A Minha Proposta De Index Politicamente Correcto Das Letras Portuguesas – Parte III

O século XIX é um período de enorme decadência das Letras portuguesas, parecendo que as mesmas foram tomadas por uma febre imensa de preconceitos de todo o tipo, de um elitismo social e cultural insuportável e de um conjunto de taras socio-literárias que nunca deveriam ter ganho o destaque que ganharam num cânone que parece rendido aos piores instintos de uma elite cultural estrangeirada e complacente, desde um romantismo exacerbado a um pseudo-realismo naturalista que entrou, sem pudor, pela pornografia moral.

Hoje, vou ficar-me pelos alegados “românticos”.

Almeida Garrett – apresenta um excessivo sentimentalismo, encarando as relações afectivas de forma estereotipada e dominada por um pensamento binário, como se pode verificar nas suas tardias Folhas Caídas, mas que é evidente desde os seus primeiros escritos, como é o caso do Retrato de Vénus que, já na época, mereceu acusações de obra ímpia e escandalosa, levando-o a ter de se defender em Tribunal. O que não é de espantar perante passagens como esta. “Vénus, Vénus gentil! – Mais doce, e meigo/Soa este nome, Ó Natureza augusta./Amores, graças, revoai-lhe em torno,/Cingi-lhe a zona, que enfeitiça os olhos;/Que inflama os corações, que as almas rende./Vem, ó Cipria formosa, oh! Vem do Olimpo,/Vem com mago sorriso, com terno beijo,/Fazer-me vate, endeusar-me a lira.” Penso que não é muito difícil vislumbrar a que “zona” o autor se refere, assim como o que pretende com o endeusamento da sua “lira”. Pornografia que as más metáforas disfarçam de forma muito imperfeita. O mesmo se diga de outras obras líricas como o volume Adozinda em que logo no seu primeiro canto afirma que ela “Nasceu ao pé do rio/Tam ingenua, tam formosa/Como a flor, das flores brio/Que em serena madrugada/Abre o seio descuidada. Lascívia desnecessária, objetificação do corpo da Mulher e um evidente sexismo misógino. Grande parte da sua obra, em especial a de fundo histórico, é ainda marcada por um tradicionalismo nacionalista e um saudosismo que é incompatível com uma mundivisão multicultural e cosmopolita que se pretende a matriz para o século XXI.

Alexandre Herculano – considerado o fundador da historiografia portuguesa, as suas obras estão eivadas de um nacionalismo xenófobo e intolerante, para além de revelarem um pensamento positivista que encara o saber histórico como algo científico e que aspira a uma objectividade descritiva do passado que é claramente incompatível com uma concepção plural dos saberes e conhecimentos. Foi um confesso conservador e anti-democrata, intolerante em matérias religiosas e cujos escritos apresentam o Outro como algo caricato. Veja-se como é retratado o vingativo Bobo a quem é dado o nome de Bibas, claramente uma referência homofóbica à sua fixação ficcionada no Conde de Trava, alegado amante de D. Teresa. Racismo latente em títulos como O Bispo Negro, em que o qualificativo é apresentado num sentido pejorativo injustificável,

Camilo Castelo Branco – sentimentalismo, apologia do adultério, incitamento ao suicídio e tantas outras taras que uma lista seria quase interminável, tendo sido escasso castigo em vida a cegueira causada pela sífilis. A sua incessante produção literária para garantir a sobrevivência fez com que se rendesse ao apelo das emoções mais básicas e primitivas do ser humano, devendo os seus escritos ser excluídos de qualquer antologia das letras oitocentistas. O seu tão aclamado Amor de Perdição, pálida cópia do seu já de si muito sobrevalorizado Romeu e Julieta de Shakespeare, não passa de um folhetim sensacionalista para consumo de massas. Títulos como A Enjeitada, A Mulher Fatal, A Filha do Regicida, A Filha do Doutor Negro, A Filha do Arcediago, A Neta do Arcediago, A Bruxa de Monte Cordova, A Doida do Candal, A Viúva do Enforcado, O Retrato de Ricardina, Carlota Ângela, Fanny e O que Fazem Mulheres, revelam uma monomania obsessiva com as mulheres que de modo muito claro indicia uma personalidade patológica e perigosa.

Júlio Dinis – tradicionalista e prisioneiro de ultrapassadas convenções afectivas, sociais e familiares. O enredo d’Os Fidalgos da Casa Mourisca padece de um paternalismo só aceitável numa sociedade patriarcal, que reserva às mulheres um papel tipificado e reduzido a uma submissa dimensão sentimental. Algo semelhante acontece com As Pupilas do Senhor Reitor e A Morgadinha dos Canaviais, obras em que as figuras femininas são apresentadas de uma forma unidimensional, presas das suas paixões e enamoramentos e cujo projecto de vida se limita ao casamento. Em todos os escritos deste autor cruza-se uma visão moralista das relações humanas com uma concepção arcaica da virtude e honra, cega ao imperativo de uma pan-sexualidade feminina que não se deixe aprisionar pelos desejos masculinos. Leituras que são péssimos exemplos e devem ser afastadas do olhar de qualquer jovem mulher emancipada e empoderada.

6ª Feira – Dia 33

Diz-se que à noite todos os gatos são pardos. E eu acrescentaria que à distância todos querem parecer bem. “Ficar bem no retrato” tornou-se a aspiração central de um grupo de pessoas que, talvez por terem pouco para apresentar de obra feita, optam pelo constante envernizar da aparência para consumo exterior.

O Expresso Está Atento A Estas Coisas

E por lá, com o hãbito de escolher bem a formulação de certos títulos para potenciar as mensagens, sabem bem que “poder” tem vários sentidos e um deles é a possibilidade – para mim bem plausível – de não o ser.

Mas tenham calma, porque devem começar a vacinação pelas direcções e cortes locais mais restritas, porque o que seria de nós sem as lideranças?

Docentes podem começar a ser vacinados no final do mês, garantindo sempre a prioridade a idosos e doentes. Ainda faltam vacinar 500 mil pessoas de risco elevado

Está Bem Pensado

A 12 de Fevereiro sai o “novo” calendário escolar, com datas para as provas de aferição do Básico que qualquer pessoa com um mínimo de bom senso sabe que, para além de inúteis nesta sua variante, seriam de realização perfeitamente idiota, para a 11 de Março serem canceladas. O mesmo para as provas finais do 9º ano. Porque parece que a 12 de Fevereiro a prioridade era dar a entender que isto estava quase tudo normal, como é evidente. E depois ainda há quem fale em stress e ansiedade na miudagem, como se este tipo de ziguezagues nada tivessem a ver com isso.