In Memoriam – Luís Cruz Guerreiro (1962-2021)

O meu mais antigo amigo em exercício permanente, desenhador da BD O Deserto da Educação dos tempos do Umbigo e autor da minha caricatura de umbigo de fora no livro do blogue, morreu hoje, vítima de covid-19. Tinha 58 anos; era azulejista e, mais especificamente, paineleiro (no nosso dicionário particular) por gosto e vocação, com vasta obra, exposta por cá e no Brasil.

Bedéfilo inveterado, ficou marcada na fachada da sua oficina o nosso gosto comum, que em meados dos anos 70 nos fez romeiros à papelaria da “vila”, todas as 5ªs feiras, em busca do Mundo de Aventuras da semana. Numa das nossas últimas conversas, tinha-me oferecido algumas revistas trazidas do Festival de Angoulême, onde tinha ido finalmente, como uma espécie de peregrinação, sem a qual não poderia sentir a sua missão cumprida por aqui. Autor de uma infame BD inovadora, em azulejo, (Capitão Bacalhau) e de outra (Jerilío) que concebeu para papel e azulejo, estava hospitalizado há mais de um mês e passara do Hospital do Barreiro para o Garcia de Orta. no que eu já adivinhava ser uma mudança pouco auspiciosa.

Em sua honra, não vou alinhar ladaínhas muito adjectivadas, mas apenas dizer que esta é uma putavida e que há por aí uma cambada de gente que não merece o oxigénio que gasta, de tanta dúvida que vomita sobre tudo e nada, incluindo a vida e morte alheias. Com a morte do Paulo Gil há menos de quatro anos, já se foram dois dos três com que dava para partilhar a memória de tantas parvoíces de outros tempos. Acho que o outro já não está preso.

Gabba Gabba Hey!

A Minha Proposta De Index Politicamente Correcto Das Letras Portuguesas – Parte II

Como já tinha antevisto em anterior oportunidade, há autores que têm merecido uma abusiva reverência e, por isso, têm beneficiado de um lugar cativo no cânone nacional de um modo que só pode ofender qualquer verdadeira sensibilidade. E não há que temer denunciá-los, pois é necessário expurgarmos todos estes péssimos exemplos de preconceito e intolerância em relação à alteridade nas suas mais variadas manifestações.

Vamos a isso, a bem de uma Cultura Nova, sem laivos de uma nostalgia tradicionalista, com o seu travo amargo e salazarento.

  • Luís de Camões – exemplo clamoroso de um autor que concentra os dois pólos maiores do preconceito. A sua Lírica é uma demonstração extensa de estereótipos de género, objetificação da Mulher, misoginia e machismo, mesmo que com a cobertura muito superficial de um romantismo cínico. Já a sua épica, simbolizada pel’Os Lusíadas, é um monumento no pior dos sentidos, concentrando o que de pior temos de nacionalismo, imperialismo, supremacismo, racismo, xenofobia, intolerância religiosa, eurocentrismo e militarismo, não esquecendo a lascívia voyeurista e a pornografia explícita e, de novo, o machismo e a objetificação da Mulher no triste e decadente episódio da Ilha dos Amores, a que o autor, sem pudor, dedica parte significativa dos Cantos IX e X.
  • Fernão Mendes Pinto – um mentiroso e fantasista assumido. O tom rocambolesco da sua narrativa não esconde o seu eurocentrismo, xenofobia e racismo latente, assim como o seu oportunismo religioso.
  • Francisco Manuel de Melo – criminoso condenado, aventureiro sem fidelidades constantes, marialva nos amores é um exemplo acabado do aristocrata privilegiado que vive de estratagemas que ultrapassam com frequências as fronteiras da legalidade. A sua Carta de Guia de Casados reproduz estereótipos de género numa lógica binária e as suas Epanáforas são um exemplo de nacionalismo, militarismo e apologia do colonialismo.
  • Diogo Paiva de Andrada – outro ideólogo da binaridade e estereotipia de género, misoginia e machismo. Basta abrir, ao acaso, o seu Casamento Perfeito para se encontrarem passagens mais do que explícitas da sua atitude tradicionalista; vejam-se os capítulos XII (“Que não seja a mulher mais rica que seu marido”), XIV (“O parecer do rosto, que os homens devem escolher nas mulheres com que se casam”) ou do XXI ao XXV, nos quais se faz a apologia das mulheres devotas, virtuosas, caladas e sofridas e dedicadas às tarefas domésticas.
  • Padre António Vieira – a sua hipocrisia já começou a ser desmascarada e não era sem tempo. É um caso maior de proselitismo religioso, de intolerância, apologia do colonialismo e esclavagismo, racismo e moralismo decadentista. Nem merece maior perda de tempo, pois há quem já tenha feita a denúncia deste colonialista e racista com toda a propriedade. A teoria de que seria mestiço não passa de uma narrativa mistificadora, na tentativa de o desculpabilizar por todo o mal que espalhou em torno do Atlântico.
  • Francisco Xavier de Oliveira (Cavaleiro de Oliveira) – figura menor das Letras, mas nem por isso menos insidiosa no seu machismo, misoginia e objetificação da mulher, até porque a sua prática esteve de acordo com as teses expostas na sua vergonhosas Cartas, indevidamente apresentadas como “familiares”. Leia-se a seguinte passagem da sua carta ao Conde Claravino Basso: “Respeitem-se as mulheres como quinta-essência das obras da natureza; reputem-se mais brilhantes que os astros; creia-se que à vista dos seus olhos perdem os raios de sol o esplendor; levantem-se altares aos seus merecimentos, perante os quais se prostrem e se sacrifiquem todos os dias tropas de amantes e bandos de adoradores que esperam do menor dos seus agrados a sentença dos destinos. Tudo isto não é capaz de desfazer a ideia da imperfeição do sexo. Execrável e inadmissível.
  • Ribeiro Sanches – o título da sua obra mais conhecida deixa-nos logo de sobreaviso pela desnecessária referência à “mocidade”. Não é, portanto, mera coincidência que se encontre adiante nestas Cartas o elogio a Sócrates, conhecido pelas suas preferências afectivas (deixemo-las assim) problemáticas, bem como múltiplas referências a “mocidade” e “meninos”, mesmo que a coberto de denúncias aparentes de injustiças e desigualdades. A mensagem subliminar e libidinosa é absolutamente inegável. Pedofilia latente.
  • Luís António Verney – intolerância cultural, moralismo histórico e tradicionalismo pedagógico-didático, que se expressam desde a proclamação de ser seu o Verdadeiro Método de Estudar. Como tem sido demonstrado, a Educação deve ser diferenciada, individualizada, multi, inter, trans e pan-cultural, baseada numa inter-personalidade relacional, a partir do qual se construam em liberdade os contextos educativos, numa perspectiva que deve ser inclusiva e crítica dos saberes tradicionais e e uma concepção estanque dos saberes. Por isso, capítulos sobre a importância do ensino da Matemática ou da História não fazem sentido e podem mesmo ter uma influência trágica na Educação Afirmações como “o facciosismo nasce do não-saber” são por demais perigosas, pois está já firmemente estabelecido que é o culto do Saber que nos limita um olhar plural sobre a realidade, que devemos absorver de forma integrada, holística, numa simbiose Pessoa-Natureza que recuse o estereótipo discursivo da “Humanidade” que remete o Humano para “homem”, quando este não é mais do que um segmento passageiro do espectro maior de um fluxo de identidades pletóricas.

Em breve, parte III dedicada a alguns dos vultos mais lastimáveis das Letras portuguesas de Oitocentos, um século muito marcado por figuras indevidamente exaltadas como canónicas, desde o intolerante Herculano ao cínico Ortigão, não esquecendo o depravado Eça e o perverso Camilo.

Secção De Eventos

Onde se pode encontrar parte da fina flor da Situação Educacional, sendo que algumas figuras são de qualquer situação, desta ou outra. Temos figuras imorredoiras, sempre em mutação para assegurar posição, e uns quantos cortesãos arrivistas, crentes no Verbo Novo da Educação para o século XXI, mesmo que se tenha demonstrado que o que papagueiam é de mui escasso valor e praticamente nula utilidade fora de umas salinhas coloridas a preceito para turmas seleccionadas. Não vale a pena apontar nomes, porque todos sabemos quem são e ao que andam, mas há quem, em busca de destacamento ou requisição, já esteja a entrar na terceira década de serviços fiéis a tod@s @s senhor@s, de Marçal Grilo até ao Tiago, sem quaisquer dramas de consciência ou preocupação com coerência.

É já na 6ª feira e tem destinatários preferenciais, claro.

Evento Nacional – Plano de Ação para o Desenvolvimento Digital das Escolas