Está de regresso aquele grupo de pessoas ética e moralmente superiores que estão sempre prontos para encontrar soluções para todos os problemas e que encontram “oportunidades” em todas as situações de crise. Na 1ª vaga pandémica estiveram firmes no seu posto a salvar a Educação Nacional contra as investidas dos “problemáticos”. O balanço foi a modos que duvidoso, mas, dez meses depois, quando se percebe que o ME pouco fez para prevenir um novo confinamento e que muita da preparação passou apenas por preparar Planos de Contingência e demais papelada, eis que estão de volta, garantindo que nas suas escolas tudo o que havia a ser feito, foi feito e que estão pront@s para novo período de um E@D de excelência. E quem ousa levantar alguma dúvida é logo destratado como sendo alguém que não quer trabalhar, não quer arranjar soluções, é um incompetente ou atrasado digital, etc, etc.
Claro que há quem assuma esta atitude de um poleiro mais alto, que é o de professor@ “superior@”, se possível de um centro de investigação ou de uma instituição de formação (inicial e/ou contínua) de professores, com destaque para quem já andou pelo mundo “inferior” e agora sabe tudo sobre aquilo que abandonou à primeira oportunidade. E fale muito na necessidade de os professores aprenderem a ser professores, aprenderem a ensinar, aprenderem a preocupar-se com os alunos, aprenderem a diversificar, flexibilizar, diferenciar, digitalizar, etc ao cubo. E conhecem imensas “boas práticas” que ajudam a disseminar nos seus “contactos com as escolas”. Escolas onde imperou a boa vontade dos docentes missionários, que ouviram as vozes do Alto e puseram em prática o Verbo Certo.
Hoje, num programa de rádio em que tive direito a 5 minutos de parlapateio, pude discordar de quem acha que uma “boa prática” em tempos de pandemia é (de novo) andar com os computadores das escolas às costas para os levar a casa dos alunos carenciados (olá, Anabela Magalhães! isto não é contigo). Eu até concordo que foi – na primeira vaga – um excelente exemplo de dedicação. Mas não me parece que deva ser algo a repetir. Foi um “remedeio”, não pode ser uma regra. Mas quando afirmo isto, passo logo para o grupo dos “problemáticos”, egoístas, daqueles que não gostam dos alunos e têm uma atitude negativa. Mesmo quando se tem razão, parece que se está num plano moral de extrema inferioridade em relação aos “solucionistas”. Que, como agora se vê, acabaram por não solucionar grande coisa, por muito boa vontade que alguns tivessem.
Apontar “problemas” é ajudar a encontrar melhores soluções. É antecipar equívocos e procurar evitar falhanços óbvios. Até se podem levar computadores a casa, quando não há outro caminho, mas antes disso devem apontar-se as alternativas mais correctas e adequadas a um país que se firma tão moderno e aberto ao século XXI. Só que os “solucionistas” parecem já ter as respostas todas, mesmo se parece consensual que o remendo do ano lectivo passado foi mal amanhado e que os avisos feitos desde então pelos chatos “velhos do Restelo” tinham razão de ser e deveriam ter sido ouvidos.
Mas é praticamente impossível entrar em debate com quem se sente não sei quantos degraus acima na escala da ética e boas práticas.
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