Falácias – 2

Uma economista muito na moda e grande activista das escolas abertas no matter what (desde Janeiro é lê-la de forma repetida sobre o assunto) produziu há umas semanas uns cálculos que agora não consigo achar e que citarei de memória, até porque os valores em si não são o mais importante, mas sim a tentativa da autora transmitir uma sensação de enorme catástrofe. De acordo com esses cálculos – cuja solidez metodológica não vou contestar, porque é inútil contestar previsões de economistas, até porque o tempo se encarrega de tratar disso na maioria dos casos – dois meses de escolas fechadas implicam uma porrada de milhões de euros de prejuízos que, acumulados ao longo dos anos, dão um porradão a uma escala brutal de milhões de euros de prejuízos ao fim de duas ou três décadas,

Como disse, nem me vou dar ao trabalho de desmontar a lógica inicial da coisa, mas apenas a evidente falta de – como é que hei-de colocar a coisa sem ser ofensivo ou arrogante, eu que da Economia só dei a História? – falta de, escrevia eu, “cuidado” em integrar outras varáveis no seu cálculo cumulativo. Porque os cálculos calamitosos que a dita economista apresenta, não têm em conta medidas que, após a reabertura das escolas, são desenvolvidas para minorar ou mesmo reverter parte das perdas verificadas. E que impedem que as perdas se acumulem e aumentem como se fossem uma bola de neve sempre em crescendo. Claro que apresentar as coisas assim, de forma truncada e irrealista, tem a “vantagem” de produzir um efeito comunicacional dramático, mesmo se mistificador.

As 10, 20 ou 30 aulas (conforme as disciplinas) que os meus alunos eventualmente deixem de ter em regime presencial, por muito que produzam efeitos negativos, não os produzem num efeito cascata interminável, década após década, por muito que esta visão das coisas sirva de fundamentação para um qualquer ataque de histrionismo do Daniel Oliveira frente ao seu microfone novinho em folha, em pleno Eixo da Treta ou para artigos eruditos e muito reflexivos do Alexandre Homem Cristo (uma “carta aberta” que inclua os dois só pode ser obra de génio). Não é verdade que estejam em causa perdas de centenas de milhões de euros e a ruína de gerações, só porque se fecharam as escolas um par de meses. Calma aí, pessoal!

Se Portugal está na cauda da Europa em termos económicos há muito tempo não é por causa do encerramento de actividades lectivas mas, se calhar, em grande parte por termos elites governativas com prioridades muito próprias e muitos economistas de uma qualidade teórica tão impecável quanto a falibilidade das suas propostas em termos práticos para o país. E lembremo-nos de quantos acumularam cargos importantes de decisão política e uma formação em Economia e Finanças (e não estou apenas a falar do “bom aluno” Cavaco). Ou ainda daqueles economistas que se especializaram em “fretes” ao poder, produzindo números consoantes os interesses políticos de cada momento.

No caso desta economista com tendências catastrofistas e um muito recente interesse pela Educação, eu não tenho elementos suficientes para saber se esta atitude resulta do que me parece ser um problema geracional de alguma parentalidade que andará ali na casa dos quarentas e qualquer coisa e precisará de uma certa “formação” em paciência e caldos de galinha.

Falácias – 1

Uma das conversas que anda por aí acerca de faseamentos e desconfinamento é que este deveria ser feito por “regiões” ou mesmo por “concelhos”. O que pode parecer lógico à superfície, mas que não aguenta uma análise ligeiramente mais cuidadosa do que a de cronistas apressados ou algumas cabeças falantes que por aí pululam em programas de “opinião”.

Vejamos o caso da Educação: o concelho A tem um risco “moderado”, mas está rodeado de outros com risco elevado ou muito elevado (quem consultar o mapa de risco para hoje, pode verificar que, por exemplo, o Alvito tem risco moderado, mas Ferreira do Alentejo, ao lado, tem muito elevado; ou que Moura tem risco moderado, mas está entalada por concelhos com níveis de risco mais elevados . Desconfinam Alvito e Moura, mas os vizinhos nem por isso? Ninguém entra e sai para os outros, mas as escolas abrem (como os restaurantes, os barbeiros, etc)? E os professores que não vivem nesse concelho, mas sim nos de risco muito elevado? Deslocam-se na boa e vão tomar o seu cafézinho sem chatices? Porreiro. E no caso do Secundário em que há alunos que para frequentarem certas opções precisam de andar entre concelhos? Ahhh… desconfinamos só os pequenititos e isso nem se coloca. Então e as educadoras (e educadores, mas são poucos), desconfinam, independentemente do concelho de residência não ser o de trabalho?

Desconfinar por “concelhos” em algumas zonas é um equívoco. E vai criar situações de desnecessário conflito e, mais importante, de risco. E lá vem a mensagem ambígua e propícia aos abusos costumeiros. Por zonas, quando um punhado de concelhos atingiu um nível moderado, ainda se entende. Agora andar a fazer tracejados pelo país, só ajuda a confusão.

Sábado – Dia 20

Perante a situação de emergência há dois caminhos a seguir: um é o da identificação atempada de problemas e busca de soluções para prevenir uma nova crise (podemos usar a analogia da vacina); o outro é o das reacções atrasadas e defesa de remédios de efeito rápido, mas que não curam a doença (como se fossem analgésicos, para efeito rápido sobre a dor) e nem sequer actuam sobre a sua origem.