O Peso Das Palavras

Quando me lembro de ler algo como “falhanço nacional” acerca do encerramento das escolas e depois vejo dezenas de ambulâncias paradas, horas a fio, a fazer de quartos de enfermaria, no acesso aos vários hospitais do país, penso que só podem estar a brincar comigo.

Quando a propósito de duas semanas sem aulas há quem fale em “geração perdida” ou “destruição de uma geração” e todos os dias morrem, de uma doença que alguns iluminados negam existir ou ser digna de especial atenção, o equivalente a um avião de passageiros, daqueles já bem grandes, quase tudo gente idosa, só posso pensar que estou perante gente que gosta de piadas de mau gosto.

Escolas STEAME E O Fim Das Humanidades (Por Troca Com E-Shops)

Estive a assistir a uma webinar daquelas internacionais em que se apresenta o currículo do futuro, com chancela da OCDE, baseado no projecto “STEAME: Guidelines for Developing and Implementing STEAME Schools”. No fundo, é o conceito STEM, a que acrescentaram o A das Artes para ficar bonito, mas continuando a deixar de fora as Humanidades e Ciências Sociais, enquanto consideram essencial o E final de Empreendedorismo. É a visão da OCDE para a Educação em 2030 que o SE Costa tanto gosta de espalhar por cá, enquanto finge dar muito valor às Humanidades, enquanto as retalha no currículo. Vejamos o que é dito:

Without Entrepreneurial skills it is not possible to innovate and expect impact to life and this is
missing from the current definitions of STEAM activities. Therefore, STEAME Schools is a new
educational approach that uses science, technology, engineering, arts, mathematics and
entrepreneuship as a reference point for guiding student research, dialogue, critical thinking and
entrepreneurial mind set.
The STEAME framework takes STEAM to the next level, enriching it
with creativity, criticism, research and innovation and skills related to entrepreneurship with
introduction to technology transfer into the economy for better life.

Uma das actividades para alunos de 15-16 anos é a criação de e-shops em 2 aulas de 90 minutos, na segunda das quais “every group of students designs and creates a customized e-shop, that formulates a real problem. In this way, they understand the mechanism of the market in action.”

Os resultados esperados?

After the project, learners will be able to investigate the market and become more competitive using new technologies. This procedure develops their critical mind and fosters their curiosity about new markets and about their future as entrepreneurs. Their communicative skills and their ability to collaborate will be
enhanced, as they will be obliged to make decisions as partners.
The result will be the virtual e-shop with the aid of spreadsheet for billing and pricing the product.

E ainda devem chamar a isto uma Educação Humanista.

(pois, as coisas em que eu me meto só para saber como será o futuro…)

Solucionistas: A 2ª Vaga

Está de regresso aquele grupo de pessoas ética e moralmente superiores que estão sempre prontos para encontrar soluções para todos os problemas e que encontram “oportunidades” em todas as situações de crise. Na 1ª vaga pandémica estiveram firmes no seu posto a salvar a Educação Nacional contra as investidas dos “problemáticos”. O balanço foi a modos que duvidoso, mas, dez meses depois, quando se percebe que o ME pouco fez para prevenir um novo confinamento e que muita da preparação passou apenas por preparar Planos de Contingência e demais papelada, eis que estão de volta, garantindo que nas suas escolas tudo o que havia a ser feito, foi feito e que estão pront@s para novo período de um E@D de excelência. E quem ousa levantar alguma dúvida é logo destratado como sendo alguém que não quer trabalhar, não quer arranjar soluções, é um incompetente ou atrasado digital, etc, etc.

