Como Não Monitorizar O E@D

A situação que a seguir divulgo foi-me comunicada por um@ EE e não por um@ professor@ do agrupamento ou escola em causa. Tem como origem um inquérito feito pela Associação de Pais e EE, que enviou o link para responder a todos os seus contactos. Eu poderia “atirar-me” ao modo como o conteúdo está pensado (ainda comecei a sublinhar umas partes para comentar, mas desisti), mas vou-me ficar pela inépcia da forma como a coisa está construída.

Em primeiro lugar, qualquer pessoa com acesso ao link pode preencher, não existindo qualquer segurança relativa à identificação de quem responde, nem a quantas vezes responde. Em seguida, também nada na concepção do formulário impede que qualquer um@ responda a opções que não se aplicam ao seu educando. O que significa que basta uma pessoa (ou duas, ou três) com tempo e intenções duvidosas para os resultados do inquérito serem manipulados.

Se é assim que querem controlar o trabalho dos professores, para além de altamente contestável, é de uma incompetência notável.

Incluo o mail enviado aos EE, do qual retirei o link para o inquérito (transformei-o numa sucessão de imagens) porque se assim não fizesse qualquer visitante aqui do blogue poderia responder. A escola pertence a um agrupamento daquela velha cidade universitária com vista para o Mondego.

A Associação de Pais e Encarregados de Educação da Escola Básica de […] solicita a divulgação da seguinte informação:

—————————————————-

Caros Pais e Encarregados de Educação,

Face à situação pandémica que vivemos e após decisão do Governo, iniciamos no passado dia 8 de fevereiro o ensino à distância (E@D).

Neste sentido, e por forma a proporcionarmos o melhor acompanhamento aos alunos da Escola Básica […], a APEE apela à vossa colaboração no preenchimento do seguinte inquérito relativo ao funcionamento do E@D:

(…)

Deste modo, poderemos aferir como está a decorrer o E@D nos vários anos de escolaridade da nossa escola, nomeadamente, quanto à gestão e organização do ensino em regime não presencial, por forma a verificar se existem grandes discrepâncias nas várias turmas da escola.

Gratos pela vossa colaboração.

Com os melhores cumprimentos,

A Direção da APEE

A Negociata Da Capacitação Digital

Há colegas aqui da margem sul do Tejo a receber um mail com uma proposta de um “Curso de Formação para a Docência Digital em Rede”. Tudo bem, apenas mais uma entre imensas propostas nos dias que correm. Seria assunto para ir directamente para o lixo se não tivesse reparado nuns detalhes. O curso em causa resulta de uma parceria entre a “Academia do Professor”, a Rede de Centros de Formação de Entre Tejo e Sado e a Universidade Aberta.

Tudo muito institucional e, queria eu acreditar, integrado naquelas iniciativas de formação da Escola Digital, que se anunciaram gratuitas. Pois… gratuitas até certo ponto, pois só “quem não quiser certificado poderá frequentar o Curso sem qualquer custo associado”.

Agora reparem lá nestes “pormenores” relativos à certificação (e nem vou falar dos três conferencistas que ninguém sabe quem serão, mas que não será preciso um zandinga para calcular, atendendo aos monges que costumam usar o hábito por aqui), sendo especialmente engraçado o valor de “cerca de 25 euros”, como se fosse uma quantia ainda em apreciação.

Em que modelo se realiza o curso?

O curso é lecionado na modalidade de eLearning, com recurso a um sistema de gestão de aprendizagem (LMS) e num regime exclusivamente assíncrono. Ao logo do mesmo serão realizadas 3 conferências num total de 6 horas, reconhecidas como ACD válida para efeitos de avaliação e progressão na carreira.

Qual o custo de frequência do curso?

A frequência do curso não tem qualquer custo associado.

Qual o custo de emissão de certificado?

Será emitido um certificado, pela Universiade [sic] Aberta, com a indicação “Curso realizado com aproveitamento” o que implicará realizar as atividades de avaliação definidas no plano do Curso.

Como o curso terá 26 horas, terá acreditação de 1 ECTS e o custo de emissão de certificado será de cerca de 25€.

Esta ação está acreditada pelo CCPFC?

Este curso pode ter um certificado emitido pela Universiadade [sic] Aberta e individulamente [sic] pode ser soliciatado [sic] ao CCPFC a sua acreditação para efeitos de avaliação e progressaõ [sic] na carreira.

​(como autor confesso de “gralhas” – inconseguimentos ortográficos – com alguma frequência, vou apenas referir que uma publicação de uma rede de centros de formação tem um pouquinho mais de responsabilidades do que um blogue de um professorzeco)

A Mim É Que Tu Não Lapidas, Gabriel!

Até porque a trilogia “Hierarquia, Ordem e Autoridade” me diz muito pouco como valores supremos numa sociedade. Pessoalmente, até preferiria o Fado, Futebol e Fátima, mesmo se sou muito selectivo em matéria de faduncho, acho que o futebol está cheio de gente lastimável e não sou crente de santa nenhuma, porque nunca conheci alguma.

O Gabriel Mithá Ribeiro, ex-professor de História do Básico e Secundário antes de rumar a patamares superiores é alguém que conheço pessoalmente e por quem tenho estima, compreendendo até algumas das razões da sua deriva para o Chega, de que surge como “coordenador-geral do gabinete de estudos” em peça da Sábado de ontem.

Talvez um pouco inebriado pelos resultados de Ventura nas presidenciais, o Gabriel sente-se entusiasmado e confiante ao ponto de declarar que acha que vão manter o resultado em futuras eleições e acrescenta:

Se conseguirmos entrar com ideias claras em certos segmentos sociais e profissionais, como os professores e enfermeiros, conseguiremos ir mais longe. Este é um diamante por lapidar.

Olha que não, Gabriel, olha que não. Não confundas “professores e enfermeiros” com bastonárias destes ou aspirantes a isso daqueles, lá porque se acantonaram junto do André. Professores e enfermeiros podem estar magoados, sentir-se injustiçados e explorados, mas uma grande parte não é assim tão idiota que vá atrás de cantos de sereia e seduções para consumo em redes sociais.

Por muito “corporativo” que me pintem, sei distinguir o que são “ideias claras” para ganhar votos em certos grupos profissionais e o que é um projecto de tomada de parte do poder, através da contaminação e domínio de outras forças partidárias, como o Trump fez com o Partido Republicano. Até porque a coelhinha do líder do Chega fica uns pontos abaixo da fotogenia da Melania.

(um conselho final, de borla: a “autoridade” não se ganha por decreto a não ser em estados anti-liberais; ganha-se de outra forma, de modo quase natural…)

6ª Feira – Dia 19

Há um par de dias, no contexto da preparação do debate sobre a renovação do estado de emergência, o ministro da Administração Interna culpou os portugueses pela degradação da situação pandémica no mês de Janeiro. Algo parecido já tinha sido feito umas semanas antes por outro ministro (o da Economia) num exercício muito habitual em políticos que, perante adversidades, optam logo por se desresponsabilizar de tudo o que acontece. Quando as coisas correm bem, apressam-se a aparecer a colher os foguetes e louros e a anunciar festividades onde se distribuem palmadinhas nas costas à discrição.