Só Mesmo Com Outro Modelo

Acho que foi ontem que vi o responsável pela equipa da Cruz Vermelha que anda pelas escolas de acolhimento a fazer testagem a dizer que tudo tem corrido muito bem (consta que não é bem assim), mas que o modelo para fazer a testagem, num contexto de reabertura das escolas deve ser outro (o que é mais do que óbvio).

Se em quase dois meses 35 equipas móveis fizeram 55.000 testes, é preciso uma enorme modificação na escala da operação. Porque isto dá menos de 10.000 testes semanais (se contarmos 6 semanas) , o que equivale acerca de 2.000 testes diários numa semana de dias úteis.

Só que, mesmo que apenas regressem o pré e o 1º ciclo, será necessário fazer 10 vezes esse número de testes antes do reinício das aulas, se contarmos alunos, funcionários e professores. Parece que há 20 milhões de euros para esse processo. Resta saber se os sabem gastar da forma mais adequada e eficaz. Em Portugal, há sempre uns “desvios” muito peculiares em relação aos projectos iniciais. No tempo e na despesa da “operacionalização”. A ver vamos, diz o míope.

Uma Longa Carta

Adivinha-se uma parte do que terá originado esta reacção por parte de uma colega.

Caros Encarregados de Educação,

Algumas considerações iniciais que julgo pertinentes.

Tenho colocado em primeiro lugar o trabalho com os meus alunos, nunca descurando a ajuda ou esclarecimentos a respeito de alguma situação.
Tenho muito claras as dificuldades que identifiquei no início do ano, para o que contribuíram constrangimentos de vária ordem, desde as características do ano letivo transato, bem como uma incipiente literacia num parte considerável de alunos, aspeto que não encontra justificação num ano, mas no seu percurso de pouco investimento nas competências leitoras desde a mais tenra idade. Feito o diagnóstico, defini com clareza, de acordo com as orientações e planificações em vigor, a necessidade de definir um caminho. Foi, sem dúvida, a competência leitora aquela em que mais insisti em termos de estratégias e de atividades. Lembro que todos os domínios do português com ela estão relacionados e dela dependem, já para não referir que a língua materna é a língua usada em todas as outras disciplinas, até na de Inglês para confronto. É de um bom domínio da língua que os alunos se conseguia defender, apresentar e fundamentar opiniões, etc… Na verdade, o professor tem de fazer opções em função dos alunos que tem à sua frente: nem todos os conteúdos são necessários para que as competências sejam atingidas. O que não pode de todo ser esquecido é o aumento da sua competência leitora (leitura superficial, leitura por camadas com sentidos implícitos vários, relações de texto e intertexto e posição do aluno face a determinadas situações, factos, isto é, a avaliação e a capacidade de se pronunciar criticamente relativamente as aspetos vários).

As aulas em ambiente de E@D não podem ser uma réplica das aulas em regime presencial. Elas decorrem em ambientes diferentes, pressupondo também a capacidade de usar o digital, não como mero canal de comunicação, mas como um ambiente de relações e de aprendizagens com estratégias em consonância. Lamento dissuadir os pais que defendem a maior proximidade possível às aulas presenciais. Literacia digital é outra das que temos de considerar  e este é o momento. O momento para se perceber que ambientes diferentes pressupõem estratégias diferentes, não todas é certo, mas não a cópia da sala de aula física. Assim, com a classroom não estou dependente da boa vontade de grupos editoriais para criar uma turma com o acesso ou não a recursos consoante a vontade desses mesmos grupos. Para Português nem de manual precisaria mas essa é outra história que aqui não cabimento. A classromm é uma sala de aula virtual, onde há materiais, sumários, comentários, participações de alunos e professores. A única coisa que faria diferente em relação ao inicio do ano letivo prende-se com o uso da sala de aula virtual. Devia tê-la criado e ter desenvolvido presencialmente uma metodologia de ensino híbrido, para os alunos melhor se ambientarem. Meu culpa. Falta de visão da minha parte.

