Claro que puramente por razões “artísticas”. Como aconteceu, uns bons anos depois, com a Marés Vivas.
Dia: 11 de Julho, 2021
Agora Já Quase Ninguém O Conhece
Levaram anos nas televisões e jornais a elogiar-lhe a obra, pois nada como ter deputados, (ex) governantes, autarcas e mesmo juízes ou futuros czares das comemorações de Abril como comentadores desportivos. Outros a pedir-lhe bilhetes e lugares vip. Pelos vistos, confirma-se que a nossa elite política é dos grupo mais mal informados da população.
O Que Uma Pessoa Diz E Faz Para Ganhar A Vidinha
Grande parte destas “entidades”, criadas com nome forsomethig fazem-me lembrar os vendedores de banha da cobra de outrora. São capazes de diagnosticar inundações no deserto e hiper-pilosidade em bolas de bilhar para justificarem o seu ansiado “nicho de mercado”. O pior é que há “jornalismo” que acha que isto merece títulos como se fossem a sério. A culpa da disseminação da estupidez é só das redes sociais?
Clementina Almeida, fundadora do ForBabiesBrain, primeiro spa clínico para bebés da Europa, diz que “no pré-escolar, a criança já pode trazer um gap com repercussão direta no seu sucesso escolar pelo menos até aos 10 anos.”
Domingo
O despacho 6605-A/2021 é o elemento final (ou quase) do trabalho de “reconfiguração” da Escola Pública como Escola Mínima, depois de mais de uma década a transformá-la em Escola Low Cost. E Escola Mínima é aquela em que as aprendizagens disciplinares são secundarizadas em favor de uma competências transversais, de avaliação altamente subjectiva e cuja implementação se traduz numa fragmentação curricular dos conteúdos. Os saberes académicos são desvalorizados como “tradicionais” e resultantes de uma ilusão de saber global, sendo substituídos por conhecimentos mais ou menos utilitários, circunstanciais e locais. Como ouvi recentemente a uma orgulhosa liderança de uma escola que é “piloto” nesta lógica, “as aprendizagens disciplinares não são importantes”, porque o que interessa é que o aluno circule entre saberes transversais, resultantes das dimensões do canónico “Perfil”. Isto é apresentado como “moderno”, como “flexível” e adaptado a um século XXI que até agora não tem corrido nada conforme previam alguns visionários que tentam encaixar a realidade às suas caixas mentais desenvolvidas no final do século XX.
Esta Escola Pública Mínima não vai ser democrática, porque vai promover uma fuga ainda maior de alunos cujas famílias tenham alguns meios para isso para a rede privada. Vai ser inclusiva na retórica, mas apenas porque pretende nivelar pelos padrões menos exigentes e rigorosos; na prática, quem nela ficar terá como horizonte de conhecimentos aquilo que se define apenas como “essencial”. O que deveria ser tido como mínimo torna-se o padrão a alcançar. Claro que haverá excepções, porque continuarão a existir escolas que, em meios mais afortunados e exigentes, não cederão a esta tendência ou demorarão mais tempo a ser submersas por esta onda, que se sucede a várias outras, no sentido de uma desqualificação da Escola Pública como instituição destinada a transmitir os elementos fundamentais (diferente de “essenciais”) da Cultura e da Ciência que a Humanidade conseguiu erguer ao longo da sua História. A Escola Mínima privilegia os saberes meramente funcionais, úteis ao precariado, simulando uma certificação formal que o mercado de trabalho qualificado não reconhecerá. A Escola Mínima nunca poderá ser um “elevador social”, porque abdicou em definitivo de elevar, preferindo nivelar por baixo.
Neste despacho, pratica-se a adulteração da linguagem, enunciando-se conceitos e princípios que são esvaziados pelas práticas decorrentes do que é decretado. Não é honesto afirmar que “todos os alunos devem, ao longo dos seus 12 anos de escolaridade, desenvolver uma cultura científica e artística de base humanista, alicerçada em múltiplas literacias, no raciocínio e na resolução de problemas, no pensamento crítico e criativo, entre outras dimensões” se isso não tem qualquer verdadeira tradução num modelo de escola em que a compreensão do teorema de Pitágoras equivale a saber atravessar na passadeira ou em que a aprendizagem da tabela periódica equivale a saber o que é o “espírito do empreendedorismo”. E nem vale a pena falar de uma Filosofia reduzida a exames de escolha múltipla ou a uma História semestralizada em fatias polvilhadas de tópicos.
Por isso, os cursos de formação inicial de professores se baseiam cada vez mais num elenco de generalidades, estando praticamente ausente uma formação de tipo disciplinar/científico que vá além da leitura de uma qualquer enciclopédia temática para jovens. Para ensinar pouco ou nada, nada ou pouco é preciso saber. Muito menos qualquer tipo de pensamento crítico consistente, porque uma coisa é o exercício de uma crítica fundamentada e baseada em argumentos e outra a mera contestação da “autoridade” académica dos professores e conhecimentos.
Este despacho, se tivesse sido escrito por um grupo de trabalho criado pelos interesses privados na Educação, dificilmente seria diferente.