Uma Questão De “Prevalência”

O ministro Tiago foi prestar esclarecimentos ao povo pelas 20.15, mas em matéria televisiva só a RTP3 lhe deu antena. Nada de novo, o nervoso miudinho a descompor-lhe ali o canto do sobrolho direito, palavras em rajadas quase em parar, um esforço imenso para dar a entender que isto só é assim porque a “prevalência” do bicho inglês estragou o belíssimo trabalho que ele acha que tem sido feito em grande parte por si mesmo. Há momentos em que quase tenho pena das figuras em que este pessoal se coloca. Não há mordomias ou futuras portas abertas (ainda acaba em “reitor”?) que compensem este tipo de prestações. Ou melhor, há para quem valha, mas somos de estirpes muito diferentes.

(o secretário, claro, anda em modo stealth…)

Há Pessoal Ainda Mais Irritado Do Que Eu

Data: Wed, 20 Jan 2021 20:48:28 +0000
De: **********@sapo.pt
Assunto: Pedido de inquérito-crime
Para: correiopgr@pgr.pt

Excelentíssima Senhora Procuradora-Geral da República

Dr.ª Lucília Gago

Venho por este meio solicitar a V.ª Ex.ª que ordene a abertura de um inquérito que permita apurar se nos recentes contágios de Covid-19, ocorridos no final do mês de Dezembro de 2019, se verificou a prática dos crimes de propagação de doença contagiosa, de ofensa à integridade física e de homicídio, por negligência ou com dolo eventual, cometidos pelo primeiro-ministro António Costa (e restantes membros do governo) e pelo presidente da república Marcelo Rebelo de Sousa.

Relembro que nos Anos 80, e durante duas décadas, o Ministério Público a que a V.ª Ex.ª preside, talvez com mais escassa fundamentação factual e com mais débil argumentação jurídica, sustentou contra a ministra da saúde de então, Leonor Beleza, a acusação da prática do crime de propagação de doença contagiosa, com dolo eventual.
Disponibilizo-me a V.ª Ex.ª para acrescentar a informação que julgar conveniente.

Com os melhores cumprimentos
Mário (…) Rodrigues, Cidadão português, portador do cartão do cidadão n.º 0******* 9 ***
Morador na Rua (…)
(…)

O Fracasso Estrondoso Da Escola Digital

A decisão inédita e algo inesperada de fechar durante duas semanas (até ver) todas as escolas por completo, incluindo o chamado ensino à distância, para além de demonstrar até que ponto o governo perdeu por completo o rumo nestas duas últimas semanas, é uma declaração ruidosa do fracasso do projecto a que chamaram pomposamente Escola Digital, prometendo o actual PM 400 milhões para o efeito há mais de 7 meses.

Depois de tanta declaração parola sobre a modernização digital das escolas, chegamos a esta semana praticamente sem nada de novo a esse nível, ou pelo menos sem nada de verdadeiramente operacional. Mais de sete meses depois, período durante o qual muito tempo se perdeu em outras irrelevâncias ao gosto do ministro Tiago e do secretário João, agarrados que nem lapas às suas “convicções” e muito pouco abertos às necessidades reais das escolas.

Fazendo um inventário curto dos inconseguimentos:

  • Em relação aos alunos “mais desfavorecidos” de que alguns tanto gostam de falar”, a larga maioria dos que não tinham conseguido aceder ao E@D após Março, continuam sem equipamentos disponíveis, apesar de uma espécie de sprint trôpego a partir de meados de Dezembro. Os 100.000 kits tecnológicos são menos de metade do “essencial” para garantir que não aumentam as “desigualdades”. Se 20-25% dos alunos e famílias não tinham capacidade para seguir o ensino à distância há perto de um ano, isso implicaria, no mínimo, a disponibilização de 200 a 250.000 kits. Os dados mais recentes do Estado da Educação apontam para mais de 360.000 alunos com Apoios da Ação Social Escolar, com 13% (Secundário) a 24% (2º ciclo) dos alunos matriculados nos vários ciclos de escolaridade a beneficiar do escalão A/1
  • Em relação aos professores, terminou na 2ª feira a fase de diagnóstico das competências ou capacidades digitais. Os meses anteriores foram gastos na tradicional “formação de formadores”, tão cara a qualquer “projecto” nacional na área da Educação. Equipamentos para uma situação de ensino misto ou não-presencial que não passem pelos dos próprios professores? Até agora zero e parece que só haverá, em sistema de usufruto temporário, para quem frequentar as futuras formações que, por este andar, talvez estejam terminadas pela Páscoa, na melhor das hipóteses. Como em tantas outras ocasiões, muita preocupação em alimentar a “estrutura”, pouco empenho em chegar a tempo ao terreno.
  • E o que dizer do #EstudoEmCasa, que ainda anda a transmitir aulas que, pelos vistos, não servem para nada, excepto para compensar alguns serviços prestados à tutela e alimentar umas quantas vaidades, por muito mérito que tenham os colegas que por ali andam e tiveram a sorte de dar aulas um ano inteiro para as câmaras, sem o ruído da petizada e materiais para ver e classificar? Para que serve aquilo se, com uma interrupção das aulas presenciais, se esquece a sua existência, bem como dos laboriosos planos feitos em quase todos os agrupamentos e escolas não agrupadas para a eventualidade de se passar ao ensino misto ou não-presencial?

Parece evidente que nunca se pensou ser mesmo necessário encerrar as escolas e, portanto, tudo foi sendo feito com todo o vagar e a displicência que caracterizam aquilo que não se leva a sério e se vai fazendo porque enfim. Talvez o nervoso, irritação e teimosia do ministro Tiago (e do seu mentor, o PM Costa) resultem da consciência de que, no caso de ser preciso passar para novo período de E@D, se perceberia com muita clareza tudo o que não foi feito apesar de gongóricas promessas ou que está a ser feito a um ritmo impensável, acaso fosse uma emergência bancária.

Preocupação com “os mais desfavorecidos”? Com “o agravar das desigualdades”? De palavras andamos fartos, de actos é que a mingua é forte.

Quiçá para uma 4ª ou 5ª vaga de urticária comichosa esteja tudo mais ou menos remendado. Quando ao maravilhoso mundo da transição digital, fiquemo-nos pelo modelo tradicional.

5ª Feira – Dia 7 Do Pseudo-Confinamento (Mas Agora A Sério), Dia 2 Dos Testes Antigénio

Se as escolas fecharem amanhã ou 2ª feira, a campanha de testes antigénio fica como? No armazém? Sou obrigado a alterar o título dos posts? Ora bolas!

Pela manhã, menos trânsito, porque há quem já tenha deixado os miúdos em casa. Um pouco como em Março. Na TSF, a directora do JN a explicava como o governo apesar de convicto da sua “convicção” em manter as escolas abertas, por motivos essencialmente “sociais”, fora “forçado” (seguindo-se um dedo espetado ao PR) a mudar de posição. E que tal e que tal (foi há umas horas e com a intensidade das aulas que se seguiram a tentar fazer sentido disto aos miúdos, deram-se perdas irreparáveis na minha memória). e, claro o problema da “percepção” (termo a fazer uma entrada triunfal no discurso político-mediático para explicar o enorme desfasamento entre o que existe na realidade e o que alguns governantes conseguem perceber) ter “forçado” (outra vez) o governo a mudar de posição em 48 horas. Ou 72. Ou não sei. O que sei é que, com ou sem estirpe britânica, ficou à vista que deviam acabar com os 2ºs mandatos de governos com a mesma liderança e estrutura de Corte.