Dia: 13 de Janeiro, 2021
A Partir De Hoje…
… é mesmo impossível qualquer tipo de contemplação com quem decidiu isto e com quem colaborou na decisão ou vai andar por aí a elogiar a “coragem” do actual PM. Porque eles vão aparecer que nem cogumelos. Não serão apenas os baldaias, raposos e tavares. E nas escolas não faltará quem demonstre “compreensão” pela decisão do Governo. A começar por quem respira Educação, flexibiliza muito e inova com copos de papel.
Para que se perceba com clareza: eu dou aulas ao 2º ciclo, já sabia que continuaria em regime presencial. Não me move uma causa “pessoal”, não estava a defender o “ir para casa” por qualquer tipo de conveniência egoísta. E escrevo isto, porque sei bem o que algumas criaturas gostam de insinuar e não gosto de deixar trastes sem resposta antecipada.
Apenas esperava que não deixassem tudo aberto, todos os ciclos, porque é a negação de qualquer confinamento a sério. Para quem diz que quer ultrapassar a “crise” o mais depressa possível, escolheram o caminho mais longo. Para quem diz que estão vidas em jogo, preferiram a opção que as reduzirá menos. Para quem muita coisa, fazem muito pouco. Para quem anunciou tanto uma “mudança de paradigma”, é realmente a admissão de um enorme falhanço. Claro que nunca admitirão que andaram a contar os tostões e dos 400 milhões pouco ou nada se viu desde Setembro.
Fala-se em “perdas irreparáveis” no ano passado, depois de meses a elogiar o “ensino do século XXI”, o #EstudoEmCasa e depois de tanto palavreado dos cortesãos do regime costista. Até se fala numa “geração” que ficaria traumatizada se ficasse uma quinzena ou um mês em casa, como já estão a ficar ingleses e alemães, por exemplo.
E o mais hipócrita é, na falta de argumentação científica válida, mesmo com distorção da opinião dos chamados “especialistas”, dizer-se que as decisões são “políticas”, mas quando interrogado sobre a vacinação do pessoal docente e não docente, remeter-se essa decisão para um “grupo técnico” daqui a uns tempos.
Isto é anedótico, mas infelizmente também é trágico. Não estritamente em termos da Educação, mas do interesse de todo o país. Porque ficou bem à mostra toda a mentira que este “combate à pandemia” se tornou. Algo que quem conhece enfermeiros e médicos já ia sabendo, mas com a esperança de que existisse a fibra mínima para não voltarmos à estratégia do pensamento mágico que dura desde Agosto.
As “associações de pais” foram ouvidas, “os directores escolares” foram ouvidos. Acredito, até porque já vi uma ou outra figurinha deprimente nos ecrãs a dizer que isto é uma manifestação de confiança nas escolas. Mas que lambe-botismo tão sem vergonha. E nem me vou estender sobre a apatia de certos “lutadores”, porque deles há muito que nada espero de relevante, em especial desde que a trela passou a ser dupla e a grande prioridade é “negociar”. Negociar o quê, pá? Os lugarzinhos na prateleira prateada, com eventual comenda por serviços prestados à Nação? No Parlamento, de manhã, o PCP já tinha usado os termos quase exactos a que António Costa recorreu.
Isto chegou a um ponto em que é um “salve-se quem puder” e o último a sair que não feche o portão.
(e não nos esqueçamos que podem haver missas para se irem benzer e actividades desportivas, para que aos fins de semana de manhã os ciclistas possam andar aos magotes pelas estradas como se nada se passasse…)
Escolas Abertas: Apenas Um Pensamento Final
Se o ensino presencial “essencial” e a relação entre professores e alunos é assim tão “insubstituível” e “incontornável”, porque raio os governos dos últimos 15 anos (mais de 10 com o PS e 5 com o PCP pela trela) têm tratado a classe docente com a mais absoluta falta de respeito, sucessivas ofensas e amesquinhamentos públicos?
Bardamerda, Pá!
Ficamos conversados acerca disto?
Já Perceberam Porque A Posição Da Fenprof Acerca Disto É Mais Do Que Pífia?
Porque a rede escolar é uma enorme Festa Do Avante! Só que eu não comprei a EP.
O tanto que me apetece gozar com o “incontornável”, mas não sei se é o melhor momento para chalaças sobre volumetrias, pelo que a faço apenas em relação a mim próprio. “Incontornável” sou eu quando me meto no meio do corredor a mandar alunos ir por outro lado e respeitarem os trajectos certos.
