Prognósticos Depois De Saber O Resultado (Esperado E Pré-Anunciado)?

Afinal não estavam apressados em arranjar “soluções”, apenas acederam aos dados antes dos outros e, pelos vistos, tiveram autorização para apresentar planos ainda antes dos resultados serem divulgados. Isto sem falar nas muitas reservas que se podem colocar à generalização dos dados de provas feitas com uma amostra de que não se conhecem exactamente os critérios, mesmo se o presidente do IAVE garante que não está em causa a sua “representatividade” (como? se responderam apenas os alunos que assim o entenderam da amostra inicial, já de si muito limitada?)

Mas os resultados do diagnóstico às aprendizagens “perdidas” feito pelo IAVE na sequência do período do E@D parece que confirmam tudo o que deles se esperava. Nada de inesperado, portanto. A vários níveis. Atentemos no secretário Costa, o homem que aparece sempre nestas alturas, porque o ministro Tiago nunca recebe o guião a tempo:

Na apresentação dos resultados do estudo diagnóstico, o secretário de Estado da Educação, João Costa, sublinhou que as dificuldades demonstradas pelos alunos nos níveis mais elevados “não é diferente” da registada em outros instrumentos de avaliação, nomeadamente em testes internacionais como o Programme for International Student Assessment –  PISA. No entanto, o governante manifestou a sua preocupação com as “percentagens elevadas” de alunos com uma performance inferior ao esperado “em itens de nível mais simples”.

Ou seja, no fundo os alunos falharam acima do “esperado” nas questões mais simples e mantiveram o desempenho nos “níveis mais elevados”. O que nos pode dizer tanto sobre o dito desempenho dos alunos quanto em relação à adequação da ferramenta usada para a sua aferição A qualquer aluno de um curso de formação inicial de professores (ou a formando numa qualquer formação sobre avaliação dos alunos) é ensinado que se deve ter atenção à forma como se elabora a ferramenta de avaliação, pois pode estar desadequada ao perfil dos alunos.

Se um professor aplicar um(a) teste/prova em que os alunos têm resultados fracos e “abaixo do esperado”, costuma afirmar-se que o erro está do lado do professor, não dos alunos. Não será que se passou isso com o IAVE e os seus “especialistas”? Não terão falhado na concepção das suas provas? Pelo menos, essa é a doutrina se acontecer a um professor comum. Ou então, deve fazer nova prova, de remediação, para ver se os resultados se adequam mais às expectativas. Que me desculpem. mas levamos há décadas com esta cartilha.

Afinal, a culpa não pode ser só dos alunos, como parece ser a leitura do SE Costa:

A forma como foram desenhados [os testes de diagnóstico] avalia transversalmente as literacias. Por isso, alguns dos resultados são obtidos “independentemente da pandemia”, reconheceu o secretário de Estado da Educação. Ou seja, correspondem a debilidades estruturais dos alunos.

A menos que a explicação a dar pelo inevitável grupo de trabalho formado para analisar este problema seja outra. 🙂 Adivinham qual? Pois… adivinha-se que alguém andará a precisar de “formação” 🙂 .

Mas, só porque tenho assim um pouco de mau feitio, coloquemos em cima da mesa algumas hipóteses de trabalho engraçadas, a partir da própria “leitura” do especialista-mor do ME:

  • A primeira: será que os alunos, mesmo sem pandemia, não teriam resultados deste tipo, com uma prova com estas características?
  • A segunda: será que estes resultados não serão também em parte resultantes de alguns erros nas políticas globais de avaliação desenvolvidas no Ensino Básico nos últimos anos, que tanto tem privilegiado os “perfis” aos conhecimentos “enciclopédicos”?
  • A terceira: se “reconfigurássemos” o tipo de provas a aplicar aos alunos, de modo a não colocar em causa a sua auto-estima, não obteríamos resutados muito mais favoráveis?
  • A quarta: e se aplicássemos tais provas a um pouco mais de 13.000 alunos, já que as que foram realizadas nem chegaram a 2% dos alunos do Ensino Básico e, neste tipo de coisas, talvez seja apropriado não usar extrapolações à maneira de empresas de sondagens?

Ficam aqui estas maldosas pistas para o grupo de sumidades mais da preferência do poder neste momento, com destaque para a economista do regime que está e para a eminência parda do poder na 24 de Julho, a quem se conhece bem a tendência para atirar as culpas de todo e qualquer insucesso para os do costume, assim como a falta de paciência para quem contrarie a sua experiência de décadas a repetir o mesmo.

Uma das pessoas convidadas pelo Governo para este grupo de trabalho é a professora da Nova School of Business and Economics (Nova SBE) Susana Peralta, uma das economistas que, na semana passada, apresentou um plano de recuperação das aprendizagens dos alunos que inclui escolas de Verão e um reforço de tutorias. A implementação desse programa custaria, pelo menos, 200 milhões de euros.

No grupo têm também assento a especialista em Saúde Mental Margarida Gaspar de Matos e a vice-presidente da Ordem dos Psicólogos, Sofia Ramalho, sinal da preocupação do Ministério da Educação de centrar o plano “não só nas aprendizagens, mas também nas competências emocionais” que possam também ter sido afectadas pela pandemia, de acordo com o secretário de Estado. 

Neste grupo estão outros académicos como Domingos Fernandes (ISCTE), João Pedro da Ponte (Universidade de Lisboa), Sónia Valente Rodrigues (Universidade do Porto) e professores do ensino básico e secundário – José Jorge Teixeira, professor de Física e Química no agrupamento de Escolas Dr. Júlio Martins, em Chaves, e vencedor do prémio Global Teacher Award 2020, David Sousa, director da escola Frei Gonçalo de Azevedo, em Cascais, e Júlia Gradeço, directora do agrupamento de escolas de Oliveira do Bairro.

O grupo está armado. O plano vem a caminho. Se quiserem as conclusões/soluções, a partir de todas estas premissas tão pouco evidentes, eu posso escrevê-las já amanhã, pela manhã (pensando bem, vou fazer mesmo isso).

8 opiniões sobre “Prognósticos Depois De Saber O Resultado (Esperado E Pré-Anunciado)?

    1. Seria justiça profissional se não roubassem o tempo de serviço aos professores. Assim foi um roubo, repito um roubo. Que se repetiu, repete e nalguns casos repetirá, mensalmente, até ao fim da vida dos atingidos… Ladrões de tempo de serviço!

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  1. Encontro alguma incongruência: o SECosta diz que não vai haver aumento do número de aulas nem escolas de verão pois seria dar mais do mesmo aos mesmos. O que faz, então, a Peralta no grupo de trabalho?

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