Hoje, deixei o diário para o fim por motivos que me parecem óbvios, pois o destaque da questão colocada aos governo sobre o teletrabalho docente tem precedência. Não é a questão central que nos ocupa neste momento de pandemia, mas não é uma questão menor, mas já lá chegarei.
Queria recordar que Marcelo Rebelo de Sousa destacou ontem, de forma acertada, que o país – ou parte dele – parece viver em “estado de negação”.
E eu concordo.
Mas começaria pelo próprio PR que certamente negará que toda a cobertura que tem dado ao Governo nesta matéria foi bastante eleitoralista e, de algum modo, devedora da aliança que se tornou pública um certo dia numa visita à Autoeuropa. Não votei nele em qualquer das eleições, mas reconheço-lhe qualidades únicas, algumas muito positivas, outras nem tanto. Uma delas é a componente de “jogo político” que nem sempre me pareceu a mais responsável perante o que se passava.
Mas o “estado de negação” é mais grave no Governo, a começar pelo PM que diz mentiras (não há outro termo, poupem-me a “inverdades”) com a maior das calmas, tendo a certeza que o faz em situações nas quais fica sem contraditório à altura. O que se poderá dizer da negação permanente da opinião dos especialistas sobre a necessidade de confinar a sério? Ou o modo como usou UMA intervenção para alegar que havia discordância entre aqueles especialistas que se reuniram no Infarmed? E o que dizer das indescritível negação de o ministro Tiago ter afirmado – com câmaras a gravar – a proibição de todas as actividades lectivas e não lectivas, incluindo online e no ensino público e privado? Não está em causa porque o fez ou a eventual bondade da intenção. O que está em causa é que negou um facto objectivo, mas que, afinal, é “desmentível”.
O estado de negação não poupa muita gente, sendo desnecessário voltar a singularizar escribas residentes na opinião publicada (e televisionada) nacional acerca da pandemia e da “catástrofe” que decidiram atribuir à suspensão das aulas presenciais e fecho de escolas por duas semanas. Prefiro focar-me, por enquanto, num par de atitudes da própria “classe docente”, se é que verdadeiramente ainda existe tal.
A primeira é o estado de negação da realidade de todos os que, querendo ficar bem, afirmam que as escolas estão preparadas para um novo período de E@D. Não, não estão. Até poderão estar algumas ou algumas turmas ou mesmo anos de escolaridade, mas a maioria não está. Como com os números de contágios e casos positivos de covid-19 nas escolas, reina a representação coreográfica da realidade. Pior do que isso, só mesmo quem pensa que por “preparadas” se entende haver plano de contingência e começarem a convocar-se reuniões para na próxima semana “operacionalizarem” o que, em tantas situações, acabará por replicar os erros que já se se sabe terem existido no final do ano lectivo passado. Há gente que ou não aprende ou pensa mesmo ter feito bem o que se viu ter corrido mal, salvo excepções. O que em Julho se admitia ter sido um “remedeio” e há pouco mais de uma semana era “indesejável”, agora já parece recuperável. Pilecas envelhecidas têm dificuldade em arranjar novos caminhos. Não confundir com professores “velhos”, porque os há com mente aberta, mas infelizmente submetida à miopia de potentados locais.
A segunda é o estado de negação de muit@s docentes – e são muito mais do que o desejável ou mesmo aceitável – que estão pront@s para aceitarem o que lhes servirem ou exigirem, não achando por bem contestar ou fazer valer os seus direitos. Gente que “acha mal” que nos preocupemos, por exemplo, com a questão dos equipamentos para o corpo docente das escolas assegurar, do seu lado, um nível de qualidade de um novo E@D que não replique o que se passou durante a primeira vaga. Gente disposta a tudo, que acha que quem protesta e reclama só levanta “problemas” e não busca “soluções”. Pelo contrário, buscam-se as soluções que foram prometidas e repetidamente garantidas. E quando me aparecem a parafrasear o Kennedy dá-me assim uma coisinha má, porque detesto araras que se limitam a repetir citações avulsas, de que desconhecem o contexto. Até porque na maioria dos casos, nem sabem quando ou porque isso foi dito. Se lhes pedirmos para explicarem o que foi o projecto da “Nova Fronteira”, ficam logo com os circuitos baralhados e ainda mais se lhes pedirmos para explicar se a tal citação surgiu num período em que era necessário superar uma crise ou se era um desafio para o futuro. Irritam-me os citadores de ocasião. Que, quando chega o momento certo, se encolhem, amocham e agradecem por lhes pagarem ao fim do mês, como se isso fosse um “privilégio”. Como se não trabalhassem para isso.
Mas se querem citações, aqui vai uma: