O Manuel Carvalho parece que insiste em não perceber as coisas e em voltar a colar-se à tese de “os professores querem é ir para casa”. Mesmo que ache que até têm razão. Veja-se isto:
Ninguém tem dúvidas de que o fecho das escolas tem um custo terrível para os jovens, principalmente os das classes mais desfavorecidas. Foi esse preço que motivou o Governo a recusar os argumentos de uma parte da comunidade científica. Foi esse preço que nos levou a considerar neste espaço o fecho das escolas como um “mal maior”, que deveria ser evitado a todo o custo. Mas importa reconhecer a realidade e admitir que no curto período de uma semana apareceram razões para o Governo (ou o autor deste texto) mudar de opinião. A vontade dos professores tem de ser considerada. O índice de contágios nos jovens também. E a “percepção” dos portugueses que determinou um confinamentozinho com poucas regras e muitas excepções também.
Não é isso o essencial do que está em causa, c’um raio que me parta! Não é nenhum braço de ferro com “professores” de um lado e o governo e “pessoas de bem” e muito trabalhadoras e responsáveis do outro. É entre o bom senso e a teimosia idiota. Eu sou professor e pai, sendo que sou professor numa zona bem “desfavorecida” e que lida diariamente com aquilo sobre o que outros escrevem e vêem de longe. Será que pensam que o que eu quero é ir para casa passar horas agarrado ao computador que o ministério não mandou a tempo para eu ou os meus alunos “mais desfavorecidos” trabalharmos?
E não foram “os argumentos de uma parte da comunidade científica”, tal como é escrito em outra passagem lamentável, como rapidamente a esmagadora maioria se apressou a esclarecer. E essa comunidade não tem nenhuma “percepção errada” dos “perigos que ameaçam o país” como se imputa aos cidadãos.
Será que este é um professorzeco disfarçado de “especialista”?
O que está em causa é um problema de segurança sanitária e saúde pública, pá! É preciso que se entenda que há quem tenha tido a percepção das coisas em devido tempo e antecipado o que se iria passar – é o que dá ser do povo e andar entre o povo e não fechado em tertúlias bem-pensantes e sensíveis a “narrativas” sedutoras do Poder – e há quem tenha falhado em toda a linha no raciocínio ou conveniências ou sei lá o quê, em grande parte com base em preconceitos sem sustentação.
Lá por ser professor não posso ter tido razão no que previ, sem que pensem que eu quero qualquer coisa para mim? Que m€rd@, estou mesmo farto desta forma pequenina e medíocre de pensar. Um gajo é “profe”, logo, quer é ficar em casa. Phosga-se! Porque será que há quem meça os professore sempre por uma bitola de desconfiança e condescendência? Onde é que esta malta se doutorou em Ética e Superioridade Moral?
Manuel Carvalho, pá, estavas errado, tão errado e entendo que não queiras que se ande agora em busca de “culpados”, porque alinhaste activamente com eles. Só que a realidade é um muro complicado de fingir que não está lá.
Por mim, quero informação, clareza, rumo. Duas a três semanas podem evitar uma catástrofe maior do que aprenderem o Condado Portucalense depois do Carnaval.
Encarar um eventual “fecho das escolas” na lógica da vitória/derrota é um enorme equívoco. Isso é a análise do político de terceira categoria. O que está em causa é muito mais importante do que isso.
Para uma qualquer próxima vez – basta uma – tenta não encarar as coisas sempre dessa forma enviesada, em que vocês é que se preocupam com os “tadinhos dos pobrezinhos” do alto da vossa sobranceria (junto com os porfírios deputados e os raposos e baldaias e o outro que é filho d’algo) e nós, professores, que trabalhamos em condições desgraçadas tantas vezes e fazemos o pino para encurtar as desigualdades no terreno, é que somos os “corporativos” e “egoístas”. Por mim, podes ficar com os meus testes, as minhas vacinas, tudo, desde que, por uma vez, mudes o raio das lentes!
E descansa, já sabemos que se pararmos um par de semanas, estarás na linha da frente a pedir mais dois meses de aulas para “mitigar” as perdas enormes nas aprendizagens.