Desta forma, a primeira abordagem feita pelos pais, não nesta carta mas numa outra, prende-se com as faltas da professora. No que concerne a este aspeto, recordo que a docente, estando a acompanhar a sua educanda em isolamento profilático, tendo o direito de esquecer a escola e os seus alunos, não o fez. Mais, propôs junto da direção da escola, mais concretamente junto da senhora diretora um plano, para dar aulas à distância, que a senhora diretora acolheu e tratou de, com celeridade, encontrar respostas. Desta forma, alguns dos meus colegas foram, temporariamente retirados de outros serviços para poderem acompanhar os alunos em sala de aula, para que a docente de Português, pudesse dar aulas aos vossos educandos. Desta forma, todos os alunos tiveram o máximo de aulas possível, ministradas pela professora, considerando a disponibilidade de equipamentos e de recursos humanos para acompanharem a turma na sua sala de aula. Gratificações não quero; apenas respeito por parte dos Encarregados de Educação. Outras faltas não são da vossa competência nem julgar nem conhecer os motivos, apenas devo satisfações no meu local de trabalho, onde as devo justificar.

Mais tarde, findo o primeiro semestre de forma atropelada, com alguns docentes doentes e outros a aguardar teste à Covid e em isolamento profilático, todos, sem exceção, não se pouparam a esforços, com as limitações que tinham e com os seus próprios recursos, a trabalhar muitas horas por dia, dia após dia, sem fins-de semana, para que pudessem ser realizados os conselhos de turma de avaliação e para que pudessem ser feitos horários de E@D, em simultâneo com a chegada de muitos documento por parte da tutela. Foi um desgaste imenso, em que professores fizeram trabalho que não lhes era devido, da melhor forma que conseguiram, nem sempre concordando com o resultado final, mas entendendo que era o melhor que se conseguia fazer. Depois desta etapa, ainda havia o seu trabalho direto com os alunos a ser preparado para uma modalidade diferente, que não pode, de todo, replicar o modus faciendi do ensino em regime presencial. Pela parte que me toca, fiz um esforço acrescido, sem descanso, sem apoiar a minha família. Assim iniciei o E@D e o tenho levado acabo até hoje, com muito pouco descanso, dando feedback aos alunos e, o que não voas diz respeito, com outras questões profissionais pendentes, e com a minha família para trás.  Nota-se que há, da parte dos encarregados de educação, uma relação com a escola e com os professores, que, a meu ver não contribui para o bom desenvolvimento das aprendizagens e, menos ainda, para o reconhecimento do trabalho desenvolvido pelos docentes. Veio um novo confinamento dizer que havia coisas mais importantes que conteúdos e classificações quantitativas. Veio a evolução dos acontecimentos provar apara quem estiver disposto a entendê-lo que o processo é que constrói conhecimentos e leva a competências, estas sim, para a vida e importantíssimas para uma formação consistente, tão necessárias para crescer ano após ano com a complexificação própria da escada na escolaridade básica obrigatória.

Mais uma vez, reflito e concluo haver desajustamentos e uma suposta medida de forças para com alguns professores, em vez de uma empatia que aproxima alunos da escola, da disciplina, do professor e, consequentemente, da vontade de aprender.
Constato a falta de respeito de muitos encarregados de educação face à minha condição de professora, perturbando o meu trabalho que aos vossos educando dirijo e para eles preparo.

A aula de quinta-feira, véspera do dia em que os Encarregados de Educação resolveram dirigir-me a última carta,  foi muito sua generis.  Era imperativo que vos fizesse chegar um balanço, quando sou surpreendida com a carta que, em nome de todos, resolvem enviar e que a Diretora de Turma prontamente me fez chegar. Na verdade, saberão os pais que os professores são humanos, a energia também acaba. Sou persistente e só por isso não me rendi ao meu cansaço e desgaste físico e psicológico, a necessitar de descansar, e não bati com a porta para poder cuidar de mim e dos meus, para melhor me dedicar aos outros, nomeadamente aos vossos filhos e ou educandos, também aos meus.

Considerando a forma como a aula decorreu, a carta recebida e a promiscuidade, como nunca testemunhei ao longo do meu exercício profissional, entre alguns encarregados de educação e a forma como, sem conhecimento, alguns apresentam juízos de valor a respeito do meu trabalho, e  mostram evidências, a qualquer pessoa, com informação distorcida e reveladora de ignorâncias várias, concluo a enorme falta de respeito para comigo, enquanto pessoa e profissional. Posso então concluir que a carta que me foi dirigida não reflete a vontade de todos os Encarregados de Educação como quer fazer crer. Posso concluir que, contrariamente ao que faço enquanto docente, uma autoavaliação sistemática do meu trabalho com os discentes (o planeado, o realizado e o nível de proficiência conseguido em cada aula), os subscritores da carta talvez não a façam ao seu papel de pais e de encarregados de educação, atirando para a escola e para o professor o ónus da culpa de tudo o que pode correr menos bem.

Assim, vejamos: A professora utiliza a Classroom e um link do meet associado para as aulas síncronas e para tarefas assíncronas ( Nesta plataforma, apenas obrigando ao acesso  apenas com o mail institucional, os alunos têm o contacto com as disciplinas de Português, HGP, Cidadania e TI – professoras[…] ; TI – quinzenalmente e Cidadania semanalmente por grupos, conforme horário enviado pela Diretora de Turma).Sabe a professora que o horário aprovado, às quintas-feiras, quando há TI, repito quinzenalmente, obriga a que alguns alunos tenham três blocos de cinquenta minutos seguidos. Assumiu-se um compromisso entre docentes que, quando tal acontecesse, permitiríamos que entre Português e TI fosse aumentado o intervalo, o que tem sempre acontecido.

A docente informou-se junto da Diretora de turma dos alunos que poderiam ter falta de equipamento para aceder à internet e a informação recebida foi a seguinte: “Uma aluna sem portátil (parcos recursos, têm o comprovativo da segurança social, com direito a escalão A, mas não foi entregue nos serviços administrativos)”. Nada a dizer, apenas a sublinhar, os alunos com escalão A ou B têm sido os primeiros a obter equipamento de acordo com as possibilidades da escola, dadas as falhas da tutela. O encarregado de educação desta aluna não levou a cabo os procedimentos para obter o escalão A que lhe era devido. Posto isto, é lícito concluir que todos os outros têm como aceder, ainda que todos saibamos que docentes e discentes deveriam ter equipamento cedido pelo Ministério.

Planilha semanal – obrigatória e vale o que vale. Da minha parte, procedi à identificação do material necessário. Estranha-se que alguns alunos não tenham o material que foi solicitado no início do ano, estando em clara desvantagem com os colegas que o possuem. Refiro-me às obras de leitura obrigatória (primeiro literal em casa e depois extensiva na aula, para desenvolver a competência leitora). Já foi trabalhada a obra A viuva e o Papagaio  e estamos prestes a terminar A Fada Oriana. Mais informei no início do ano letivo e fui relembrando a necessidade de uma leitura prévia antes de, em aula, neste último caso, síncrona, efetuar um teste de verificação de leitura. Também a DT, penso, em reunião inicial com os Encarregados de Educação disso deu conhecimento. Estranha-se o distanciamento de alguns Encarregados de Educação: discentes sem livro, sem leitura, quando outros cumprem tudo. Recorda-se que os livros são os mesmos há anos e, com certeza, há irmãos, amigos, familiares até conhecidos que terão o livro que podiam ter tido emprestado, no caso de não optarem pela compra. Mais recentemente informei os alunos que a Biblioteca Municipal tem serviço take away.  Informo que o meu vencimento não vem com fotocópias de notas de euro nem me chega via internet com um link a dar para notas de euro reluzentes.

Logo, não contem comigo para práticas ilegais como algumas que existem e são pratica demasiado corrente, a cópia ilegal e o uso de digitalizações ilegais. Todos os que contribuem para a cadeia do livro também são trabalhadores e o seu trabalho merece ser pago. Sacar, fotocopiar é ilícito, é roubar. Contribua cada um com o que deve para podermos dizer não à corrupção, à fuga aos impostos, etc… Estes Encarregados de Educação, cujos educandos não têm material, também são subscritores da carta?Informo que, na plataforma, estão todos os sumários e de seguida, em comentário de turma, os aspetos abordados na aula com as devidas conclusões, para estudo dos alunos e para diminuir as dificuldades dos alunos que, por ligação de internet deficitária, não conseguiram acompanhar tudo. Também a minha internet, que eu pago, não é estável. Não com estes alunos, mas com outros tive falha de luz, bloqueio de câmara, voz tremida, etc… Infelizmente, não me cabe a mim nem a vós resolver. Com certeza, se assim fosse, estaria resolvido.

