Mês: Julho 2021
A Ler
Sábado
Por um dia, um par de dias, tentar não ler tanta idiotice sobre vacinas, máscaras e o que alguns definem como “liberdade”, parecendo ter dela uma noção muito diferente da minha. Há quem ache que por “ditadura” se deve entender um regime em que o acesso aos restaurantes e espaços de diversão é limitado em tempos de pandemia. Acho que há quem confunda uma tardia e retardada rebeldia juvenil com outra coisa. “Melhor” mesmo só quando tudo é servido em chinelinho de enfiar no dedo a dar a dar em conversa de esplanada com volume destinado a ilustrar as redondezas. Deve ser da deformação história (porque só vivi 9 anos em ditadura real) que sinto a minha inteligência agredida com certas “argumentações”.
As Minhas Séries
Continuando pelo “deserto” do início dos anos 90… mas lá que via, via. Até tenho cromos autocolantes e tudo. Vinham nos bollycaos, que eram um (pouco saudável, eu sei) recurso para os lanches nas deslocações dos transportes públicos de regresso à margem sul.
Neemias
Cresceu ali no bairro do outro lado da estrada. Nunca foi aluno das escolas por onde passei, por isso não o conheço, apenas ouvindo falar dele de há uns anos para cá, pelo talento que revelou desde pequeno para o basquetebol. Agora todos o conhecem e lhe dão parabéns, por ter sido escolhido em 39º lugar no draft da NBA, mesmo quem nunca o ajudou em nada. Embora tenha havido quem o tenha apoiado, como na história bíblica do primeiro Neemias, ele é em primeiro lugar o responsável pelo caminho feito até agora. Muito provavelmente, quando voltar ao país, quem antes teria receio de se cruzar com ele, lançar-lhe-á um enorme sorriso e pedirá selfie. O costume.
6ª Feira
Terminou ontem o prazo para as reclamações relativas à inclusão de milhares de professores em listas de espera para o acesso ao 5º e 7º escalão. Não gostaria muito de ir às origens deste regime de quotas que substituiu o dos titulares, porque há gente que assinou acordos e que agora assobia para o lado e manda os outros “lutar”, esquecendo-se que estão na origem desta indignidade. Porque é de indignidade que se trata. Profissionais com décadas de serviço metid@s em listagens destinadas a determinar – independentemente da classificação efectiva do seu desempenho – quem pode progredir na carreira e quem não pode. Este é um procedimento indigno que não pode ser justificado de forma oportunista com constrangimentos orçamentais, pois os seus custos são imensamente inferiores a gastos decorrentes de decisões de administradores de empresas com capital público ou a “resoluções” de que agora todos descartam responsabilidades. E muito menos pode ter justificação em alegações de “mérito” com base numa add perversa e permeável aos piores instintos dos poderes locais (que definem políticas informais destinadas a lixar aquel@s de que desgostam), a procedimentos que permitem que na mesma lista esteja quem teve 7 ou quem teve 9,8 (sim, porque há escolas em que a concentração de classificações máximas ou próximas dela, fazem com que a perda de um par de décimas implique a descida para um “Bom” que dá bilhete para a lista) ou mesmo a truques, como saltar de “regime” em busca de ter a quota certa, em cima de uma situação que à partida já é de vantagem (falo de elementos das direcções que podem partir, repartir e ficar com uma das fatias que mandaram cortar, não lhes chegando quase não dar aulas e ganhar mais do que os pares).
Tudo isto é ainda de uma enorme indignidade hipócrita quando temos governantes que se escondem atrás do papão das Finanças para se eximir à responsabilidade de manter um sistema que é em tudo contrário aos “princípios” (Equidade, Justiça, Transparência) que muito proclamam defender para o sistema de ensino, em particular para os alunos, mas depois negam aos aos professores. Há quem seja contra quadros de excelência e rankings, porque ordenam de forma “cega” o trabalho das escolas e alunos, mas depois aceitam listagens de professores, alegadamente ordenados pelo seu desempenho, quando não é de nada disso que se trata. E temos ainda “especialistas” com “larga experiência” a protestar contra a “algoritmização” da Educação, mas nem uma palavra e muito menos um acto têm contra a algoritmização da progressão dos docentes.
A indignidade a que @s professor@s e educador@s deste país têm sido sujeit@s não é um processo recente. Tem raízes com quase duas décadas e tem sido contínuo, mesmo quando exista quem anuncie “vitórias”. A dos titulares, que se pensou ser a única, cedo se revelou ser meramente simbólica, pois o actual sistema de quotas é tão ou mais perverso e tão ou mais limitador da progressão para um largo número de docentes. Quando em 2012 me fartei de escrever e falar sobre isso, entre ME e organizações sindicais tinha-se estabelecido um compromisso de silêncio acerca do tema, com o argumento da troika (que era aceite mesmo por quem negava a necessidade da dita), enquanto o “congelamento” parece ter ajudado a congelar a prospectiva a quem não percebeu o que estava em causa. Se o claro roubo de grande parte do tempo de serviço docente foi de uma falta enorme de decoro, a sua combinação com este regime de progressão deu como resultado a produção destas vergonhosas listas.
