Interessante

Agradeço a referência à AC.

A ideia foi refutada na década de 1970, mas ainda há uma crença generalizada de que as crianças são pequenos humanos que aprendem e se desenvolvem intelectualmente da mesma forma que um adulto. Este é um mito com consequências potencialmente graves para os sistemas educativos, pois leva a que não se considerem abordagens pedagógicas ajustadas à realidade. Afinal, o que nos diz a psicologia cognitiva sobre este tema? Será o conhecimento prévio determinante para a forma como aprendemos?

120.000 Por Dia?

É muito interessante ir lendo a sequência de notícias, incluindo mais uma da doutora Graça Freitas sobre a aceitação de qualquer marca de vacina. Quero ver se compram a Sputnik V.

Britânicos podem voltar a Portugal a partir de 17 de Maio. Há 485 novos casos e 21 mortes. Número de internados em Cuidados Intensivos desce abaixo dos 200. Task force pede ajuda aos autarcas para poder vacinar até 120 mil pessoas por dia em Abril.

A Minha Proposta De Index Politicamente Correcto Das Letras Portuguesas – Parte V

As primeiras décadas do século XX prolongam um período lastimável das Letras portuguesas em termos de respeito pela diversidade. Algo ´que como a série Patologia Social de Abel Botelho já fazia anunciar em 1891 com o volume O Barão de Lavos no qual, a coberto de uma crítica de natureza social, se demoniza a homossexualidade, o que se repete no volumo O Livro de Alda (1898), a par da reprovação moral da prostituição. Passagens que se pretendem naturalistas são de uma mera pornografia preconceituosa como a seguinte “A plenitude da vida, a arrogância genital, a evolução orgânica ao máximo, própria dos 32 anos, mantinham no barão ainda fortes e dominantes as tendências naturais da virilidade. Ele tinha por enquanto junto do efebo os mesmos apetites de penetração e de posse que o homem sente de ordinário para com a mulher.” E a homofobia atingia os eu máximo na evidente associação à pedofilia “Devia de ser rapaz quem ele procurava; porque os olhos deste homem alto e seco poisavam de preferência nas faces imberbes, levemente penujosas, dos adolescentes. Fitava-os um instante, com uma fixidez gulosa e sombria.” (citações das páginas iniciais d’O Barão que, como quase sempre acontece com este tipo de literatura miserável e sensacionalista, teve grande êxito comercial. No início do século XX, este autor virar-se-ia para a abordagem de temas mais ligados ás classes populares, mas sempre com a marca da intolerância social e moralismo sexista, como acontece na forma como representa Isabel de Penalva, mulher adúltera e exemplo de corrupção sexual para o autor, na obra Fatal Dilema de 1907.

Mas se este autor é hoje um quase desconhecido entre nós, outros há que foram elevados a grandes vultos da nossa Cultura, sobre os quais é importante lançar alguma luz, indo para além das mitologias literárias criadas em seu redor e destinadas a ofuscar a sua verdadeira natureza. Vejamos três dos principais exemplos do alegado “modernismo” português e da chamada Geração do Orpheu.

Mário de Sá-Carneiro – é notória a dificuldade em lidar em termos intelectuais com a sua sexualidade, mesmo se a sua vida de boémia em Paris revela até que ponto a prática era levada aos extremos. Essa incapacidade de lidar com clareza com a sua identidade sexual, quiçá de género, é especialmente patente na obra a confissão de Lúcio, na qual o protagonista apresenta a evolução dos seus afectos e aventuras sexuais de uma forma que explora o corpo masculino como objecto de desejo e lascívia, mas faltando-lhe o consequente enquadramento legitimador de um estilo de vida, que parece continuar a ser sentido como reprovável. Atente-se na forma como Lúcio representa o seu primeiro relacionamento; Gervásio Vila-Nova: “Perturbava o seu aspeto físico, macerado e esguio, e o seu corpo de unhas quebradas tinha estilizações inquietantes de feminilismo histérico e opiado, umas vezes — outras, contrariamente, de ascetismo amarelo. Os cabelos compridos, se lhe descobriam a testa ampla e dura, terrível, evocavam cilícios, abstenções roxas; se lhes escondiam a fronte, ondeadamente, eram só ternura, perturbadora ternura de espasmos dourados e beijos subtis.” vindo depois uma passagem que entra pelo tema da transgeneridade (“E lembra-me então um desejo perdido de ser mulher — ao menos, para isto: para que, num encantamento, pudesse olhar as minhas pernas nuas, muito brancas, a escoarem-se, frias, sob um lençol de linho…”). Mais adiante, é a vez de ser o corpo feminino o objecto de uma caracterização, por Ricardo Loureiro (alter ego do autor e do próprio Lúcio, se não mesmo da sua esposa Marta, num tratamento absurdo da perturbação mental) destinada a despertar os sentidos de forma gratuita e pouco mais “— Ah! meu querido Lúcio — tornou ainda o poeta —, como eu sinto a vitória de uma mulher admirável, estiraçada sobre um leito de rendas, olhando a sua carne toda nua… esplêndida… loura de álcool! A carne feminina — que apoteose! Se eu fosse mulher, nunca me deixaria possuir pela carne dos homens — tristonha, seca, amarela: sem brilho e sem luz… Sim! num entusiasmo espasmódico, sou todo admiração, todo ternura, pelas grandes debochadas que só emaranham os corpos de mármore com outros iguais aos seus — femininos também; arruivados, sumptuosos…“. E passagens como esta são muitas, assim como pela sua obra em prosa ou poesia abundam os exemplos de uma decadência irremediável, como é o caso do conto Loucura, em que volta também o tema do suicídio e da dissociação mental. Pelo que seria justo que, como ele mesmo pediu, quando do seu enterro batessem latas e o levassem sobre um burro. Caso de homossexual homofóbico com dificuldade em assumir a sua identidade de género, não se conseguindo libertar das convenções sociais que, enquanto contexto, o levam ao suicídio como recusa do Eu.

