Sem ser necessário um grande esforço, consegue seguir-se a “narrativa” da “opinião” publicada no Expresso como se fosse uma espécie de novela do pais do faz-de-conta. A culpa é de “todos”, como se “todos” tivéssemos a mesma capacidade de agir. Como se, subitamente, o governo fosse um colectivo à escala nacional e o Primeiro-Teimoso, desculpem, o Primeiro-Ministro apenas um entre os pares. Não foram os meses de medidas não tomadas, a não aceitação dos avisos de quem projectava a dimensão da segunda vaga, não foi o populismo da folga natalícia, não foi a lentidão da reacção às evidências, fomos “NÓS”. Nós, o caraças!
O “falhanço nacional” é o fecho das escolas? Não é sermos o país com mais óbitos e contágios por milhão de habitantes no mundo? Não são as mais de 1500 mortes numa semana?
Não, pá, não foi bem isso que se passou, Mas eu percebo a tendência para fazer diluir a responsabilidade de uns quantos na massa enorme do “todos nós”. E o empurrar do “falhanço” para o “fecho das escolas”. “Inevitável”, mas só “agora”. Não é verdade. Esta “leitura” é quase tão inaceitável quanto “o preço de sermos humanos” do outro filho d’algo na bancada de filhos d’algo que é a prateleira dos opinadores residentes do semanário balsâmico. O que está a tentar fazer-se é, com rapidez e mais ou menos habilidade, uma enorme manobra de branqueamento.
Ricardo Costa