Reconfinamento Em Directo (Post Em Progresso)
António Costa começa por falar na vacina de uma senhora de 111 anos. A sério? Esse é o sinal de esperança?
Passou para os números e para a vontade de vergar a curva. E que não é aceitável mais de um centena de mortos por dia. Concordo. Deve voltar-se ao que se fez em Março e Abril. Cada um deve ficar em casa, mas pode ir à mercearia.
Mas ficam as escolas todas a funcionar, porque ouviu “as famílias” e os “directores escolares”. Fala em perdas “irrecuperáveis” por causa do que se passou o ano passado e no que o fecho significaria para uma “geração”. de alunos.
Santa estupidez.
E ainda fala em teletrabalho obrigatório?
O homem parece não ter compreendido que isto (escolas todas abertas para todos os níveis de escolaridade) significa mais de 2 milhões de pessoas nas ruas todos os dias. E ainda fala que não tem vergonha em dar a cara pelas medidas? E da inconsciência que revela?
“A vida não tem preço?” A sério?
Isto é de uma imbecilidade a toda a prova e, na prática, a declaração do completo falhanço da “Escola Digital” e da incompetência revelada pelo ME nesta matéria.
Sobre a vacinação do pessoal docente e não docente (pergunta da SIC), a decisão já é da responsabilidade de um “grupo técnico” e muda de conversa para assuntos sem nada a ver com a questão.
Repete que a vida não tem preço, a menos que seja de quem vai para um espaço onde se cruzam todos os dias centenas de “bolhas” no auge dos contágios, sem qualquer tipo de protecção adicional. E se o pessoal batesse em retirada e o mandasse dar aulas mais o Tiago?
“A vacina já está aí???” A maioria do pessoal só vai ter vacina lá para o Verão!
Conversa da treta, incluindo um “já aprendemos o essencial”. Parece que ele, nem por isso.
Resumindo: esta manutenção de todas as escolas em funcionamento é a confissão do falhanço enorme que foram os últimos seis meses de “Transição Digital” na Educação se duas a quatro semanas de paragem de um ou dois ciclos de escolaridade provocariam “perdas irreparáveis” para “toda uma geração”.
Agora partiu para a mentira descarada com o “número diminuto de surtos” nas escolas. “Nada substitui o ensino presencial”? “Sacrificar um novo ano lectivo”? Ou seja, nem considera a possibilidade de reconsiderar a decisão. Portões abertos até ao fim.
Foge outra vez à questão da vacinação, contornando-a com umas balelas sobre profissões essenciais, sendo que a Educação vai ser aquela que terá mais gente em actividade em pleno pseudo-confinamento.
E agora percebe-se que as excepções ao confinamento serão mais do que muitas. Com jeitinho, até haverá desfiles de Carnaval, se forem organizados pelo pessoal da Festa do Avante.
Uma boa questão de um jornalista… se o tele-trabalho já deveria ser agora a regra em muitos pontos e actividades, como se explica que ande tudo na rua e o trânsito continue na mesma? O homem responde com coimas e tal.
Vou deixar de ouvir, que tenho cada vez mais neurónios em forte agonia.
Como Há Dez Meses…
… estamos pendurados à espera que um grupo de pessoas a quem, na maioria dos casos, eu não compraria uma impressora em segunda mão, quanto mais um carro, tome decisões que, apenas com uns pós de hipérbole, podem ser de vida e morte para muita gente. Há dez meses, felizmente, acabaram por decidir bem e o que agora querem dar a entender que foi muito severo, na realidade foi o que permitiu “matar” a 1ª vaga quase no arranque. Agora, com números muito mais elevados, entraram naquela de, após procrastinar e tergiversar, tentar mitigar medidas que deveriam estar em vigor desde meados de Dezembro. Dizem que nada é tardio, nada é teimosia, mas os 311 mortos de hoje e ontem, se os extrapolássemos para a população dos E.U.A. seriam mais de 10.000 (por lá foram c. 6.100 neste período). Fazendo o mesmo para o Reino Unido dariam quase 2.100 óbitos(o número real andou pelas 1.800).
O “milagre” da Primavera de 2020 está a tornar-se um “pesadelo” no Inverno de 2021, mas desde o ministro Tiago, o comentador Baldaia, os cronistas Tavares ou o qualquer coisa Oliveira digam o contrário, está tudo bem.
(os mais de 10.500 novos casos de ontem em Portugal equivaleriam, nos States, a quase 350.000… o pior dia por lá foi 8 de Janeiro com “pouco” mais de 300.000)
As Vantagens De Se Ser Insuportável
Excerto do mail de um@ colega.