Não vou negar que há muit@s colegas que delas não desgostam ou delas não chegam a sentir os efeitos, pelo que acham não ser causa sua, depois de tantos infortúnios vividos. Seja como for, e mesmo não vivendo na 1ª pessoa a indignidade, não posso fingir que não existe, por acomodamento ou esgotamento. Porque sou incapaz de ver o fumo a sair das chaminés e fingir que não sei a origem. Há quem viva nem dessa forma. Por muitas chatices que isso me traga (a começar pela perda de prémios locais de “Mister Simpatia”), eu não consigo viver na indiferença.
(apostilha em forma de exercício em ficção documental: chega a ser chocante encontrar numa das listas uma colega acerca da qual, graças a ouvidos de tísico, alguém ouviu, em ano anterior, um par de criaturas tecer críticas e expressar a sua oposição a que tivesse MB; nenhuma delas era seu/sua avaliador@ ou sequer do seu grupo ou departamento; mas são pessoas com “influência” e pelos vistos conseguiram que, alimentando-se o mito do “toda a gente que precisava teve vaga”, se lixasse a dita colega, só porque não se enquadra nos padrões de “cólidade” das ditas criaturas a quem falta muito, mas mesmo muito, de Deontologia Profissional, conceito que acho ser totalmente desconhecido a ambas… até porque a uma delas não chocou nada atribuir mérito a quem tem das piores práticas de que há conhecimento ali pelos arredores, não há anos, mas mesmo há décadas; claro que, como prova de carácter, achando não existirem testemunhas, o belo par negará sempre ter dado o flato oral que efectivamente deu…)
As Minhas Séries
A minha série favorita sobre o vazio do final do século XX, de um ponto de vista obviamente semiótico. lembro-me – e isso assusta-me – do momento em que vi pela primeira vez esta série, na velha “4”, numa tarde de dia de semana onde estava despejada. Desde o início que percebi que ali havia platina com diamantes incrustados. Esperei por um ensaio do Umberto Eco especificamente sobre esta série em vão. E bem que merecia, porque anunciou muito do que estava por vir.
Já agora… sim… a primeira temporada não tinha no genérico a música que mais tarde fez parte do mito. Mas tinha a Erika Eleniak, que era claramente o sinal de um novo “paradigma” televisivo. Todas as outras pamelas vieram depois. E não me venham com tretas sobre misoginia e exploração do corpo da Mulher, porque aqui explorava-se também o do Homem (desde que mais baixos do que o David) sem especial drama. Ou o Kelly Slater, por exemplo, apareceu várias temporadas apenas pelos seus dotes “técnicos”?
Foram Momentos De Grande Jornalismo Televisivo
Uma Manta De Retalhos
Colegas têm tido a simpatia de me enviar os elementos da sua add. Continua a existir de tudo um pouco. De práticas aceitáveis a impensáveis, de procedimentos com bastante rigor a alguns que são um atropelo ao bom senso, a par de classificações completamente díspares para situações muito parecidas. Tudo polvilhado com uma panóplia de descritores que vai da minhoquice mais minhoquenta à completa ausência de um referencial para classificações que chegam a ir ao detalhe das centésimas em algumas dimensões e/ou domínios sem nada que suporte isso. Não sei se é a isto que chamam “autonomia”, mas a verdade é que isto se traduz numa fábrica imensa de desigualdades, paradoxos e contradições. O mesmo se passa um pouco com as reclamações, que devem ser concisas e identificarem os erros cometidos ou as dimensões, domínios ou parâmetros de que se pretende a revisão da classificação. Não chega o modelo chapa 5 que algumas “organizações” facultam ou a mera ingenuidade de quem acredita numa réstia de bondade disto tudo.
Começando a amostra a estender-se já a vários pontos do país e ultrapassando claramente a que é usada em muitos “estudos de caso” que agora aparecem em boa quantidade por aí, à boleia de uns mestrados feitos à pressa e de uns “desafios” para que se descreva o sucesso de algumas experiências, um destes dias ainda faço um “atlas” da add e logo vejo se o tento “vender” a alguma empresa de consultoria ou autarquia.
Demência?
A defesa de Ricardo Salgado alega que o senhor tem demência e precisa de uma avaliação. Até pode ser, mas eu sentir-me-ia mais solidário se eles tentassem demonstrar que ele não tinha feito aquilo de que é acusado. Ou então a demência de quem o deixou controlar isto quase tudo.
Só falta aparecer à porta do hotel de X estrelas onde estará lá pela Sardena em roupão, à Valentim.