Na plataforma, além de todas as aulas e da síntese de cada uma, estão as tarefas para as aulas assíncronas. As tarefas para as aulas assíncronas não ultrapassam os cem minutos, por semana, que os alunos têm a sua disposição para as realizarem. Obviamente que são tarefas para os alunos resolverem autonomamente, não são TPCPP (Trabalhos para casa para pais). Os pais não são professores dos filhos, devem ser pais, garantir que estão nas aulas. Quais são os Encarregados de Educação que não podem ter sido subscritores desta carta – aqueles que deixam os seus filhos entregues a si próprios, não acautelando que acedam às aulas. Também não se incluirão os pais, cujos filhos se levantam da cama para o computador em pijama e que passam grande parte da aula com o irmão ou irmã de chupeta na boca ao seu colo, intercalando o colo que dá ao irmão ou irmã com o bocejar e espreguiçar constantes. O circuito que os meninos faziam de casa para a escola proporcionava que estivessem mais despertos para uma aula às oito e quinze. Sabemos que em casa, apenas pode contribuir para isso, o levantar-se, fazer a sua higiene, tomar o pequeno almoço e vestir-se. Todos os discentes têm estes aspetos acautelados? Não, então estes não são os pais subscritores de uma carta como a que recebi.

Os trabalhos para aulas assíncronas  têm sempre o prazo de entrega no dia após o da aula seguinte, isto é, prazo da tarefa lançada quinta tem o prazo para entrega na quarta, dia que se segue à aula de terça; o mesmo princípio para a aula de sexta-feira. Não conto com fins de semana para a realização de tarefas, obviamente. Não posso fazer isso a crianças que estão a crescer e que devem ter os tempos organizados de forma a estarem no fim de semana completamente livres de tarefas escolares e possam interagir com familiares e afins.

Porque há alunos de toda a qualidade e feitio, com mais ou menos competências e eu sou professora de todos, a minha bitola dedica-se a todos com as tarefas obrigatórias. No entanto, não posso descurar os que conseguem e querem fazer mais, no sentido de desenvolverem mais competências, daí haver tarefas que surgem em DESAFIOS  e em LEITURAS, aqui sim podem solicitar o diálogo com os pais de assuntos, creio, muitas vezes banidos das conversas do quotidiano, pela vida que a modernidade a todos obriga a levar. São tarefas opcionais.

A plataforma envia, sob a forma de mail, qualquer comentário que eu faça, e até receber esta carta foram poucos aqueles a quem não dei feedback descritivo da sua participação e ou trabalho. Bastará uma leitura de um mail para que um encarregado de educação atento e que queira ajudar, possa ler no final desse e-mail que pode cancelar todas as notificações, como com certeza terá feito na rede social que esse adulto, quiçá utiliza. Para quem não fez uma leitura atenta de um dos e-mails do seu educando, apenas de um, e afirma, divulga na mesa do café, no salão de cabeleireiro com qualquer pessoa estranha a este processo de ensino aprendizagem que desenvolvo com os meus alunos, só posso sublinhar a seu juízo de valor errado e superficial, maledicente, feito de forma absolutamente ilegal, revelando ignorância, má-fé, desrespeito para com a docente e uma profunda ignorância. Deveria estar em casa a acompanhar o seu educando ou educanda. Infelizmente, não vem ao caso, vindo, estamos a viver um sufoco a vários níveis, todos sem exceção.

