3ª Feira

Dia do exame do “cadeirão” do 12º ano, Matemática A. Lá fui deixar a petiza no portão da escola, junto ao qual já se alinhavam umas dezenas de outr@s petiz@s, a grande maioria dobrad@s sobre os zingarelhos digitais, pelo que não deu para aferir do estado de espirito geral ou particular. Embora tenham passado muito anos, ainda me lembro dos meus exames de 12º e do ambiente solene em seu redor. Ave rara, sempre gostei mais dos momentos singulares do que dos rotineiros, pelo que, apesar do que estava em jogo, preferia de longe fazer o exame do que ter mais uma aula chata de uma das disciplinas, a começar pelas de História, que nem sempre eram propriamente entusiasmantes.

Sempre tive esse feitio em forma de defeito de preferir as aulas de teste às aulas de matéria. Porque grande parte destas eram chatas e, com todos os cuidados que já na altura existiam (sim, existiram, pelo menos nos meus professores que em regra não acabaram em colunistas de jornais) para repetir o que não era percebido, aborreciam-me de morte com a segunda, terceira ou quarta explicação do que me parecia evidente á primeira. Sim, as minhas turmas eram quase sempre as do fim da lista e não propriamente com um desempenho médio genial, a que acrescia (em especial no 7º e 9º ano, mas também no 10º e 11º) um comportamento a uma distância muito razoável do desejável. Por isso, os dias de teste traziam qualquer coisa de diferente e menos barulho na sala, até porque na altura era possível a quem não se importava com o zero, ir-se embora depois de assinar o cabeçalho. O que, por exemplo no 9º ano, em Matemática, deixava logo a sala com 20-25% de alunos a menos.

Até ali ao 8º ano (e em parte do 9º), a escola tinha dois momentos de interesse: jogar à bola incessantemente nos intervalos e fazer/receber testes, sendo que os dias de os receber tinham quase sempre contornos épicos nas minhas turmas, tamanha era a saraivada de negas. Fica-me na memória o dia em que a minha estimável professora de História, com ar de grande enjoo, decidiu dar uma lição aos futebolistas (e por tabela às pobres e inocentes raparigas) e anular-nos um teste porque teríamos grande parte das respostas iguais uns aos outros. Mas isso só aconteceu porque as respostas estavam certas, pois nunca se chateou quando estavam iguais por estarem erradas. Achou estranho e achou bem, mas ninguém a mandou deixar um enunciado a mais na sala de outra turma, que o passou a nós e assim pudemos estudar com alguma “orientação” durante a aula de Electrotecnia, com a activa colaboração do professor, gajo porreiraço que quase desistiu de nos ensinar a fazer uma ligação eléctrica funcional.

A partir de meio do 9º ano, a escola manteve dois interesses, mas o assédio (quase sempre consensual, calma|) às raparigas substituiu gradualmente o futebol. No meu caso, até por ser um caso perdido sem ser como guarda-redes destemido, capaz de dar cabo de umas calças novas (o piso dos campos era um relvado de cimento) para impedir um golo quase certo do avançado da equipa dos gajos de Mecanotecnia (a turma do 9º ano com quase 25 rapazes, todos a transbordar testosterona juvenil e a querer exibir-se para as miúdas das outras turmas). Os testes continuaram a ser, até quase ao fim do Secundário, os momentos de maior animação no quotidiano estritamente lectivo.

Curiosamente ou não, sempre tive mais dificuldades em fazer testes nas disciplinas em que os professores eram mais fracos. Porque ensinavam pouco e muitas vezes aplicavam testes feitos pelos que ensinavam bem ou já tinham alguma experiência. Em Ciências nunca tive professor@ com mais do 1º ano da Faculdade e no 9º ano era um simpático cabeludo, com uma gabardina até aos joelhos, que andava no Propedêutico e tinha mais uns seis meses de idade do que alguns dos meus colegas mais resistentes ao sucesso. Levávamos as aulas a fazer jogos com nomes de bandas de música e filmes e depois gramávamos com o mesmo teste do pessoal das turmas A e B que já queriam ser quase todos médicos. Acho que nunca passei dos 80%, mesmo se ele se estava nas tintas se copiávamos, mas, como é habitual nestes casos, a maioria nem sabia o que copiar.

Em resumo… em dia de exame a comichão no estômago existia, mas era uma comichão agradável, que não me fazia vomitar à porta da sala (o exame de História foi às 15.00 e houve quem não aguentasse o almoço sem o partilhar connosco no corredor da Alfredo da Silva). Claro, não era Matemática A, mas acreditem que estudei mesmo a sério para o exame de Filosofia.

5 opiniões sobre “3ª Feira

  1. Cruzes credo, que infância e adolescência tão traumatizantes!!!
    Mau a jogar à bola, a ter menos de 90% nos testes, ter um professor gedelhudo, 25 colegas, turmas J ou I barulhentas, bons e maus professores, aulas aborrecidas, colegas de 12° grávidas…
    Quantos planos de recuperação lhe fizeram? Quantas medidas adicionais e estratégias de remediação?
    Ainda por cima a gostar de testes e a usar óculos!
    Por favor, diga-me o nome do psicólogo escolar que o recuperou. Preciso de um dos bons porque a minha piquena nunca teve testes a sério, não larga o telemóvel, não consegue ir para a escola de autocarro e anda sempre enjoada das farras escolares (turma de 30) e do porreirismo dos professores que, felizmente, valha-me isso, … são carecas e limpinhos.
    A minha xuxu também ainda não sabe que área quer seguir porque é boa a tudo! Também nunca rasgou calças no atapetado da escola, nem consegue fazer ligações diretas porque mal sabe segurar um talher, quanto mais manejar um alicate e um martelo. Preocupante…não é?

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    1. A mãe e a filha.
      Não lhe dê pizzas para ver se ela aprende a usar a faca e o garfo e a trincar algo.
      O melhor é irem as duas ao psiquiatra. Sempre é médico antes de ser psi. Sabe que os psicólogos, não têm a formação de um psiquiatra, não sabe? Eles tiveram ali uns quatro anitos com uns jogos e uns livros subjetivos de etiquetar mas, embora sejam bons a rotular de imediato, ainda são melhores a fazer relatórios a metro cheios de corta e cola copiado de linguagem dos médicos a sério.

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