Aconselho Vivamente A Leitura

Do Relatório Final relativo à petição apresentada pelo Arlindo para fim do sistema de quotas. Como agora já vale tudo, a relatora – iupi, não foi o deputado silva! – ex-presidente de Câmara e professora aposentada Maria Joaquina Matos decidiu declarar que “A signatária do presente relatório exime-se, nesta sede, de manifestar a sua opinião política sobre a Petição n.º 216/XIV/2.ª, reservando a sua posição para momento posterior”. Na parte do relatório onde está escrito “Opinião do Relator”.

Como é que diz que disse?

Dia Da Língua?

Estes dias servem para se dizerem umas coisas cheias de aparentes boas intenções, mas zero consequências. O ensino do Português foi tomado de assalto há anos por duas claques muito aguerridas que o tornaram (desde a tentativa semi-falhada da TLEBS, agora retomada de modo mal disfarçado) um campo para o exercício de virtuosismos linguísticos e para a depilação ortográfica. O PNL é um sucesso como negócio para alguns interesses, mas pouco mais, porque o carimbo aparece mais do que os das promoções dos supermercados. O ME transformou tudo numa espécie de esqueleto a que chama “aprendizagens essenciais” e depois lamenta-se que a miudagem não gosta de ler.

Não gosta de ler?

Gostam de ler e não é pouco, só que é na base das mensagens com a reprodução fonológica do que seriam palavras e muitos emojis pelo meio. E ouviram dizer que os livros é para professores velhos, em especial se forem apenas com letras. Que agora é tudo no ecrã, porque é assim que se está bem.

E depois, há sempre aquela relação complicada do ministro Tiago com a língua ou a relação muito distorcida do secretário Costa com o significado das palavras que, na maioria dos casos, aprendi que queriam dizer coisas muito diferentes do que ele e os seus cortesãos dão a entender que significam. O significante e o significado têm uma relação algo desfocada. Eu ouço-os a falar, mas não entendo a ligação entre os sons que produzem (e têm toda a aparência de palavras reconhecíveis) com aquilo que eles parecem querer dizer na realidade.

A Redescoberta Da Roda Quadrada

A OCDE descobriu que os alunos têm dificuldade em distinguir factos de opiniões na Internet e o ME acrescenta que são preocupantes os problemas resultantes da dificuldade em compreenderem o que lêem. Que constatações extraordinárias e inesperadas, só ao alcance de estudos internacionais. Claro que nestas ocasiões aparece logo o SE Costa (tão parco em intervenções em outras matérias menos demagógicas) a debitar chavões e verborreia variada, em alegre troca de preconceitos com o seu grande amigo Schleicher.

Entre os dois, espremendo bem, ainda se ficará a saber, quase por certo, que tudo isto resulta dos efeitos da pandemia (mesmo que o estudo seja anterior) e que tudo se resolve recuperando aprendizagens e formando os professores para ensinarem os alunos o que deveriam saber e foi culpa dos professores não terem ensinado, apesar dos alunos terem dito que ensinaram. E lá aparecem as “aprendizagens essenciais” como salvadoras do gosto pela leitura, quando a cada ano que passa o espartilho das obras a analisar nas aulas é maior. Quando o ensino da língua faz, em muitas passagens das tais “aprendizagens”, lembrar uma checklist de tipo administrativo.

Não tenho paciência para isto. Mandem-me costinhas, arianinhas e tiaguinhos da nova geração que aceitem dar aulas sem pensar, que não há mais pachorra para este nível de patacoada propagandística sem substância de quem confunde as suas opiniões com factos.

4ª Feira

A pandemia não pode ser desculpa para tudo, menos para os acessos de impaciência dos professores, não sendo excepção aquele sacramental conselho, velho como as barbas do matusalém mais antigo, de “calma, setor@!” quando qualquer coisa começa a correr menos bem e merece reparo sem direito a desculpa. Confirmei cá em casa e não só e é transversal aos ciclos de escolaridade, pelo menos a partir do 5º ano.