Dos professores espera-se tudo, 24 horas por dia, espera-se que sejam missionários sem vida própria,  espera-se que sejam perfeitos, que não vos façam refletir como pais e que se escudem em identificar todas as falhas possíveis e imaginárias num professor (as que existem e as que decidem como verdadeiras, a seu belo prazer, selecionando alguém para bode expiatório.). Ao fazerem-no à frente dos filhos, estão a ser péssimos pais, porque, ainda que com alguma razão, estão a contribuir para o descrédito do professor, da escola, das aprendizagens e a afastar o vosso educando da escola. Imaginem aqueles pais divorciados que à frente dos seus filhos apenas demonstram raiva, desrespeito, para com o outro elemento que escolheram para pai ou mãe dos seus filhos, usando crianças como bola de pingue-pongue, cada vez mais alheadas, cheias de culpas e em sofrimento. Vale a pena pensar nisso.

Cada um sabe de si e todos temos dificuldades, mas também sei que à frente dos meus alunos não exponho as minhas, cara alegre. Também sei que alguns pais, por vários motivos não usufruem das medidas de apoio à família. Não os julgo, cada um sabe de si.  Obviamente, como todos sabemos, julgo alguns, os que mais fogem aos impostos e que na hora do aperto estão na “linha da frente para os apoios das suas pequenas empresas”, para receberem os subsídios, ao mesmo tempo continuam a trabalhar na “Candonga”. Aqui não haverá situações destas. Cafés estão fechados e cabeleireiros também estão fechados, revelando a sua integridade e a dos seus clientes que com certeza também não os procuram. Não creio ver nesta categoria pais e professores, mães e professoras a prestar tão maus exemplos! Desabafos de quem está cansada de se dedicar a inutilidades dispensáveis, quando o que deveria estar a fazer era trabalhar com produtividade para os seus, para si e para os seus alunos, e com pendentes profissionais que não passam pelo trabalho direto com os alunos, mas que tenho em falta.

Ainda na aula de quinta-feira, além de ver passear em robe toda a família por detrás da câmara de um aluno, deparo-me com uma mão que não a do aluno com um telemóvel virado para o ecrã, apenas com uma imagem: a do meu retângulo visível para os alunos. Pais, irmãos, coabitantes dos meus alunos, façam favor, podem todos sentar-se e assistir, dando a cara, sem intervir. Tenho todo o gosto em tê-los presentes sem ser cobardemente, dando respostas ao aluno, por vezes descuidado no som; tenho todo o gosto em que assistam às aulas sem que as gravem ou usem a minha imagem, tenho todo os gosto que assistam e, pelo menos, peçam ao vosso educando que coloque a câmara direita, sem estar a fazer o pino. Também eu dou o exemplo. Não se trata de dificuldade de acesso, aqui trata-se de provocação, não dou aulas a fazer o pino. Por ironia, o aluno faz o pino e a encarregada de educação, em plena aula, tal qual se dirigisse ao seu ex-companheiro que escolheu para pai dos seus filhos mas que não respeita (apenas um exemplo) resolve chamar e dar ordens à professora em alto e bom som, dirigido-se para o seu filho fisicamente, mas com um discurso para a professora, com toda a turma on-line a ouvir. Não comento. Apenas sublinho, também este aluno não tem o material necessário.

Quase a terminar, reportando-me à referida aula de quinta-feira, e também ao cumprimento de horários, devo dar conta do seguinte: Contam-se pelos dedos de duas mãos, os alunos pontuais, outros não o são por dificuldade de acesso que a todos acontece, outros não aparecem porque não haverá pais em casa, provavelmente. Efetivamente, não cumpro todas as minhas obrigações emanadas da tutela – informar CPCJ quando presenciar e identificar situações em que o aluno possa não estar a ser acompanhado de acordo com a sua idade, logo não compareça nas aulas, etc…Preferia sim, que os pais fizessem este meu trabalho, refletindo, primeiro.

