A Família É Uma Nação?

Sem ser necessário um grande esforço, consegue seguir-se a “narrativa” da “opinião” publicada no Expresso como se fosse uma espécie de novela do pais do faz-de-conta. A culpa é de “todos”, como se “todos” tivéssemos a mesma capacidade de agir. Como se, subitamente, o governo fosse um colectivo à escala nacional e o Primeiro-Teimoso, desculpem, o Primeiro-Ministro apenas um entre os pares. Não foram os meses de medidas não tomadas, a não aceitação dos avisos de quem projectava a dimensão da segunda vaga, não foi o populismo da folga natalícia, não foi a lentidão da reacção às evidências, fomos “NÓS”. Nós, o caraças!

O “falhanço nacional” é o fecho das escolas? Não é sermos o país com mais óbitos e contágios por milhão de habitantes no mundo? Não são as mais de 1500 mortes numa semana?

Não, pá, não foi bem isso que se passou, Mas eu percebo a tendência para fazer diluir a responsabilidade de uns quantos na massa enorme do “todos nós”. E o empurrar do “falhanço” para o “fecho das escolas”. “Inevitável”, mas só “agora”. Não é verdade. Esta “leitura” é quase tão inaceitável quanto “o preço de sermos humanos” do outro filho d’algo na bancada de filhos d’algo que é a prateleira dos opinadores residentes do semanário balsâmico. O que está a tentar fazer-se é, com rapidez e mais ou menos habilidade, uma enorme manobra de branqueamento.

O fecho das escolas, infelizmente inevitável perante os números atuais, é o maior símbolo do falhanço nacional.

Ricardo Costa

Dois Mundos

Leio no Público o presidente da ANDE a afirmar que “a situação está muito melhor do que em Março” referindo-se aos meios ao dispor de escolas e alunos para o ensino à distância. Diz que na escola dele já só há 15% (contra 30% em Março) de alunos sem equipamentos. Ainda bem que ele acha que Sanfins chegou ao 1º mundo. Azar meu, andar pela cauda da coisa, o que me provoca a “prevalência” de uma “percepção” claramente errada da situação.novil

A Maldição Dos 2ºs Mandatos

O segundo mandato em maioria absoluta de Cavaco Silva, chegou ao fim, mas de modo penoso, marcado por uma degenerescência completa e culpou-se a maioria absoluta pelos abusos de poder e por todo os esquemas de compadrio que tomaram conta do Estado e da sociedade.

O segundo mandato, em maioria relativa quase absoluta, de António Guterres terminou com ele a fugir de um “pântano” (político e não só) de que em parte se responsabilizou a tal maioria quase absoluta que precisava de favores limianos para se aguentar.

O segundo mandato, em maioria relativa, de Sócrates foi o que nos encaminho decisivamente para a falência técnica e a troika e na altura as culpas foram espalhadas em muitas direcções, com ele a criticar a maioria relativa que permitia maiorias negativas de bloqueio.

O segundo mandato de Costa, em maioria relativa com muletas parlamentares (PAN, PCP, as novas “limianas” independentes), vai-se aguentando, encostada a Belém, tropeçando aqui e ali, para além dos vários tropeções do primeiro mandato que a geringonça protegeu, e culpa-se a “percepção”.

Isto agora a seguir é apenas uma especulação, um “suponhamos”, porque me dizem que sem ideias novas, as coisas estagnam, não avançam e encalham nas águas movediças da pasmaceira.

E que tal limitar-se a um mandato o exercício de cargos governamentais (podendo voltar um mandato mais tarde), a começar pelo de PM, mesmo que seja o mesmo partido ou coligação a vencer as eleições, com eventual extensão da sua duração para 5 anos? E quanto aos presidente poderia fazer-se algo como estender o mandato para sete anos e ficar-se também por um, por causa de tudo que acarreta de cálculos o desejo de se ser reeleito como todos os anteriores?

6ª Feira – Dia 1 Do Re-Re-Confinamento

Há pessoas para todos os formatos e feitios. Umas gostam de tirar o adesivo devagarinho, para doer menos, mas durante mais tempo e as que gostam de tirar de repente, por muito que doa naquele instante. Nas aulas, há sempre aquel@ alun@ que decide desembrulhar um rebuçado com prata farfalhante, debaixo da mesa, como se o míope professor ouvisse com os olhos. Qualquer alun@ que me conheça sabe que, mais tarde ou cedo eu acabo a pedir encarecidamente para “descascar” a coisa à vista de todos e depressa, em vez de prolongar o martírio do resmalhar.

O mesmo com isto da pandemia. É para fazer faz-se ou não se faz. Se estão em cima, não é que tenha de ser “para Angola, rapidamente e em força”, mas por amor de todas santinhas, não fiquem a pensar demasiado se afinal, sim, não, talvez, quiçá. Em especial quando isso não se deve a dúvidas sobre o que existe, mas a cálculos acerca do bem ou mal que poderá parecer.

Isto vem a propósito do “cansaço da pandemia” que vem muito à conversa de pessoas que tentam explicar o que não passa de estupidez ou imbecilidade pessoal. E eu sei que ando a usar muito estes termos e nem é que os aprecie especialmente. Só que mesmo depois dos números dramáticos destas semanas, há quem prefira optar pelo chico-espertismo tuga, seja de trela com cão imaginário, seja desenterrando o fato de treino da última caminhada para justificar passeio sem máscara. Ontem, no trajecto de uns 50 metros entre o carro e o portão da escola cruzei-me com 3 criaturas, um casal a parecer um pouco mais velhos do que eu e um solitário, que tinham em comum uma farpela “desportiva”. O casal falava alegremente entre si de máscaras no queixo; o solitário passou pelo portão da escola e subia a rampa sem sinal sequer de máscara por perto, mas com telemóvel na mão, lutando com os fones que iam não estavam nos orelhames. O que eu aproveitei para o olhar e dirigir-lhe uma frase curta, sem palavrões (que só recentemente me passaram a surgie à ponta dos dedos, mas que lhe transmitiu tudo o que pensava daquela atitude, naquele lugar. Teve o decoro de baixar a cabeça e não me responder.

Só que a coisa não é localizada. Hoje, enquanto ia à papelaria para comprar o Público e o volume desta quinzena da bd Rio, lá me cruzei com um punhado de pessoas, só uma delas com máscara. Justificação? Não faço ideia, desta vez nem sequer lhes disse nada, pois ia no carro (calma, o trajecto foi curto e fui motorizado exactamente para não ter a oportunidade de me irritar). Apenas percebo que esta malta anda muito “cansada da pandemia”. Às vezes penso se preferirão o repouso eterno. Dos outros, claro, que eles são santos.