Claro que há quem assuma esta atitude de um poleiro mais alto, que é o de professor@ “superior@”, se possível de um centro de investigação ou de uma instituição de formação (inicial e/ou contínua) de professores, com destaque para quem já andou pelo mundo “inferior” e agora sabe tudo sobre aquilo que abandonou à primeira oportunidade. E fale muito na necessidade de os professores aprenderem a ser professores, aprenderem a ensinar, aprenderem a preocupar-se com os alunos, aprenderem a diversificar, flexibilizar, diferenciar, digitalizar, etc ao cubo. E conhecem imensas “boas práticas” que ajudam a disseminar nos seus “contactos com as escolas”. Escolas onde imperou a boa vontade dos docentes missionários, que ouviram as vozes do Alto e puseram em prática o Verbo Certo.

Hoje, num programa de rádio em que tive direito a 5 minutos de parlapateio, pude discordar de quem acha que uma “boa prática” em tempos de pandemia é (de novo) andar com os computadores das escolas às costas para os levar a casa dos alunos carenciados (olá, Anabela Magalhães! isto não é contigo). Eu até concordo que foi – na primeira vaga – um excelente exemplo de dedicação. Mas não me parece que deva ser algo a repetir. Foi um “remedeio”, não pode ser uma regra. Mas quando afirmo isto, passo logo para o grupo dos “problemáticos”, egoístas, daqueles que não gostam dos alunos e têm uma atitude negativa. Mesmo quando se tem razão, parece que se está num plano moral de extrema inferioridade em relação aos “solucionistas”. Que, como agora se vê, acabaram por não solucionar grande coisa, por muito boa vontade que alguns tivessem.

Apontar “problemas” é ajudar a encontrar melhores soluções. É antecipar equívocos e procurar evitar falhanços óbvios. Até se podem levar computadores a casa, quando não há outro caminho, mas antes disso devem apontar-se as alternativas mais correctas e adequadas a um país que se firma tão moderno e aberto ao século XXI. Só que os “solucionistas” parecem já ter as respostas todas, mesmo se parece consensual que o remendo do ano lectivo passado foi mal amanhado e que os avisos feitos desde então pelos chatos “velhos do Restelo” tinham razão de ser e deveriam ter sido ouvidos.

Mas é praticamente impossível entrar em debate com quem se sente não sei quantos degraus acima na escala da ética e boas práticas.

A Ler

Sem saudades do passado e sem futurismos de pacotilha, no nosso sistema educativo é preciso mudar quase tudo. Este cenário, facilmente comprovável, justificaria um ano zero do sistema educativo, onde tudo se repensaria, afastados de antemão aqueles que tanto interesse têm na manutenção das coisas como estão.

“Ainda No Segundo Período”

Os 335 mil computadores que o Ministério da Educação (ME) anunciou já ter comprado, no âmbito do programa Escola Digital, vão começar a chegar ainda no segundo período, assegura a tutela. Estes equipamentos juntam-se aos 100 mil que foram entregues no 1.º período e serão suficientes para todos os alunos carenciados, a quem foi dada prioridade na distribuição.

A Ter Em Atenção

Portugal voltou a confinar, agora com medidas mais restritivas e sérias! É hora de ir para casa, mas nem sempre o teletrabalho é visto com os melhores olhos. Muitos patrões consideram que o trabalhador “rende” menos em casa, algo que nem sempre é verdade.

Sabia que os Trabalhadores podem pedir computador e Internet à empresa para trabalhar a partir de casa?

3ª Feira – Dia 5

Para o Digital já e em força! parece ser a reacção do ME após apenas 2 dias de suspensão do ensino presencial, como se em uma ou duas semanas se pudesse fazer o muito que ficou meses à espera de ser feito. O que é, de certo modo, a admissão que as coisas poderiam ter acontecido de outro modo. Percebe-se que o regresso ao presencial não deve acontecer tão cedo (talvez depois do Carnaval) e perante as críticas que se avolumaram, empurra-se as escolas, directores e professores de modo a, se necessário, os culpar se alguma coisa não correr pelo melhor. E lá se dá mais uma guinada em tudo isto, mas sequer é navegação à bolina. É à vista e curta.