Para terminar, depois de uma aula tão “sui generis” como a que fui descrevendo – a de quinta-feira da semana passada, para dar por finda a aula e o assunto tratado, ocupei os alunos mais cinco minutos que o devido. Considere-se que posso exigir os meus direitos quando cumpro os meus deveres- deveria ser um princípio. Porque a aula foi interrompida com tantas faltas de respeito, não preciso de justificar o uso de 5 minutos, quando os pais são os principais responsáveis por uma aula com péssimos exemplos. Tanto mais que, sendo eu uma das professoras de TI, sabia ( como os alunos deveriam saber e não sabiam porque perguntaram na aula e por mail, a quem respondi) não ser dia de aula daquela área TI, logo, felizmente, os alunos castigados com um horário de três aulas síncronas seguidas (10) iriam ter 60 minutos de intervalo até à aula do seu grupo de Inglês.  É a este incumprimento que se referem quanto a horários, é ao incumprimento no início de aula às 8:15 quando estão apenas cinco ou oito alunos, esperando por todos os outros. Poderá a docente ter direito a aguardar um pouco que todos cheguem para iniciar a aula com o maior número de alunos e, simultaneamente, poder verificar se a sua educanda está aula, ainda que  com o pior equipamento, dado que o melhor uso eu para trabalhar com os meus alunos?

Caros pais, adoro ser professora e de Português, não creio que a carta seja a voz de todos. Mesmo daqueles que cumprem com todas as suas  obrigações de pais, se alguma razão têm, sejam tolerantes, calcem os sapatos de quem dedica a maior parte do seu tempo aos alunos. Reflitam, formem uma tertúlia de pais, discutam assuntos fantásticos que há para discutir, ideias para trocar sobre  mais precioso que todos temos: os nossos filhos. Contem comigo, lá estarei.

Não contem para dedicar mais um minuto a cartas deste teor. Não tenho tempo para elas. Preciso de descansar e também de trabalhar, sob pena de a minha persistência contra tanta adversidade dizer basta, numa altura em que professores estão em falta nas escolas, mesmo que sofríveis como os senhores pensam a meu respeito. Não há problema, diz a sabedoria popular que “Depois de mim virá quem de mim bom fará”. Da minha parte, oxalá não me faltem as energias para levar a bom porto o ano que iniciei com os meus alunos, pois com a gratidão ou a indiferença de alguns pais de […], sei que deixo sementes boas nos meus alunos. 

Agradeçam os professores que têm para trabalhar com os vossos filhos, todos eles farão, ainda que de forma diferente, o melhor que sabem e de que são capazes, com as condições em que trabalham.

Como compreenderão, aquando de uma próxima situação de desrespeito de um encarregado de educação em sala de aula, tomarei uma atitude: o seu educando será expulso da aula. De outra forma não posso garantir bons exemplos para o resto da turma e há pessoas muito bem formadas e interessadas.

Relativamente à promiscuidade entre encarregados de educação e pessoas, professores da escola ou não, que lesem a minha dignidade, o meu bom nome e a forma como exerço a minha profissão junto dos meus alunos, agirei de outro modo em sede própria. Não vale tudo.

Caso necessitem de uma reunião para conversarmos sobre o funcionamento da plataforma em conjunto com os vossos filhos, as tarefas e o seu envio, a sua pertinência, estarei disponível para marcar uma videoconferência. Disponham. Com minha direção de turma dediquei duas horas de um domingo a fazê-lo, outras duas a falar das avaliações.

O maior dos presentes de um professor é o olhar brilhante de uma criança que quer aprender e que vê no professor alguém que lhe abre janelas. As portas abri-las-á o aluno, criança hoje, homem amanhã.

Profª […]

Domingo – Dia 28

Todos os anos recebemos nas escolas orientações sobre a avaliação dos alunos. Todos os anos somos bombardeados com a mesma condescendência dos teóricos e burocratas acerca das metodologias que devemos adoptar para melhor e mais justamente avaliar os alunos, de modo formativo, diferenciado, equitativo, individualizado, flexível, motivador, mobilizador, etc, etc, etc, como se tivéssemos anualmente de revisitar sebentas dos tempos da formação inicial ou da profissionalização.

Este ano não é excepção e receberam-se os “Princípios Orientadores para uma Avaliação Pedagógica em Ensino a Distância (E@D)” e lá temos direito a mais uma lição dos especialistas em avaliação do Ministério da Educação, mesmo se raramente deram aulas nos contextos acerca do quais dissertam.