Via-se, ia-se vendo. Mas nada de grandes entusiasmos, que nunca me deu para artista. Até a Janet Jackson aparecia em novinha.
Dia: 21 de Julho, 2021
Quais Provas?
As de aferição selectiva?
Manual da Plataforma de Reapreciações de Provas do Ensino Básico
Entretanto, apenas acessível no espaço das “escolas”, o Santo Iavé disponibiliza as provas finais de ciclo de 2021 que não foram realizadas. Escapa-me a lógica de não as tornarem públicas para toda a gente.
O Ovo Ou A Galinha?
4ª Feira
Ao longo da hominização, a espécie humana atingiu primeiro a fase do homo faber (o homem que faz, que consegue usar recursos da Natureza para a dominar, pelo menos em parte) e só depois a do homo sapiens (a do homem que sabe, que reflecte sobre o que faz, o como e o porquê, o que significa que para além de dominar a Natureza produz conhecimento sobre ela e o transmite de geração em geração não apenas pela demonstração prática, mas pela explicação teórica, pela linguagem.
Se quisermos fazer uma analogia simples. mas não necessariamente simplista, o homo faber é o que tem a competência de fazer (o homem hábil, ou homo habilis), enquanto o homo sapiens tem a capacidade de reflectir sobre o que faz e por maioria de razão o homo sapiens sapiens.
Considerar que a Educação deve submeter-se à lógica das competências reduz os indivíduos à condição e utilizadores, de aplicadores de técnicas adquiridas ou, pior nas versões construtivistas, de permanente redescoberta dessas técnicas e das competências associadas. O desprezo pela transmissão dos conhecimentos codificados ao longo do tempo a par da apropriação do método experimental e científico como processo de verificação da validade dos conhecimentos, significa um recuo na própria evolução da condição humana, um pouco na esteira do que Hannah Arendt escreveu n’A Condição Humana acerca do modo como os tempos modernos reduziram parte da Humanidade à condição de meros animais que trabalham (Homo laborans), ou seja, seres que sabem usar instrumentos para produzir algo mas pouco mais.
A redução do ensino público a uma lógica de Educação Mínima, em que o “saber fazer” se sobrepõe ao conhecimento teórico – dito “enciclopédico” -, em que a competência do indivíduo é desligada da sua capacidade de reflectir sobre o que faz, conduz a Escola Pública para um estatuto de menorização e de formação de indivíduos que nunca poderão ser verdadeiramente reflexivos ou críticos, porque lhes foi retirado o acesso à informação não prática, aos saberes teóricos, transformando-os apenas em homens que fazem, homens hábeis, homens que trabalham, mas não a homens que sabem. A legitimação das “Aprendizagens essenciais” como padrão do ensino público significa a vitória da concepção mecanicista do homem autómato, que necessita apenas do “essencial” para estar ao serviço de um modelo de sociedade que cada vez mais acentua as desigualdades e os fenómenos de dominação com base no acesso e uso da informação. Há os que sabem e os que fazem. A Educação Mínima é para os que fazem. Os que querem mais serão obrigados a escapar dessa prisão pintada com o dourado falso de “sucesso” mínimo.
O homem que sabe é o que compreende. Não sendo a única via para a Educação, não pode ser afastada como sendo de menor importância, aborrecida, arcaica, tradicional, conservadora. Pelo contrário, sem a compreensão, a “transformação” limita-se aos fenómenos concretos do mundo do trabalho pouco qualificado, mesmo que certificado. Sem a compreensão teórica, não existe a transformação mais perigosa para os poderes que estão, a que nasce da capacidade de pensar sobre a realidade e questionar os modelos apresentados como únicos.
(não me esqueci do homo ludens, mas amanhã também é dia…)