício (não estou a ser literal, ok?) e muito menos para “soluções”, apressadas, lacunares e demagógicas, que agravam cada vez mais a distância entre nichos locais “de excelência”, que dispõem de condições para isso e uma parcela muito importante do “resto” que começa a ficar cada vez mais para trás. Que até se pode “abonecar” para visitas de Estado, para ficar bem nas fotografias, que varre para baixo da alcatifa as misérias (de novo… não estou a ser completamente literal) por vergonha ou desejo de ficar bem, mas que, nos outros dias luta para conseguir mudar estores, isolar janelas, substituir fechaduras, instalar novos cabos de cada vez que alguém decide pontapear as calhas por onde passa a net.

Talvez para a semana tudo isto consiga mais do que reportagens algo anedóticas na comunicação social e consiga revelar à opinião pública o quanto tem andado enganada nas últimas décadas.