Recebi uma boa notícia. Apesar de marcado no meu horário não me vão distribuir serviço de avaliador externo para este ano letivo. Completei em dezembro o que me tinha sido distribuído no ano anterior.
Penso que me acharam insuportável. Ah ah ah. Recusei usar o meu carro, fui de autocarro, exigi que os bilhetes me fossem entregues previamente, faltei a todas as reuniões em que não houvesse convocatória, impliquei e questionei cada procedimento, exigi esclarecimentos sucessivos, preenchi laconicamente todos os documentos, atribuí nota 10 a todos sem fundamentação. Para já uma primeira vitória por ser insuportável.
Quotidianos – 2
São. em média, numa manhã boa, 5 a 10 minutos para conseguir que a petizada (5º ano, mas acontece o mesmo em outros), entre na sala com a máscara no lugar, sem se empurrarem e colocando o gel nas mãos da forma adequada. Isto acresce ao ritual anterior relativo atentar que se sentem de modo ordeiro e sem especial gritaria e conflitos quando à mochila que está fora do lugar, ao caderno que transgrediu limites ou ao resultado do jogo de ontem. Regras? Nem as antigas corriam bem sem muito esforço, meses bem dentro do ano lectivo, quanto mais com eles a ouvirem que as escolas são “espaços seguros” e de “contágio zero”. Pela parte que me toca, muito disso é conseguido graças a cordas vocais resilientes, uma silhueta “robusta” (leia-se, rotunda) e concentração da expressividade facial da máscara para cima. E muito abrir de braços. Não é muito MEM, não é muito “queriducho“, não é muito “inovador“, não é muito “eu respiro Educação“, não é muito “teacher, leave the kids alone“, mas funciona dentro do possível. É o que se consegue arranjar, em seu contexto. Pelo menos, possibilita que nos minutos seguintes vá ouvindo esforços semelhantes a progressivamente conseguir diminuir o “reboliço natural nas crianças” (coloquei aspas, não por ser qualquer citação de artigo recente de uma pessoa sensível e flexível, mas por ser o espírito da treta). E acreditem que não é por estar “envelhecido“, que o estou, certamente, pois ouço a pouca gente mais nova que por aí anda, com a mesma atitude. Porque ou é assim ou temos uma variante de micro-caos em sala de aula não preparada para as câmaras. Desculpem se o “retrato” é a modos que neo-realista, mas não uso photoshop.
(em alguns grupos de professores em “redes sociais” e não só, voltaram as queixas contra as pessoas que “só se queixam numa altura como esta”… a essas reservo uma atitude mais compreensiva do que a do PR para com as “autoridades de saúde”… porque eu tento sempre compreender a intolerância de quem se diz muito compreensivo e sempre apoiei a compreensão para com aqueles que aspiram ao céu dos pobres de espírito)
4ª Feira
Ao contrário do que disse António Costa, os “especialistas” (designando-os assim parece que é mais fácil aglomerar as posições) não se “dividiram” quanto ao encerramento das escolas. Pelos relatos que existem, todos concordam que esse é um factor que ajuda bastante a reduzir o ritmo dos contágios. A diferença é entre os mais “técnicos” que referem isso como objectivo e os que são mais “políticos” e inserem os “mas” de outros tipos, seja que a redução dos contágios pode fazer-se na mesma, só que mais devagar, e os que decidem teorizar sobre as questões mais sociais. Mas que o encerramento das escolas é uma das duas medidas mais eficazes para reduzir o R (a seguir a proibir ajuntamentos acima de 5 pessoas) começa a ser uma conclusão clara dos estudos transversais feitos em vários países.
A decisão vai ser “política”, não por lhe faltar base “científica”, mas porque a “política” nos últimos dez meses falhou na preparação de uma segunda vaga com esta gravidade. Foram empurrando as coisas, a ver se “mitigavam” e agora estão a tentar disfarçar isso.
E depois, por estranho acaso, nas televisões, quando se fala nisto, só aparecem salas de aula amplas, com mesas individuais e distanciamento apropriado, como se essa fosse a situação generalizada nas escolas do país. O que está longe, muito longe, de ser a realidade no terreno. Mas o que interessa é dar a entender que o nosso parque escolar é um Parque Escolar. Não é, mesmo se a descendência (filhos ou netos) de algumas figurinhas deprimentes do nosso mercado mediático tem a sorte de andar nas escolas “certas”.