Almada Negreiros – caso claro de xenofobia e racismo, para além de colaboracionismo com o regime fascistas. A sua arte é de um tradicionalismo nacionalista, estando imbuída ainda de uma concepção profundamente convencional da família. Mas em matéria de Letras, basta o seu Manifesto Anti-Dantas, erradamente tido como pérola do inconformismo com a tradição, para que fique demonstrada a sua intolerância social para com a etnia cigana, não se distinguindo neste particular de um qualquer apoiante do Chega, quando utiliza de forma pejorativa e repetida todo um grupo étnico e cultural para simbolizar a aldrabice, o mau gosto e a falta de qualidade: “O DANTAS É UM CIGANO!/O DANTAS É MEIO CIGANO! (…) O DANTAS É UM CIGANÃO!”. Isto é motivo mais do que suficiente para o dito Manifesto seja objecto da maior reprovação moral e estética e o autor excluído de qualquer antologia da literatura portuguesa.

Fernando Pessoa – personalidade por demais problemática, que usou a heteronímia para disfarçar em identidades ficcionadas um conjunto imenso de inclinações altamente reprováveis. A leitura da sua obra mereceria todo um tratado pedagógico para servir de alerta para o modo como recupera um nacionalismo serôdio e a mitologia tradicionalista e imperialista no seu poema O Quinto Império. Fica ainda por demonstrar se este reconhecido alcoólico não seria um homossexual não assumido (como o foram António Botto e Mário de Sá-Carneiro, seus amigos) e se Ofélia não seria apenas uma projecção fantasiosa dos seus desejos ocultos, como no poema Dorme sobre o meu seio (“Dorme sobre o meu seio,/sonhando de sonhar…/No teu olhar eu leio/Um lúbrico vagar./Dorme no sonho de existir/E na ilusão de amar”). Mas o que é mais decisivo é que Pessoa foi um proto-fascista que tem escritos explicitamente anti-democráticos e que, apesar da escassa simpatia por Salazar, foi um activo defensor de uma solução política autoritária, desde o apoio à de Pimenta de Castro à justificação teórica de uma Ditadura Militar como a melhor solução governativa para Portugal, revelando um desprezo notório pelo que achava ser uma maioria da população ignorante e acéfala..  Foi Pessoa que em 1928 escreveu que, para as suas propostas políticas, não pretendia “a atenção dos sub-Portugueses que constituem a maioria activa da população”, mas sim “dos outros, dos que têm ainda um cérebro que pode vir ainda a pertencer-lhes.” (O Interregno – Defesa e Justificação da Ditadura Militar em Portugal, p. 11 da edição de 2007). Será que o claro anti-republicanismo dos seus escritos dos anos 10 do século XX, mesmo alguns inéditos em que ele considera (para deixarmos de fora Afonso Costa, o seu ódio de estimação) António José de Almeida ”um histérico evidente” com “feitio destrutivo”, Alexandre Braga “um aborto de um imaginativo conservado em álcool” ou Bernardino Machado “tão labrego no insinuar, tão indecentemente saracoteador da sua candidatura (…) tão desmandada besta” (Páginas de Pensamento Político: 1910-1919, I, pp. 78 e 82), não deve implicar que se considere a sua obra merecedora de umas tesouradas censórias em nome das boas maneiras? Qualquer pessoa de verdadeiro bem, achará que sim.

5ª Feira – Dia 39

Não é a primeira vez que os alunos me dizem que têm saudades de voltar à escola. O ano passado foi o mesmo, ao fim de 3-4 semanas de aulas à distância. Voltar à escola para estar com os amigos, socializar, mas também para estar nas aulas. Pelo menos, a maioria tem essa atitude, mesmo se há um punhado que tem aproveitado muito bem o tempo para uma pós-graduação em consolas e chegadas com mais atraso às aulas em casa do que na escola.